sábado, 5 de dezembro de 2009

Crua.

- O que eu gosto em você? É isso o que você quer saber? Pois é simples: a carne. Dito dessa maneira tão crua e direta provavelmente a senhorita tomará esse elogio por uma ofensa vazia se valendo de argumentos baseados em um suposto machismo materialista do tipo “mas vocês homens só pensam em sexo, no culto ao corpo e insistem em nos tratar como meros objetos como se não houvesse nada além disso”, sem se dar conta que para vocês mulheres, também somos objetos, corpo, carne. Não significa dizer com isso que eu te ache estúpida, burra ou qualquer outra coisa do gênero, mas que o elogio mais importante e sincero que eu poderia lhe fazer é justamente te mostrar que a sua carne me atrai. De nada adiantaria você ter as idéias mais bonitas do mundo, mais perfeitas e coerentes, simplesmente porque estas idéias são intangíveis, não passam de vapor de ar. Que elas sejam atraentes, encantadoras não significa dizer que quem as profere as seja. Eu mesmo demorei a compreender o peso deste elogio. Porque há sempre o desejo em ser mais do que um corpo, a vontade da transcendência, de um verdadeiro entendimento, de uma completude que, no entanto, é sempre uma ilusão. E nisso, o elemento principal fica de fora, o concreto. O ar dentro do balão ninguém consegue enxergar, tampouco tocar. É efeito. Quando eu te digo que gosto da sua carne, eu digo sem você se dar conta, que gosto de você, por inteira, mas você mesma, toda, sem efeitos, sem ciladas. Você. E que é apenas pela carne que eu posso realmente entrar em contato com a sua intimidade, partilhar o existir. No ar as razões se perdem em algum momento. Só no corpo, no cimento é que elas se encontram e florescem. Pode parecer leviano tudo isso que eu estou te falando agora, mas se você parar para pensar um pouquinho, até que não é. Por isso eu repito: o que mais me fascina em você é a carne.

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