terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Congresso Internacional do Medo.


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu gostaria de entender porque o medo sempre vence. Não adianta. Porque no fundo a impressão que eu tenho é a de que a Thais teve medo de ser feliz, por mais paradoxal que essa idéia possa vir a ser. Não há outra explicação mais 'satisfatória' do que essa.

Paris...
.
.
.
...Texas.

É sempre o velho choque entre o que a gente sonha e a realidade que se apresenta a nossa frente.

E de repente, toda a euforia dela se tornou frieza, quase como uma maneira de se proteger do que sequer veio a acontecer. Invariavelmente a gente acaba traçando um perfil mental das pessoas com as quais a gente se relaciona. E durante esses últimos meses em especial eu tentei ao máximo entender a mecânica da Thais. Não para manipula-la ou qualquer coisa do gênero, mas para tentar mostrar para ela quem se esconde por trás de sua mente. E eu ficava intrigado com aquela personalidade complexa dela. Durante as minhas pesquisas eu cheguei a conclusão de que ela tem medo de se entregar, de se expor, de viver. Prefere o controle de uma situação que a desagrada do que vivenciar uma experiência na qual ela não tenha controle, domínio da situação. Prefere o conformismo do 'certo' - ainda que este certo não a satisfaça plenamente - do que a possibilidade do duvidoso - mesmo que esse duvidoso possa ser certo e de alguma maneira seja capaz de ajuda-la a se soltar um pouco mais de dentro de si mesma.

Se a Thais tem medo do amor é porque ela no fundo tem medo de ficar vulnerável, de perder o jogo de forças, de ficar por baixo. Por isso ela prefere não confiar, não arriscar, não tentar. E não tentando simplesmente ela deixa de conseguir. Os momentos de felicidade escapam entre os dedos. A potência não se torna ato. É triste você olhar para algo que está sendo desperdiçado. E, como eu mesmo já disse a Thais, esta é a sensação que eu tenho quando eu penso nela.

Bem ou mal meu ceticismo acaba me fazendo ter uma visão da vida muito mais hedonista da vida. E eu fico pensando com meus botões 'ainda que invariavelmente a gente venha a sofrer em algumas circunstâncias, de que vale se viver uma vida se não for perseguindo o que a gente deseja, o que a gente sonha'? Sim, eu estou sofrendo porque infelizmente não fui capaz de plantar na Thais a semente que ela plantou em mim, mas de qualquer maneira eu lutei até o último momento, com todas as minhas forças para tentar estar novamente ao lado dela. Ainda que isso não seja tão reconfortante quanto devesse ser, eu tenho consciência de que fiz a minha parte e de que o AMOR (em maiúsculas) é um empreendimento coletivo e não individual.

Diante disso tudo, eu gostaria apenas da sinceridade da Thais em me dizer o que ela sente por mim de verdade, sem nenhum medo ou pudor. Eu queria a verdade, sem subterfúgios, sem duplicidades, sem falar o que eu gostaria de ouvir. E gostaria também de entender o porquê dela ter me feito acreditar e ter esperanças de algo que ela não acreditava que pudesse dar certo. Não digo isso com o intuito de querer brigar com ela ou qualquer coisa do tipo, mas eu gostaria que ela respeitasse o único pedido que eu fiz a ela desde que a 'nossa relação - que nunca começou de fato - começou': não brincar com meus sentimentos. Ela não entendeu que não precisa mentir para mim ou agir de ma-fé (na concepção sartreana do termo):

Segundo Sartre, a má-fé é uma defesa contra a angústia e o desalento, mas uma defesa equivocada. Pela má-fé renunciamos à nossa própria liberdade, fazendo escolhas que nos afastam do projeto fundamental, atribuindo conformadamente estas escolhas a fatores externos, ao destino, a Deus, aos astros, a um plano sobre humano.

Má-fé, no existencialismo, não é mentir para outras pessoas, mas mentir para si mesmo e permitir-se fugir de sua própria auto-determinação.

Quando Sartre refere-se à má-fé, ele o faz no sentido de que a mesma compreende mentir para si próprio. Porém, o fato de não utilizá-la leva o indivíduo à angústia uma vez que ele não mente mais para si, tendo consciência de que tudo aquilo que lhe ocorrera em vida é atribuído às suas escolhas, somadas evidentemente às suas limitações naturais, sociológicas, econômicas, históricas e culturais. Assim, não há como responsabilizar o destino ou qualquer providência divina pelos acontecimentos de sua vida. Diria Sartre: "Estamos sós e sem desculpas".

Ao abandonar a má-fé, o homem passa a viver em angústia, pois ele deixa de se enganar. Esta passagem do estado de má-fé para a o de angústia é extremamente importante para que o sujeito possa encontrar sua liberdade no âmbito metafísico.

Bem ou mal, Thais, se eu escrevo essas mal traçadas linhas é porque eu não me conformo em te perder, como você me acusou algumas vezes. Só que infelizmente eu não sou capaz de agir por você. Engraçado como você foi capaz de me fazer admitir que eu estava apaixonado por você e até hoje eu não consigo entender porque você resolveu pular do barco e me deixar navegando sozinho com um gravador ligado com a sua voz, dando a impressão que você ainda estava comigo. Nada do que eu disse a você, independente do que aconteça daqui para frente foi mentira. Eu não modifico nenhuma virgula do que eu lhe falei. Ainda te amo apesar dos pesares. E é isso que mais me machuca.

'Avisa que é de se entregar o viver'.

Nenhum comentário: