quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O lado trágico. (3)

É o que não é.
Não é o que é.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O lado trágico. (2)

Se por um lado não existem sentimento sem a palavra, por outro, a palavra sempre transforma o caráter do sentimento.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O lado trágico.

A vida para manter-se deve destruir-se.

(Georg Simmel)

Aula.

Sou meu próprio líder: ando em círculos
Me equilibro entre dias e noites
Minha vida toda espera algo de mim
Meio-sorriso, meia-lua, toda tarde

Minha papoula da Índia
Minha flor da Tailândia
És o que tenho de suave
E me fazes tão mal

Ficou logo o que tinha ido embora
Estou só um pouco cansado
Não sei se isto termina logo
Meu joelho dói
E não há nada a fazer agora

Para que servem os anjos?
A felicidade mora aqui comigo
Até segunda ordem
Um outro agora vive minha vida
Sei o que ele sonha, pensa e sente
Não é coincidência a minha indiferença
Sou uma cópia do que faço
O que temos é o que nos resta
E estamos querendo demais

Minha papoula da Índia
Minha flor da Tailândia
És o que tenho de suave
E me fazes tão mal

Existe um descontrole, que corrompe e cresce
Pode até ser, mas estou pronto pra mais uma
O que é que desvirtua e ensina?
O que fizemos de nossas próprias vidas

O mecanismo da amizade,
A matemática dos amantes
Agora só artesanato:
O resto são escombros

Mas, é claro que não vamos lhe fazer mal
Nem é por isso que estamos aqui
Cada criança com seu próprio canivete
Cada líder com seu próprio 38

Minha papoula da Índia
Minha flor da Tailândia

Chega, vou mudar a minha vida
Deixa o copo encher até a borda
Que eu quero um dia de sol
Num copo d'água

(A Montanha Mágica, Legião Urbana)

sábado, 19 de setembro de 2009

Curriculum Lattes. (2)

Um tema para a tese de doutoramento em Coxismo na área de Procrastinação:

'O que seria da vida sem a procrastinação?'

Das grandes mazelas da humanidade...

Complexo de Clarice Lispector.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Curriculum Lattes.

1. Graduou-se bacharel em Coxismo pela Unicoxa recebendo uma importante menção desonrosa.

2. Atualmente está desenvolvendo sua dissertação de mestrado em Coxismo na área de Patética Aplicada, também pela Unicoxa, com o título “Ética?! Não, não... Patética”.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um réptil domesticado.

Amor e sexo têm em comum o fato de serem causas individuais, qualquer tentativa de compartilhar estas sensações com algum outro está condenada ao fracasso e só despertará em nós ira e mágoa.

***

Que coisa é uma água que não molha você, um sol que não tem ilumina e aquece você, um amor que não destrói você?

(Técnicas de Masturbação entre Batman e Robin, Efraim Medina-Reyes)

Lágrimas.

Quando você me falou que ia se alistar
Para lutar pelo bom,eu tava tonto num bar
E eu não pensei que você já falava mesmo em lutar.
Você pensando em morrer e eu pensando em transar.

Seja bom se esse é o seu dom.

Quando o navio partiu te levando pro mar
Eu quis chorar de emoção
Eu quis até te avisar
Que eu amei sua irmã no bando do meu passat.
Eu te desejo o melhor,proteja o povo de lá.

E seja bom se esse é o seu dom.

Siga sua missão de paz se esse é o seu dom.

(Missão de Paz na África, Violins)

Ciladas.

Basta pensar para não acontecer.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sobre a hipocrisia.

Uma lição reafirmada hoje por dois caminhos diferentes: o valor das pessoas se esconde nos pequenos gestos.

Da singeleza.

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

(Porquinho-da-Índia, Manuel Bandeira)

domingo, 13 de setembro de 2009

Contornos.

- Eu acho que tô com fixação por queixos.
- O queixo dela é enorme.
- É sim, mas compõe muito bem.
- E aqueles olhos grandes...
- Exatamente! Os olhos grandes.
- Aqueles olhos matam, cara.
- Parecem olhos de criança, sabe? Aqueles olhos que te engolem e aparentam saber mais do que deveriam.

Viva!

- Viva o absurdo!
- VIVA!
- Viva a apelação!
- VIVA!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Utilidade Pública.

Certamente um dos shows mais bonitos de 2009 será o lançamento do EP Tributo Ao Que Ainda Esté Por Vir do Quase Coadjuvante, banda do grande Jonathan! Não falo isso por conta de nossa amizade, mas pelo que importa de fato: música bem feita. A todos aqueles que frequentam o blog e por acaso residem em Belo Horizonte fica o convite de um programa com um altíssimo custo-benefício.

O espetáculo preparado minuciosamente pelo grupo vai ocorrer no Minueto (Rua Paulo Simoni 54, Savassi) e terá o preço de R$7.

Só não prometo que o show será melhor que o do Violins porque o Jonathan está ainda apenas no começo do caminho rumo a santificação - Beto Cupertino já transcendeu esta dimensão e tomou o altar do 'CARA'!

Pelo sim pelo não ainda dá tempo de ouvir o EP do ano pelo MySpace do conjunto. Toda Feita de Azul é a minha canção favorita (entendeu, Jonathan?).

http://www.myspace.com/quasecoadjuvante

Embora eu tenha há muito deixado de roer as unhas...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

As canções... (3)

Precisava arrumar algo pra fazer
Precisava só tentar
Nem sempre se tem que correr
Quem é que quer mudar?

Agora se algo sai errado
Você sempre tem em quem se escorar
Pra apontar por sei lá quem
Pra apanhar por voce

Quem é que vai desistir?

Quem não quer nem tentar
É quem acha que o problema esta fora
Então desisto, me demito
Quem errou foi você e você sabe disso

O dia ja vai raiar é melhor voce ir embora
Não insisto, desisto
Discutir pra que, quem esta disposto a isso?

(Desisto, Hurtmold)

***

A situação é a seguinte
Daqui pra frente só vai piorar
Quem é que vai ser o primeiro a correr?
Quem é que vai ficar?
Não é que eu não queira
É que a preguiça é sempre maior
Quem é que vai ser o primeiro a correr?
Por que você não tenta?
Já que você insiste em perguntar eu digo
O problema é que o ânimo acabou
Eu sempre insisto em ter quem culpar
Mas admito que fui eu quem desanimou
A culpa é dela
Dela tudo que restou a dizer
O que vamos fazer?
Aonde vai dar?
Quem é que vai correr?
Quem é que vai ficar?
Agora eu sei não fui eu quem desanimou.

(Mais uma vez desanimou, Hurtmold)

Obscenidades.

Respiro e persigo
uma luz de outras vidas.

E ainda que as janelas se fechem, meu pai
É certo que amanhece.

(Hilda Hilst)

***

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.

Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.

Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.

Porque assim é preciso
Para que tu vivas.

(Hilda Hilst)

Flores.

A coincidência não passa de uma saliência que se observa ao longo do caminho. O problema é que deixamos de lado o caminho, com seus prolongamentos, curvas e desníveis, e, pasmos, fixamos nossa atenção apenas na saliência. Só que o caminho continua enquanto a saliência permanece.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Shhhhhhhhhh!

Yo ho! The distant shore!
Yo ho! The distant shore!
Oceans never listen to us anyway,
Oceans never listen to us anyway.
And if I fall into the drink,
I will say your name, before I sink.

He says your name out loud;
At miniature rooms where no one’s found;
It’s a desperate sound.
Yo ho! The distant shore!
He stands his feet down
You hear his knuckles on your door.
He wants to send you drawings
Drawings of men with faithful hands
They will make such good boyfriends
He wants to tell you stories
Stories of boys who stomped their feet saying,
“Shut – shut up I am dreaming of places
Where lovers have wings.”

“I’ll meet you where the river forks;
When everyone else is dead
You’ll be safe on the water
We’ll be much younger, and we remember.
Yo ho! The distant shore!
I send my feet down—
Down do you hear knuckles
On your door. Do you understand
What I’m finding for? Oh,
Oceans never listen to us anyway.
Oceans never listen to us anyway.
And if I fall into the drink,
I will say your name, before I sink.
Oceans never listen to us anyway.

I’m afraid of the water;
I’m afraid of the sky.
I’m tired of waiting.
Oceans never listen to us anyway,
Oceans never listen to us anyway.
And if I fall into the drink,
I will say your name, before I sink.
Oceans never listen to us anyway.

So… don’t make a sound.

Don’t make a sound.

(Shut Up I Am Dreaming Of Places Where Lovers Have Wings, Sunset Rubdown)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Filhadaputagem.

Você é bacharel em cometer todos os insultos
E as minhas vontades nunca vêm ao caso
Pois eu te odeio por ter um filho que nunca quis
E suo pra manter sem me sobrar sequer um centavo

Sorrindo
Vida sem rumo

Na geladeira um imã alegre me distrai o sono
E eu já passei noites longas te velando em claro
Ninguém te cobra o preço caro de me afundar em juros
E a porta aberta me desperta a culpa e eu não saio
Eu não saio

E o tempo passa
A gente aprende muito rápido a não se importar
O tempo passa
Seus filhos crescem e você aprende a compartilhar
Cada passo
A mulher gorda e descuidada que está ao seu lado
Não é mais aquela que causou inveja em todo mundo um dia
E o tempo passa
A sua própria liberdade não te diz mais nada
E o tempo passa... O tempo passa...
O tempo passa...

A vida não passa de um hábito de acordar.

Dia da independência.

Ok, ok: agora eu já posso morrer tranquilo!

Versos soltos.

Porque antes de você ainda existia vida.

A gente pode contar sempre as mesmas histórias, mas elas sempre têm a sua graça.

O essencial é sempre o mais difícil de ser dito.

Tenham cuidado.

Luiz Gonzaga.
22 de dezembro de 2012.

O aviso está dado.

Il Maledito.

1. Do Tempo
2. Atriz
3. Anti-Herói Pt. 1
4. Grupo de Extermínio de Aberrações
5. Manicômio
6. Festa Universal da Queda
7. Entre o Céu e o Inferno
8. Sinal de Trânsito
9. Hans
10. Dois Desertos
11. Missão de Paz na África
12. Manobrista de Homens

Bis:

13. Modus Operandi
14. Corpo e Só

domingo, 6 de setembro de 2009

La vie en rose.

Toda justificativa é criada para justificar o injustificável.

Dois versos.

Ninguém vale o outro
Mas a culpa é igual

(SOS, Violins)

sábado, 5 de setembro de 2009

Garimpando. (1)

Eu quis mudar pra você ver que nem sempre é tão difícil a gente perceber.
Se estou melhor, quem vai saber? Se o que eu fiz foi pra agradar você.
Mesmo que isso custe o nosso tempo.

Olha meu novo sapato! Estou de fato, tentando me adequar ao seu modelo, ao seu cabelo.
E o que eu fiz foi pra estar... Você...
Mesmo que isso custe o nosso tempo.

(Melhor, Wado)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

'Uma Estrofe' ou 'Da Liquidez'.

Distúrbios, alterações
Viagens sempre sem noção da vontade
Eu quero ficar só
Estar contigo é ser metade

(Divertido e Veloz, Rockz)

Para constar. (2)

Estou a cada dia mais convencido que o auto-engano é uma (nobre) forma de arte. A gente cria cada justificativa criativa de tão absurda apenas para não enxergar a obviedade do que está diante dos nossos olhos! Certamente esta nossa magnifica capacidade de criar ilusões opacas - um plenoasmo, evidentemente, mas necessário nesse caso - merecia uma categoria especial do prêmio Nobel.

Polaroid.

Click: Já nem sabia mais - ou talvez jamais soube até então - o quão gostoso é conseguir se sentir bem por conta de coisa alguma.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

(2006-2009)

O olhar exterior sempre tem um tipo de alcance que o olhar interior jamais é capaz de fornecer. Porém a estupidez sempre prevalece!

Não adianta falar com quem não se dispõe a escutar. Fiz o que estava ao meu alcance. É uma pena, mas estou cansado. Tudo tem limite.

Eu infelizmente não quero ser testemunha ocular de nenhuma tragédia.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Para constar.

Existem coisas.

As canções... (2)

Você se parece com meus pais
Pronta pra partir meu crânio em dois
E pronta também pra me ensinar
Que proibir é incentivar

O proibido parece ser bem mais

Do que é permitido aqui
Nós dois não vamos chegar a um lugar
Em que a vida é um grande lar

Dance com seu par

Não se importe se é ruim

(Elvis Presley, Violins)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Aula de Coxismo. (2)

Tratou de aturdir-se com o trabalho durante aquela semana interminável, lendo, caminhando, indo ao cinema. Procurava Bruno e, embora desejasse falar-lhe dela, era incapaz até mesmo de pronunciar seu nome; e como Bruno pressentia o que se passava em seu espírito, também recusava o tema e falava de outras coisas ou de assuntos genéricos. Momentos em que Martin se animava a dizer algo que também parecia ter um sentido genérico, pertencente a esse mundo abstrato e descarnado das idéias puras, mas que em realidade era a expressão apenas despersonalizada de suas angústias e esperanças. E assim, quando Bruno lhe falava do absoluto, Martin perguntava, por exemplo, se o amor verdadeiro não era precisamente um desses absolutos; pergunta na qual a palavra "amor", no entanto, tinha tanto a ver com a empregada por Kant ou Hegel como a palavra "catástrofe" com um descarrilamento ou um terremoto, com seus mutilados e mortos, com seus gemidos e sangue. Bruno respondia que, no seu entender, a qualidade do amor que existe entre dois seres que se querem muda de um instante para outro, tornando-se de repente sublime, descendo logo até a trivialidade, convertendo-se mais tarde em algo afetuoso e cômodo, para repentinamente converter-se em um ódio trágico ou destrutivo.

- Porque há vezes em que os amantes não se querem, ou em que um deles não quer ao outro, ou o odeia, ou o menospreza.

Enquanto pensava naquela frase que uma vez lhe havia dito Jeannete: "L'amour c'es t une personne qui souffre et une autre qui s'emmerde”[1]. E lembrava, observador de infelizes que era, aquele casal um dia na penumbra de um café, em um canto solitário, o homem macerado, sem se barbear, sofrendo, lendo, relendo pela centésima vez uma carta certamente dela -, recriminando, pondo o absurdo papel de testemunha de sabe lá que compromissos ou promessas; enquanto ela, nos momentos em que ele se concentrava encarniçadamente em alguma frase da carta, olhava o relógio e bocejava.

E como Martin lhe perguntou se entre dois seres que se querem tudo não deve ser nítido, tudo transparente e edificado sobre a verdade, Bruno respondeu que quase nunca se pode dizer a verdade quando se trata de seres humanos, pois só serve para produzir dor, tristeza e destruição. Acrescentando que sempre havia alentado o projeto ("mas eu não sou nada mais que isto: um homem de puros projetos", acrescentou sorrindo com tímido sarcasmo), havia alentado o projeto de escrever um romance ou uma obra de teatro sobre isso: a história de um rapaz que se propõe a dizer sempre a verdade, sempre, custe o que custar. Desde logo semeia a destruição, o horror e a morte à sua passagem. Até terminar com sua própria destruição, com sua própria morte.

- Então é preciso mentir - aduziu Martin com amargura.
- Digo que nem sempre se pode dizer a verdade. A rigor, quase nunca.
- Mentiras por omissão?
- Algo assim - replicou Bruno, observando-o de lado, temeroso de feri-lo.
- Quer dizer que não acredita na verdade?
- Creio que a verdade fica bem na matemática, na química, na filosofia. Não na vida. Na vida é mais importante a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança. Ademais, sabemos por acaso o que é a verdade? Se eu digo que aquele pedaço de janela é azul, digo uma verdade. Mas é uma verdade parcial, e portanto uma espécie de mentira. Porque esse pedaço de janela não está só, está em uma casa, em uma cidade, em uma paisagem. Está rodeado do gris desse muro de cimento, do azul-claro deste céu, daquelas nuvens alongadas, de infinitas coisas mais. E se não digo tudo, absolutamente tudo, estou mentindo. Mas dizer tudo é impossível, mesmo neste caso da janela, de um simples pedaço da realidade física. A realidade é infinita e além disso infinitamente matizada, e se me esqueço de um só matiz já estou mentindo. Agora, imagine o que é a realidade dos seres humanos, com suas complicações e rodeios, contradições e demais nuances. Pois muda a todo instante que passa, e o que éramos há um momento não o somos mais. Somos, por acaso, a mesma pessoa? Temos, por acaso, os mesmos sentimentos? Pode-se gostar de alguém e de repente desgostar e até mesmo detestá-lo. E se quando desgostamos dele cometemos o erro de dizer-lhe isso, será uma verdade, mas uma verdade momentânea, que não mais será verdade dentro de uma hora ou no outro dia, ou em outras circunstâncias. E por outro lado o ser a quem queremos dizer isso acreditará que essa é a verdade, a verdade para sempre e desde sempre. E se afundará no desespero.

[1] "O amor é uma pessoa que sofre e outra que se entedia."

(Sobre Heróis e Tumbas, Ernesto Sábato)

Aula de Coxismo.

Mas continha-se a tempo, porque sabia que fazê-lo era pesar um pouco mais sobre sua vida e (pensava), portanto, afastá-la ainda mais: da mesma forma que o náufrago desesperado pela sede sobre seu bote deve resistir à tentação de tomar água salgada, porque sabe que isso unicamente lhe dará uma sede ainda mais insaciável. Não, claro que não a chamaria. Talvez o que ocorresse era que já havia cortado demasiadamente sua liberdade, havia pesado excessivamente sobre ela; porque ele se havia lançado, se havia precipitado sobre Alejandra, impelido por sua solidão. E talvez se lhe concedesse toda a liberdade fosse possível que voltassem os primeiros tempos.

Mas uma convicção mais profunda, embora tácita, inclinava-o a pensar que o tempo dos seres humanos não volta jamais atrás, que nada volta a ser o que era antes e que quando os sentimentos se deterioram ou se transformam não há milagre que os possa restaurar em sua qualidade inicial: como uma bandeira que vai se sujando e gastando (como dissera Bruno). Mas sua esperança lutava, pois, como pensava Bruno, a esperança não deixa de lutar embora a luta esteja condenada ao fracasso, já que, precisamente, a esperança só surge em meio ao infortúnio e em razão dele. Por acaso poderia alguém depois dar a ela o que ele já lhe dera? Sua ternura, sua compreensão, seu limitado amor? Mas em seguida a palavra "depois" aumentava sua tristeza, porque fazia-o imaginar um futuro em que ela não mais estaria a seu lado, um futuro em que um outro, outro! Lhe diria palavras semelhantes às que ele lhe havia dito e que ela havia escutado com olhos fervorosos em momentos que já lhe pareciam inverossímeis; olhos e momentos que ele havia julgado que seriam eternamente para ele, que permaneceriam para sempre em sua absoluta e comovedora perfeição, como a beleza de uma estátua. E ela e esse Outro cujo rosto não podia imaginar andariam juntos pelas mesmas ruas e lugares que havia percorrido com Martin; enquanto ele já não existiria para Alejandra, ou seria apenas uma lembrança decrescente de pena e ternura, ou talvez de fastídio ou comicidade. E logo se empenhava em imaginá-la em momentos de paixão, pronunciando as palavras secretas que se dizem nesses momentos, quando o mundo inteiro e também e sobretudo ele, Martin, ficam horrorosamente excluídos, fora do quarto em que estão seus corpos desnudos e seus gemidos; então Martin corria a um telefone, dizendo-se que afinal bastava discar seis números para ouvir sua voz. Mas mesmo antes de completar a ligação já a interrompia, pois tinha a suficiente experiência para compreender que se pode estar ao lado de outro ser, ouvi-lo e tocá-lo, e não obstante estar dele separado por muralhas intransponíveis; assim como, uma vez mortos, nossos espíritos podem estar próximos daquele que um dia quisemos e, no entanto, separados angustiosamente pela muralha invisível mas intransponível que para sempre impede aos mortos ter comunhão com o mundo dos vivos.

(Sobre Heróis e Tumbas, Ernesto Sábato)

Saída de emergência.

- Oras, você é muito 'x'! - Diz enfáticamente.
- Sim, sou 'x' mesmo, eu sei. Mas, ué, você também é! - responde calmamente.
- É... Mas... Uhn... Ahn... Mas você é MUITO MAIS 'x'! - puxa a cordinha, nervosamente.

Moral da história: A merda do vizinho é sempre MUITO MAIS fedida que a nossa - ainda MAIS se o vizinho em questão for esse que vos fala.