quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Catastrofômetro.

Plim.



Plim - Plim.



Plim - Plim - Plim - Plim - Plim - Plim - Plim - Plim - Plim - Plim.

Era uma vez uma década...

We used to dream
Now we worry about dying.

(Young Hearts Spark Fire, Japandroids)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Zumbido.

Aprendi o que era certo com a pessoa errada.

Os teus pés...

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Filosofia dos Ovos. (2)

Durante toda a nossa vida enfrentamos decisões penosas, escolhas morais. Algumas delas têm grande peso. A maioria não tem tanto valor assim. Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fizemos. Na verdade, somos feitos da soma total de nossas escolhas. Tudo se dá de maneira tão imprevisível, tão injusta, que a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação. Somos nós, com nossa capacidade de amar que atribuímos um sentido a um universo indiferente. Assim mesmo, a maioria dos seres humanos parece ter habilidade de continuar lutando até encontrar prazer nas coisas simples como seu trabalho, sua família e na esperança de que as gerações futuras alcancem uma maior compreensão.

(Crimes e Pecados, Woody Allen)

Das Revoluções...

Só é realmente revolucionário o estado pré-revolucionário, aquele em que os espíritos se consagram ao duplo culto do futuro e destruição. Enquanto uma revolução é apenas uma possibilidade, ela transcende os dados e as constantes da história, ultrapassa por assim dizer o seu espaço. Mas a partir do momento em que se instaura, retorna e se conforma a ele, prolongando o passado, segue sua rotina. Não há anarquista que não esconda, no mais fundo de suas revoltas, um reacionário que espera a sua hora, a hora da tomada do poder.

(Exercícios de Admiração, Emil Cioran)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ciorando (12).

Recorda-se de haver nascido em algum lugar, de haver acreditado nos erros natais, proposto princípios e defendido tolices inflamadas. Envergonha-se... e obstina-se em abjurar seu passado, suas pátrias reais ou sonhadas, as verdades surgidas de sua medula. Só encontrará paz depois de haver aniquilado nele o último reflexo de cidadão e os entusiasmos herdados. Como poderiam acorrentá-lo ainda os costumes do coração, quando quer emancipar-se das genealogias e quando o ideal mesmo do sábio antigo, desprezador de todas as cidades, parece-lhe um compromisso? Quem não pode mais tomar partido, porque todos os homens têm e não têm necessariamente razão, porque tudo está justificado e é insensato ao mesmo tempo, esse deve renunciar a seu próprio nome, pisotear sua identidade e recomeçar uma nova vida na impassibilidade ou na desesperança. Ou, senão, inventar um outro tipo de solidão, expatriar-se no vazio e seguir – ao azar dos exílios – as etapas do desenraizamento. Livre de todos os preconceitos, torna-se o homem inutilizável por excelência, ao qual ninguém recorre e que ninguém tema, porque admite e repudia tudo com o mesmo desapego. Menos perigoso que um inseto distraído, é contudo um flagelo para a Vida, pois ela desapareceu de seu vocabulário, junto com os sete dias da Criação. A e a Vida o perdoaria se ao menos tomasse gosto pelo caos em que ela começou. Mas ele renega as origens febris, começando pela sua, conservando do mundo apenas uma memória fria e um pesar cortês.

(De abjuração em abjuração, sua existência diminui: mais vago e mais irreal que um silogismo de suspiros, como será ainda um ser de carne e osso? Exangue, rivaliza com a Idéia; abstraiu-se de seus antepassados, de seus amigos, de todas as almas e de si mesmo; em suas veias, outrora turbulentas, repousa uma luz de outro mundo. Emancipado do que viveu, desinteressado do que viverá, demore os marcos divisórios de todas as suas estradas, e subtrai-se às referências de todos os tempos. “Nunca voltarei a encontra-me comigo”, se diz, feliz de dirigir seu último ódio contra si mesmo, mais feliz ainda ao aniquilar – com seu perdão os seres e as coisas.)

(Breviário de Decomposição, Emil Cioran)

Os Domingos da Vida...

Se as tardes de domingo fossem prolongadas durante meses, o que seria da humanidade, emancipada do suor, livre do peso da primeira maldição? A experiência valeria a pena. É mais do que provável que o crime se tornasse a única diversão, que a devassidão parecesse candura, o uivo melodia e o escárnio ternura. A sensação da imensidade do tempo faria de cada segundo um intolerável suplício, um pelotão de execução capital. Nos corações mais imbuídos de poesia se instalariam um canibalismo estragado e uma tristeza de hiena; os patíbulos e os carrascos extinguiriam-se de langor; as igrejas e os bordéis explodiriam de suspiros. O universo transformado em tarde de domingo... é a definição do tédio - e o fim do universo... Retire a maldição suspensa sobre a História e esta desaparece imediatamente, assim como a existência, na vacância absoluta, revela sua ficção. O trabalho construído do nada forja e consolida os mitos; embriaguez elementar, excita e cultiva a crença na "realidade"; mas a contemplação da pura existência, contemplação independente de gestos e de objetos, só assimila o que não é...

Os desocupados captam mais coisas e são mais profundos que os atarefados: nenhuma empresa limita seu horizonte; nascidos em um eterno domingo, olham e se olham olhar. A preguiça é um ceticismo fisiológico, a dúvida da carne. Em um mundo tomado pela ociosidade, seriam os únicos a não se tornar assassinos. Mas não fazem parte da humanidade e, como o suor não é o seu forte, vivem sem sofrer as conseqüências da Vida e do Pecado. Não fazendo o bem nem o mal, desdenham - espectadores da epilepsia humana - as semanas do tempo, os esforços que asfixiam a consciência. O que deveriam temer de uma prolongação ilimitada de certas tardes, senão o pesar de haver sustentado evidências grosseiramente elementares? Nesse caso, a exasperação no verdadeiro poderia induzi-los a imitar os outros e a comprazer-se na tentação aviltante das tarefas. Tal é o perigo que ameaça a preguiça - milagrosa sobrevivência do paraíso.

(A única função do amor é nos ajudar a suportar as tardes dominicais, cruéis e incomensuráveis, que nos ferem para o resto da semana - e para a eternidade.

Sem a sedução do espasmo ancestral, precisaríamos de mil olhos para prantos ocultos ou, senão, unhas para roer, unhas quilométricas... Como matar de outra maneira este tempo que já não flui? Nestes domingos intermináveis, a dor de ser manifesta-se plenamente. Às vezes conseguimos nos esquecer em alguma coisa; mas como nos esquecermos no próprio mundo? Esta impossibilidade é a definição da dor. Aquele que é atingido por ela não se curará nunca, mesmo que o universo mudasse completamente. Só seu coração deveria mudar, mas é imutável; também para ele, existir só tem um sentido: mergulhar no sofrimento - até que o exercício de uma cotidiana nirvanização eleve-o à percepção da irrealidade...)

(Breviário de Decomposição, Emil Cioran)

O Apocalipse Segundo Cioran.

- Como pode ajudar um trabalho que pede a futilidade, a falta de sentido?
- Ajuda porque formula coisas que os outros sentem. Dá-lhes consciência para se encontrarem.
- Para consertar o desespero, não é esse um caminho para fazer as coisas trabalharem de modo mais coerente?
- Tudo que é formulado se torna mais tolerável. Você entende? A expressão, esse é o remédio. Qual é o definitivo propósito de confessar a um padre que você fez isso ou aquilo? O crente busca com isso liberar-se. Tudo o que é formulado tem sua intensidade diminuida. Isso é terapeutico e o propósito da terapia. De fato, as depressões que tive em minha vida poderiam ter me levado à loucura ou ao fracasso total. O fato de que eu as formulei teve uma eficiência extraordinária. Se eu nunca tivesse escrito, estou plenamente convencido de que tudo teria acabado mal. Eu escrevi cinco livros em romeno e oito ou nove em francês.
- E agora?
- Parei de escrever porque algo mudou em mim. É uma diminuição em relação a um sentimento - a intensidade de uma emoção. E eu comecei a observar uma espécie de fadiga em mim mesmo, um nojo da expressão. Eu parei de acreditar nas palavras. Sem falar no espetáculo literário em Paris, onde todos escrevem de manhã até à noite sem parar. Eu neguei - como fiz minha vida inteira -, eu neguei, mas essa negatividade militante já não mais me interessa. Como se meu aspecto guerreiro servisse a negação como um meio para a libertação. Foi a partir disso que parei de me importar. Não preciso mais disso. É um simples fenômeno; para falar a verdade, fadiga.
- Essa fadiga não traz consigo algum tipo de reconciliação?
- Não, não, mas diminui. Eu tive por toda a minha vida esta extraordinária aspiração de ser o mais lúcido homem que já conheci. Uma forma de megalomania. É verdade que durante toda a minha vida tive o sentimento de que todos viviam em ilusão - exceto eu. E de fato, tive essa profunda convicção. Embora não seja uma forma de desdém. O sentimento de que eu tinha de que tudo está errado, de que todos são ingênuos, me fez dar a mim mesmo a chance de não estar errado. É como não participar de nada e apenas encenar em uma espécie de comédia para outros sem participar dessa comédia.
- Portanto, no fim você estava certo...
- Absolutamente.

Subsolo,

Trecho 1

O homem – seja ele quem for – sempre em toda parte gostou de agir a seu bel prazer e nunca segundo lhe ordenaram a razão e o interesse; pode-se desejar ir contra a própria vantagem e, às vezes, decididamente se deve (isto já é uma idéia minha). Uma vontade que seja nossa, livre, um capricho nosso, ainda que dos mais absurdos, nossa própria imaginação, mesmo quando excitada até a loucura – tudo isto constitui aquela vantagem das vantagens que deixei de citar, que não se enquadra em nenhuma classificação, e devido à qual todos os sistemas e teorias se desmancham continuamente, com todos os diabos!

Trecho 2

Pensai no seguinte: a razão, meus senhores, é coisa boa, não há dúvida, mas a razão é só razão e satisfaz apenas a capacidade racional do homem, enquanto o ato de querer constitui a manifestação de toda a vida, isto é, de toda a vida humana, com a razão e com todo o coçar-se. E embora a nossa vida nessa manifestação resulte muitas vezes ignóbil, é sempre a vida e não apenas a extração de uma raiz quadrada.

(Memórias do Subsolo, Dostoiévski)

***

- A sua razão excessiva acabou por te tornar irracional.

Das constatações. (6)

Não importa para onde vamos ou o que façamos, estamos sempre em fuga.

Das constatações. (5)

- O amor é um estado de intimidade tal que permite sermos ridículos sem nos importarmos nem um pouco com isso.

Das constatações. (4)

- Bem ou mal o alvo final é sempre o corpo. Quando sentimos que o outro gosta não apenas das nossas idéias mas também - e principalmente - do nosso corpo finalmente percebemos que ele nos aceita como realmente somos.

Das constatações. (3)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

(Álvaro de Campos)

Das constatações. (2)

Neste insignificante negócio só fiz comprovar mais uma vez, meu caro, que os mal-entendidos e a indolência talvez causem mais engans no mundo do que a esperteza e maldade. De qualquer modo as duas últimas são, por certo, mais raras.

(Os Sofrimentos do Jovem Werther, Goethe)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Das constatações.

É estranho sentir o coração sair para fora do peito.

Da sensualidade.

- A parte mais sensual de uma mulher? A boca. Principalmente quando ela se mantem fechada.

O erro da década.

E pensar que o erro da década foi um acerto...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cofre.

Demora, mas chega um dia em que se aprende a impossibilidade de dizer a outrem tudo o quanto se deseja. Não apenas pela razão mais evidente, pelos estragos que a sinceridade pode causar, mas porque, e em alguns casos principalmente, não há como se dizer tudo. Eu gostaria que fosse diferente, mas reconheço que é preciso tempo, tempo para que o passado se transforme em nostalgia e os embaraços, aquelas risadas confortáveis. Aí sim poderemos marcar o suco ou, se você preferir, o luau na Praça do Papa. Não que tenha sido ruim, muito pelo contrário: é apenas recente demais e o calor dos acontecimentos sempre interfere demais na avaliação. E eu simplesmente não desejo que isso aconteça. Em todo caso, até segunda ordem, guardo no cofre algumas das coisas que me passaram pela cabeça. Nada muito profundo, nada de suma urgência, embora necessário. E o que está em jogo nos momentos mais marcantes da vida é justamente a necessidade.

No dia em que estivermos na prometida mesa de bar, a primeira coisa que eu vou lhe dizer é o quanto a sua voz me transmitia uma certeza que poucas vezes eu tive na vida. Só de ouvir, acreditei. Não era apenas sensual e melodiosa, mas, sobretudo, havia uma candura tão longínqua que não me permitia desistir de tudo, na cena do crime. Sempre quando olhamos para trás e reconstruímos nossos passos, parece haver algo de premonitório, de fatalista: as minhas mãos tão covardes me traíram e enquanto eu me concentrava em pensar nas improbabilidades, discaram o seu número. Quando dei por mim, estava chamando já; e de chamar, a sua voz surgiu. Como eu disse, não era qualquer voz. E de pensar que até pouco tempo atrás, as vozes sequer atraiam a minha atenção. E, no entanto, desta vez ela simplesmente me dragou, abarcou completamente a minha impotência.

Eis que então, você chega. Não assim bruscamente. Sim, você nunca havia me visto e no entanto acertou talvez a característica que seja mais cara a mim: o meu senso de observação. Eu deveria te confessar, portanto, em algum momento, da apreensão da qual sou tomado nos “momentos-quase”. Aquele tempo entre você entrar no elevador e chegar até a minha casa, aquele pequeno intervalo... É um turbilhão de imagens que atravessa e reconstrói a própria noção de duração que me constitui. E de repente, eis você, em carne, osso e voz. Carne, osso e voz. “A gente precisa dar uns chutes de vez em quando”, eu disse, você lembra?,
porque periga de fazer gol. A metáfora é chula, eu sei, por mais pertinente e sugestiva até para a ocasião. Mas, para alguém que está acostumado a pegar, numa banca repleta de maçãs, o único exemplar podre da seara, poxa... Entendeu? Porque é isso, você era para ser mais uma daquelas maçãs podres. E talvez, provavelmente, o seja. É isso. Aparentemente nada de diferente. Mas quando eu dei a primeira dentada, eu vi que o podre tinha gosto doce, era macio. De repente as concepções se modificam. E exatamente tudo o que eu precisava era de uma maçã podre como você. Afinal, não existe aquele ditado “de onde menos se espera é que não vem nada mesmo”? Nem que eu esperasse o máximo eu seria capaz de imaginar você. E são essas situações as que no fundo eu mais espero que aconteçam na minha vida.

Não estou falando – e eu já me pego em um dos meus inúmeros diálogos imaginários – especificamente da carne. É estranho quando de repente a finalidade é subvertida: o fim se torna princípio. No podredume havia algo de fundamental, algo inimaginável. Quem diria, compreensão, você, companheira infiel, estava ali, bem na minha frente. Corta, flashback. Corta, retorna ao presente. Sem mais nem menos, bem na minha frente havia muito mais do que eu procurava. Porque não era apenas o corpo dos meus sonhos, não apenas os pés pequenos e o sorriso no rosto. Seria suficiente, mas não o bastante. Mais do que isso: carinho. Quem diria, não é mesmo? Carinho, uma coisa tão elementar. Um verdadeiro carinho de alguém que sequer tinha qualquer tipo de obrigação de fornecê-lo. E como num passe de mágica tudo muda de figura. Calma. Isso. Assim. Simples. Sim, Cioran, mais uma vez tens a razão: mais do que uma lição, há humanidade. E como se pode agradecer humanidade? Isso eu queria muito te dizer em alguma oportunidade. E dizer, quem sabe, do gosto, do suor, da transpiração. Mas principalmente do dia seguinte. Não das dores, do corpo todo quebrado. Na verdade, no dia do suco, se ele vier – e ele há de vir – eu queria te dizer que eu passei o dia todo como se eu tivesse fumado maconha. De repente eu ria e suspirava. E pasme: não era pela coisa em si. Não. Era pelo si da coisa. Pelo contexto, pela aventura e simplesmente por você. Pelo ritual, por toda a apreensão do momento-quase até o quase-momento do fim. Aí eu olho para o meu calendário portátil e constato: desde setembro de 2007 eu não agia dessa maneira, não ria, gargalhava sem propósito, pateticamente, assim como faço agora que registro, que coloco tudo dentro desse cofre.

É, eu queria muito te dizer isso tudo algum dia. Dizer que sem se dar conta você modificou uma vida. Talvez este dia não chegue e no fim das contas o mais importante a ser dito sempre fica estendido debaixo do tapete. Mas dentro deste cofre, lacrado a sete chaves, fica guardado um agradecimento e um bocado de vida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A música do ano.

A Festa.

Então toma cuidado com as lutas
Se você resolver se entreter
Há câmeras em todo canto aqui
O problema não é nem a multa
O problema é que é bom se sentir
Como se o tempo parasse de agir
Sobre os corpos.

Nós só viemos pra nos divertir
Deus, eu quis ser fiel a você!
Mas eu tenho tantos corações
Eu tenho tantos corações
Nós não ficaremos presos aqui
Sob a chuva eu quis divulgar
Vocês têm tantos corações
Vocês têm altos corações

Tantos sentidos me enlaçam
Quando eu sinto te perder
Eu me encontro e há outro dia em outras mãos
Quantos clichês que te falam
Que você só deve ter quem te torne mais feliz

Conta que eu amo as putas
Conta o quanto eu te quis
Quando você me quebrou o nariz

Nós só viemos pra nos divertir
Sob a chuva eu quis divulgar
Vocês têm tantos corações
Vocês têm altos corações

(Ensaio Sobre Poligamia, Violins)

Arroubo.

Tem momentos da vida em que eu só consigo pensar no quanto os eventos poderiam ter sido completamente diferentes, na quantidade de desentendimentos bestas e contornáveis de maneira simples e nas coisas bonitas que deveriam acontecer. Por outro lado, há circunstâncias em que fica a impressão de que no fim das contas tudo está no seu devido lugar: se houve o que houve é exatamente porque deveria ser assim. Provavelmente as duas sensações estejam equivocadas. Mesmo assim, algo ainda me faz acreditar ter conhecido as pessoas certas nesta vida - inclusive as erradas.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Certificado.

A UNICOXA vem mui respeitosamente parabenizar o aluno Guilherme Antônio Carneiro de Sant'Ana pela finalização de seu curso.

Bem vindo a este seleto grupo de pessoas, mais novo graduado do curso “Vida e Engano – Uma abordagem pragmática.

Agora você não é mais um teórico do assunto. Você é também um prático.

Parabéns!

Roberto Rosa de Santana,
Diretor Pedagógico da UNICOXA

Dos sabores.

Não foram os movimentos espalhafatosos o que mais marcou a cena senão o cheiro e, sobretudo, o gosto do suor exalado.

Das considerações.

O mundo seria muito melhor se houvesse mais gente como Woody Allen. Falei.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A profissão dos sonhos.

Pensando em ganhar dinheiro mas não sabe exatamente qual a profissão ideal? Eu tenho a solução: seja um Deus você também! Afinal de contas, haja gente desamparada nesse mundo procurando algum vestígio de salvação e orientação. E o melhor de tudo: escolher pelos outros é sempre muito mais fácil e cômodo que para si mesmo.

Do Papelão.

A cara de pau não tem limites.
Muito menos a bipolaridade.

E os urubus só pensam em te comer...

PS: Viva a hipocrisia dos entendidos! Tá na hora de crescer, não? Por favor, procure outro esgoto para depositar as suas fezes. Pronto, finalmente toma o que você tanto queria e caia fora!


***

Eu quis você
E me perdi
Você não viu
E eu não senti
Não acredito nem vou julgar
Você sorriu, ficou e quis me provocar
Quis dar uma volta em todo o mundo
Mas não é bem assim que as coisas são
Seu interesse é só traição

E mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais

Tua indecência não serve mais
Tão decadente e tanto faz
Quais são as regras? O que ficou?
O seu cinismo essa sedução
Volta pro esgoto baby
Vê se alguém lhe quer
O que ficou é esse modelito da estação passada
Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás

Porque mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Volta pro esgoto baby
e vê se alguém lhe quer

(As Flores do Mal, Legião Urbana)

23:24

Depois do orgasmo a fumaça tenta, em vão, entorpecer.
Pra onde quer que o trem vá tu não te moves de você.

Nem o cinismo satisfaz o que nasceu pra perecer.
A ressonância faz da ponte um pastiche de papel.

As vidas secas no varal não têm mais cheiro de jasmim.
Mas o asseio em limpar conserva as manchas no lugar.

Não adianta explicar quando não se quer entender.
A ânsia de negar o pão só alimenta o mesmo.

Atravessar as plantações é atrofiar o coração:
O obsceno despertar pelo defeito pleno.
Porque ninguém salva o dia e a areia escorre.
Mas às vezes o amor nos faz trair a solidão e rir depois do triz.

Olha o que eu fiz!
Palmas pra mim!
A sua cena já não me comove mais.

Cospe aqui!
Diz que eu menti!
Você procura por alguém que seja a latrina do seu coração.
Um Deus a quem culpar pra se eximir.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Ciorando (11).

Consideremos o amor: há expansão mais nobre, arrebatamento menos suspeito? Seus estremecimentos competem com a música, rivalizam com as lágrimas da solidão e do êxtase: é o sublime, mas um sublime inseparável das vias urinárias: transportes vizinhos à excreção, céu das glândulas, santidade súbita dos orifícios... Basta um momento de atenção para que essa embriaguez, abalada, nos lance nas imundícies da fisiologia ou um instante de fadiga para constatar que tanto ardor só produz uma variedade de ranho. O estado de vigília altera o sabor dos nossos arroubos e transforma quem os sofre em um visionário pisoteando pretextos inefáveis. Não se pode amar e conhecer ao mesmo tempo sem que o amor padeça e expire sob o olhar do espírito. Investigue suas admirações, perscrute os beneficiários de seu culto e os que se aproveitam de seus abandonos: sob seus pensamentos mais desinteressados descobrirá o amor-próprio, o aguilhão da glória, a sede de domínio e de poder. Todos os pensadores são fracassados da ação que se vingam de seu fracasso por meio de conceitos. Nascidos aquém dos atos, os exaltam ou os menosprezam conforme aspirem ao reconhecimento dos homens ou à outra forma de glória: seu ódio; elevam indevidamente suas próprias deficiências, suas próprias misérias à categoria de leis, sua futilidade ao nível de princípios.

O pensamento é uma mentira como o amor e a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões, odores; e no final das contas a escolha está entre o que mente e o que fede.

(Breviário de Decomposição, Emil Cioran)

***

Que ninguém tente viver sem haver feito sua aprendizagem de vítima.

(Silogismos da Amargura, Emil Cioran)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Da auto-violência.

Às vezes o preço pode ser alto demais.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Herança.

A febre...

Please, please, please.

Good times for a change
see, the luck I've had
can make a good man
turn bad

So please please please
let me, let me, let me
let me get what I want
this time

Haven't had a dream in a long time
see, the life I've had
can make a good man bad

So for once in my life
let me get what I want
Lord knows it would be the first time
Lord knows it would be the first time

(Please Please Please Let Me Get What I want, The Smiths)

A Filosofia dos Ovos.

- E me lembrei da velha piada do cara que vai ao psiquiátra e diz: "Doutor, o meu irmão é maluco. Acha que é uma galinha" e o médico pergunta "por que é que não o traz de volta a si?". E ele responde: "até faria, mas preciso dos ovos". É mais ou menos o que sinto sobre as relações entre as pessoas. São totalmente irracionais, loucas e absurdas mas nós vamos aguentando porque precisamos dos ovos.

(Alvy Singer, Noivo Nervoso, Noiva Neurótica)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Conclusão.

Não era amor senão desespero.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Uma resenha.

Caro Tom,

Você é idiota. Encontrou o que acreditava ser a garota dos seus sonhos e imaginou que tudo seguiria como naquela cartilha:

Garoto encontra garota.
Garoto se apaixona por garota.
Garota se apaixona por garoto.
Os dois se separam.
E voltam para ficar juntos para sempre.

Só que no seu caso, cara, a garota nunca se apaixonou por você. Ela só te achava legal, divertido, boa companhia. Eu te acho legal. E idiota. Porque isso não quer dizer que eu esteja apaixonado por você.

Garotas como Summer não se apaixonam por caras como você. Aquela cena em que o cara fica cantando ela por meia hora antes de você resolver dizer que é o namorado, por exemplo. Meia hora. Sério? Inteligente, engraçado, bom gosto musical, conhecedor de cultura pop? Sim. Meio bocó? Também. Garotas como Summer acham caras como você fofinho, mas não se apaixonam por eles.

Como o narrador do filme diz, você consumiu cultura pop demais. A garota dos seus sonhos? “The one”? Amor eterno? À primeira vista? Não existe. Sabe o casal do “Apenas uma vez”? Eles se separaram depois do Oscar. E a Clementine e o Joel? Ela é casada com o Sam Mendes e ele anda numas viagens erradas de produzir e divulgar filmes de auto-ajuda.

Era tudo mentira.

A forma como o diretor Marc Webb constrói o seu relacionamento com Summer é genial. Uma mistura de gêneros. O início é como um documentário mesmo porque é aquela fase em que viramos entrevistadores / investigadores / pesquisadores querendo saber tudo sobre a pessoa. Depois, a cena do musical no dia seguinte à primeira transa. É exatamente como um cara tipo você se sente quando se dá bem com uma garota tipo a Summer.

O negócio é que aquele sentimento não dura.

Ele acaba, eventualmente. Aquela brincadeira de casinha na exposição de design é uma sátira genial dessa ilusão de como relacionamentos devem se desenvolver. Mas não é assim que acontece, certo? Porque aí vem aquela fase em que você cobra dela definições (porque, sim, você é a mulher da relação)...afinal, sexo no banheiro? Mãos dadas na exposição? Confidências pós-sexo? O que é isso tudo?

Mas a resposta desejada não é namoro, amor, o escambau. A definição para o que você quer ela diga é comédia romântica. Que vocês estão vivendo uma comédia romântica. Com um enorme “Felizes para sempre” no final. Só que isso só existe no cinema.

Enfim. Idiota. Mas você é legal também. Então...seguinte: deixe a cultura pop um pouco de lado, esqueça os filmes, as canções, os livros...eles mentem. Abrace a realidade: o chulé, as discordâncias, os gostos musicais ruins e a imperfeição nossa de cada dia. Pare de buscar o final de “A primeira noite de um homem”. Feche a janela e abra a porta.

Abraço amigo,

Daniel

P.S.: Mas aquela cena em que você vê o... e sai correndo...ou a outra em que ela te diz... E ainda aquele jeitinho... “você ainda trabalha com tal coisa? Ainda vai em tal lugar? Ainda sai com tais pessoas?” Tens o direito, cara. Putz. Pode dizer: VACA.

(Daniel Oliveira, Pilula Pop)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Grandes Versos.

Viver não faz falta quando o sonho é de alta definição.

(Sonhos de Alta Definição, Astromato)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A música do momento.

Contagem Regressiva.

Ou vai
Ou racha.

Filosofia.

No amor os caminhos certos só nos levam ao lugar errado.

(Roberto Santana)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Crua.

- O que eu gosto em você? É isso o que você quer saber? Pois é simples: a carne. Dito dessa maneira tão crua e direta provavelmente a senhorita tomará esse elogio por uma ofensa vazia se valendo de argumentos baseados em um suposto machismo materialista do tipo “mas vocês homens só pensam em sexo, no culto ao corpo e insistem em nos tratar como meros objetos como se não houvesse nada além disso”, sem se dar conta que para vocês mulheres, também somos objetos, corpo, carne. Não significa dizer com isso que eu te ache estúpida, burra ou qualquer outra coisa do gênero, mas que o elogio mais importante e sincero que eu poderia lhe fazer é justamente te mostrar que a sua carne me atrai. De nada adiantaria você ter as idéias mais bonitas do mundo, mais perfeitas e coerentes, simplesmente porque estas idéias são intangíveis, não passam de vapor de ar. Que elas sejam atraentes, encantadoras não significa dizer que quem as profere as seja. Eu mesmo demorei a compreender o peso deste elogio. Porque há sempre o desejo em ser mais do que um corpo, a vontade da transcendência, de um verdadeiro entendimento, de uma completude que, no entanto, é sempre uma ilusão. E nisso, o elemento principal fica de fora, o concreto. O ar dentro do balão ninguém consegue enxergar, tampouco tocar. É efeito. Quando eu te digo que gosto da sua carne, eu digo sem você se dar conta, que gosto de você, por inteira, mas você mesma, toda, sem efeitos, sem ciladas. Você. E que é apenas pela carne que eu posso realmente entrar em contato com a sua intimidade, partilhar o existir. No ar as razões se perdem em algum momento. Só no corpo, no cimento é que elas se encontram e florescem. Pode parecer leviano tudo isso que eu estou te falando agora, mas se você parar para pensar um pouquinho, até que não é. Por isso eu repito: o que mais me fascina em você é a carne.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Placar.

Absurdo 2 x 0 Guilherme

Ah...

Esta velha angústia...

Credo.

Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer! Basta pensar para não acontecer!

Não leve a mal.

Não leva a mal
Não foi o que eu quis
Não foi por mal
Não fui feliz
Fui eu que fiz
E isso eu sei
Eu pago pena onde fui rei
Sim, eu errei
Não vou negar
Você sabe onde quero chegar
Não ou fugir da raia, não
Meu compromisso eu já assumi
Se a vida anda pra frente e pra trás o mundo tem uma rotação
Então chegamos a algum lugar
Aguardo a sua posição
Decida já
Se vou partir
Se perdoar eu fico aqui
É isso aí
Estou sendo cru
Não aprendi a me redimir
O relógio aponta onze da manhã
O nosso tempo se esgotou
E nada mais pode nos convencer
Foi nossa última tentação
Não leve a mal

(Última Tentação, Prot(o))

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tempo.

O entendimento é uma consequência direta da (in)disposição.

Conditio sine qua non.

Para o que se chama de amor poder florescer é preciso ao menos uma pequena dose de desespero.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Musas. (8)


Perolário. (2)

- Pode existir amor sem sexo?
- Acho que são duas coisas diferentes.
- Como?
- O sexo alivia a tensão enquanto o amor a causa.

(Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão, Woody Allen)