sexta-feira, 31 de julho de 2009

Buffalo '66.

Ok, Jonathan, você venceu.

Ai palavras, ai palavras...

Tão logo expressamos uma coisa com palavras, e estranhamente ela como que se desvaloriza. Pensamos ter mergulhado no mais fundo dos abismos, e, quando retornamos a superfície, a gota d'água que trazemos nas pálidas pontas dos nossos dedos já não se parece com o mar de onde veio. Imaginamos haver descoberto uma mina de tesouros inestimáveis, e a luz do dia só nos mostra pedras falsas e cacos de vidro. Mas o tesouro continua a brilhar, inalterado, no fundo escuro.

(Maurice Maeterlinck)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ah, o Amor... (3)

Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim da minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica.

(Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Falsas impressões.

- Pra tudo nessa vida tem solução, menos para a morte.
- Não. Na verdade nessa vida absolutamente nada possui solução e se realmente há uma de fato, esta é a própria morte.

Tratado sobre o tédio.

Que triste engano, pensou Drogo, talvez tudo seja assim; acreditamos que ao redor há criaturas semelhantes a nós e, ao contrário, só há gelo, pedras que falam uma língua estrangeira, preparamo-nos para cumprimentar o amigo, mas o braço recai inerte, o sorriso se apaga, porque percebemos que estamos completamente sós.

(O Deserto dos Tártaros, Dino Buzzati)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pílulas do conhecimento.

Inveja não é pecado, é burrice.

("Eu por eu mesmo").

Esperanto, Godot!

Eu nos faltará sempre.

(O Inominável, Samuel Beckett)

domingo, 26 de julho de 2009

Recorrigindo Descartes.

Penso, logo não existo.

Existo, logo não penso.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Chinese Way.

I hope you will forgive the way
I mispronounce your name and I'll forget about these ribbons in my hair
It's just the nature of the game
I am an animal in your care

***

Krug, Etc.

Paradinhas, pianinhos, lalalás, cataclismas, devastações e mortes.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ah, o Amor... (2)

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?

A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...

A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:

— Antônia, você parece uma lagarta listada.

A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:

— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

(Namorados, Manuel Bandeira)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

E depois.

Vamos deixar as janelas abertas
E deixar o equilíbrio ir embora
Cair como um saxofone na calçada
Amarrar um fio de cobre no pescoço
Acender o intervalo pelo filtro
Usar um extintor como lençol
Jogar pólo-aquático na cama
Ficar deslizando pelo teto

Da nossa casa cega e medieval
Cantar canções em línguas estranhas
Retalhar as cortinas desarmadas
Com a faca surda que a fé sujou
Desarmar os brinquedos indecentes
E a indecência pura dos retratos no salão
Vamos beber livros e mastigar tapetes
Catar pontas de cigarros nas paredes

Abrir a geladeira e deixar o vento sair
Cuspir um dia qualquer no futuro
De quem já desapareceu
Deus, Deus, somos todos ateus
Vamos cortar os cabelos do príncipe
E entregá-los a um deus plebeu

E depois do começo
O que vier vai começar a ser o fim

E depois do começo
O que vier vai começar a ser

(Depois do Começo, Legião Urbana)

domingo, 19 de julho de 2009

Fred explica.

Dorme tarde e acorda mais tarde ainda. Isso só acontece quando não tem aula que o obrigue a acordar com as galinhas. Levanta-se, vai ao banheiro, lava o rosto. Não faz a barba, quase sempre. Ele é barbudo. Não toma o café. Arruma-se com roupas leves para suportar o calor, porém nunca se esquece de pegar a blusa de frio. Ainda não se acostumou com as oscilações de temperatura de BH que só ele percebe. Tudo isso é compreensível. Como uma pessoa que nasceu em Pato de Minas, mudou-se para Santos, foi estudar em Campinas e hoje está aqui, pode se aclimatar facilmente? É muita temperatura para uma memória só. Pega a mochila e vai para a faculdade.

Para tornar o caminho mais agradável, ele pega o fone de seu CD player vermelho e o coloca nos ouvidos. O volume no máximo. Consigo ouvir o que ele escuta sem me esforçar. Acho que faz isso para facilitar a imersão em um outro mundo. Naquele em que vive melhor. Ao longo do percurso, passam ruas de uma cidade que ainda desconhece, pessoas sem sal, mulher atraente que o faz perder a cabeça, outra garota que o faz esquecer a primeira, músicos, novos e antigos, no entanto, sempre semi-conhecidos, e se bobear outra menina capaz de apagar as duas outras e se tornar a razão da sua vida.

Às vezes, ele percebe a movimentação dos vizinhos de ônibus, mas não deixa que isso o retire das canções. Ele sabe, mais do que ninguém, que se desenvolve melhor em ambiente lírico, pois a prosa dos dias não o faz tão bem quanto à poesia de Camelo, Violins, The Thrills e dos Fernandos Pessoas. As faixas passam. As do trânsito e as do CD. Este acaba. Rapidamente ele abre sua mochila e pega, entre as dezenas de discos presentes ali, outro que possibilite a imergência. Entretanto, uma coisa precisa ser esclarecida: os CD’s da mochila não são todos dele. Alguns fazem parte do seu intento de transformar o mundo ‘prosaico’ em seu lugar poético. Ele distribui obras de seus artistas preferidos para diversas pessoas que o cercam.

O caminho acaba, as músicas idem. Como já disse, as coisas, as pessoas, eventos de diversos tipos, tudo passa. A vida também, por mais que ele tenha medo de morrer. De qualquer forma, com poesia ou sem ela, sempre lhe restará à dúvida se seria melhor que aquele ônibus o deixasse em Sintra ou Lisboa.

Niilistas.

- Esse seu niilismo é um niilismo filosófico ou um niilismo angustiante?
- Mas tem diferença entre essas duas formas? Porque ao que me parece, uma coisa acaba levando a outra...
- Tem sim.
- Qual?
- Eu, por exemplo, me considero niilista e nem por isso deixo de viver uma vida tranquila.
- Ah, agora entendi. O que você chama de niilismo é esse seu niilismo de fachada, certo?

Curiosidade.

Quantos minutos
Cabem
Dentro de um minuto
Sem cor?

Dentro de um minuto
Sem cor
Cabem
Minutos quantos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre certas solidões (4).

Toda forma de comunicação se baseia na tentativa - certamente fadada ao fracasso - de se transmitir algo que num exame mais detido se mostra ser, na verdade, incomunicável.

Das constatações.

- É impossível dar errado, não tem como!

(Vai dar errado.)

Hapinness.

A Música.

Activity's killing the actor
And a cop's standing out in the road turning traffic away
There was nothing she could do until after
When his body'd been buried below
Way back in the day
Oh my, nothing else could've been done
He made his life a lie
So he might never have to know anyone
Made his life the lie you know
I told him he shouldn't upset her
And that he'd only be making it worse
Involving somebody else
But I knew that he'd never forget her
While her memory worked in reverse
To keep her safe from herself
And, oh my, nothing else could've been done
She made her life a lie
So she might never have to know anyone
Made her life the lie you know
What I used to be will pass away and then you'll see
That all I want now is happiness for you and me
What I used to be will pass away and then you'll see
That all I want now is happiness for you and me
What I used to be will pass away and then you'll see
That all I want now is happiness for you and me

(Elliott Smith)

O Filme.

Alan, Alan e os Smiths 00.

This time of night I could call you up
I'd get angry with athletic ease
Break common laws in twos and threes
If I die clutching your photograph don't call me boring it's just cause I like you
Oh, take me on back, take me on back, take me back
To the place where I could feel your heart
Is this the end
Or just the start of something really, really beautiful
Wrapped up and disguised
As something really really ugly?

Won't you...

Come by and see me, I'm a love-letter away
I'd break your name before I'd say:
"I really love you, loved you,"
Now I don't care if you saw
I watched every inch of film flash across your roman features
And I loved it, loved it

No, I don't care if...

You think I'm eager to shut your eyes
Well, I'm sorry everybody knows you can't break me
With your gutter prose
Would you believe it? She sent me a letter
The ring, it nearly weighs her down
She's got another boy, oh boy

Steady your ears, steady your ears and read my lips
Poetry is not a luxury, it's how I break this home
And when I'm really ill, won't you cradle me?
Man is not a noble animal but maybe woman is

Remember, I heard you...

Inside your room you said:
"You never really live until your back's against the wall,"
Oh, did you really mean it?
No, I never break my gaze, if just to see the scar
Remain reflected in your eyes
I think it's time to go home

Oh, tell me your thoughts
Tell me your thoughts on liberty
See there's a place where I sink to sleeping
She said:
"Oh, my vote is as red as my blood,"
Will you join me for another round?
I haven't had the chance to speak yet

Godspeed...

I break the law once every week to feel your touch
What's a book to you in bed?
Do you feel better? Older?
This just makes me ill
Your name is dripping from my pen
Still, you're not around to curse
I'll drop the gun now
I'm still under you

Marianne, let the ghosts sleep tonight
Marianne, let the ghosts sleep
Just shut your eyes, burn the past

Marianne, let the ghosts sleep tonight
Marianne, let the ghosts sleep
Just shut your eyes and burn the past away

(The Start Of Something, Voxtrot)

Sobre certas solidões (3).

I

Perguntei pro meu vô se ele não cansava de ficar sozinho lá.

Demora muitos anos pra gente descobrir o que é estar sozinho de verdade, ele me respondeu. Pode ser difícil de acreditar pra ti, mas eu não sinto solidão aqui. Tu nunca te sentiu sozinho morando em Porto Alegre?

Me lembro das frases exatas. Lembro como entendendi o que ele queria dizer. Imaginei se sentira mais ou menos solidão caso morasse num fim de mundo como aquele. Talvez fosse sempre a mesma coisa.

II

Apesar do jeito que tu me trata me magoar às vezes, tu é a única pessoa com quem eu não me sinto sozinha. Acho que era isso que me fazia voltar toda vez pro teu apartamento. Sabe, agora eu entendo um pouco mais a razão de tu querer ficar tão isolado lá em cima. É tudo a mesma coisa. Isolado ou mergulhado numa multidão, no trânsito, no trabalho, a solidão é sempre a mesma, com exceção daquelas poucas, raras pessoas em cuja presença a solidão some, mesmo que não seja o tempo todo.

(Até o dia em que o cão morreu, Daniel Galera)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

A chave e a fechadura.

Para Pêcheux, num discurso estão presentes um sujeito A e um destinatário B, que se encontram em lugares determinados na estrutura de uma formação social. Esses lugares se acham não apenas representados nos processos discursivos, mas transformados. Daí um discurso não implicar necessariamente uma mera troca de informações entre A e B, mas sim um jogo de “efeitos de sentido” entre os participantes. Os sentidos seriam produzidos por um certo imaginário, que é social e é, por sua vez, resultado das relações entre poder e sentidos. E a ideologia seria a responsável por produzir o desconhecimento dos sentidos através de processos discursivos observáveis na materialidade lingüística. Toda a prática discursiva trabalha, então, para que o efeito de sentido constituído produza a ilusão de um sentido único. Por isso tem-se a ilusão de que os sujeitos são a fonte do sentido (ilusão esquecimento nº 1) e de que têm domínio do que dizem (ilusão esquecimento nº 2). Segundo Indursky, essas duas ilusões apontam para a questão da constituição ideológica e psíquica do sujeito do discurso. Desse modo sua interpelação como sujeito relaciona-se ao imaginário e sua estruturação como sujeito se dá pela relação com o simbólico.

Logo, nos processos discursivos, vemos funcionar uma série de formações imaginárias que designam os lugares “que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro.” Segundo Pêcheux, todo processo discursivo supõe a existência das seguintes formações imaginárias:

IA(A): Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em A - Quem sou eu para lhe falar assim?
IA(B): Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A - Quem é ele para que eu lhe fale assim?
IB(B): Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B - Quem sou eu para que ele me fale assim?
IB(A): Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B - Quem é ele para que me fale assim?


Existiriam nos mecanismos de toda formação social regras de projeção responsáveis por estabelecer as relações entre as situações discursivas e as posições dos diferentes participantes. As relações imaginárias podem ser, portanto, consideradas como a maneira pela qual a posição dos participantes do discurso intervém nas condições de produção do discurso.

Podemos concluir, com Pêcheux, que um processo discursivo supõe, por parte do emissor, uma antecipação das representações do receptor, sobre a qual se funda a estratégia do discurso. Como se trata de antecipações, o que é dito precede as eventuais respostas de B, que vão sancionar ou não as decisões antecipadas de A. Essas antecipações são, entretanto, sempre atravessadas pelo já ouvido e pelo já dito, que constituem a substância das formações imaginárias.

Penso que sinto.

De que serve uma sensação se há uma razão exterior para ela?

(Álvaro de Campos)

Janelas.

Eu sou quem eu não fui.

Deus (6).

Deus (5).

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dicionário.

Estranho: adjetivo empregado para designar uma inadequação entre o que se é e o que alguém gostaria que você fosse - em geral deve-se entender por gostaria que você fosse a própria expressão do pensamento e da postura do referido alguém, muito embora isto seja comumente camuflado.

Exemplo: Você é estranho, viu... (ênfase nas reticências)

Você não age ou pensa da maneira certa - a que eu penso e que, portanto, eu exijo que todo mundo, ou pelo menos aqueles que são normais, pensem.

Estações.

Quando o entendimento finalmente chega, o tempo já foi embora.

A Odisséia.

A primeira providência será rir de chorar
Quando você entrar por essa porta
E me pedir pra ficar
Depois do Cristo que encarnei
Pra libertar só quem me deu pedrada e dó
Não significou nada
Não significou nada
Como um desejo num corpo oco

A segunda providência será te respeitar
Como eu respeito o meu cachorro ao latir
E me acordar
O som que eu vou emitir
Parecerá o som de um motor sem óleo
Pra significar nada
Significar nada
Como um desejo num corpo oco

(Corpo Oco, Beto Cupertino)

sábado, 11 de julho de 2009

Duas camisas e a antropologia.

5:25 da manhã

- Mãe, mãe, acorda, acorda. Já sei porque ontem deu aquele rolo na churrascaria.

Desacordada, a mãe dá trela:

- Por que?

Prestes a fazer uma revelação aparentemente ridícula, o rapaz, rindo sozinho sem parar, fala:

- Eu tava com aquela camisa branca. Toda vez que eu uso ela acontece alguma merda.

Aula de Antropologia

- Eu tinha uma camisa que eu achava linda. Mas toda vez que eu me atrevia a colocar ela algum absurdo acontecia. Coloquei uma vez, deu um problema no meu doutorado. Coloquei de novo, outro problema no meu doutorado. Mas eu pensei ‘como é que eu, uma futura doutora em Antropologia, posso acreditar numa superstição dessas? Essa bobagem é apenas uma coincidência’. Coloquei pela terceira vez e quase perdi meu doutorado. Por via das dúvidas, nunca mais usei aquela camisa. Era tão bonita...

A camisa branca

Ganhei ela de presente do meu irmão. Quando ele me viu usando pela primeira vez, disse: ‘nossa, mas ficou ótimo em você, Guilherme!’. E realmente havia caído muito bem em mim. Mas a verdade por trás dos fatos...

1. Perdi uma caneta de ponta porosa - ai que frescura! - que eu amava.
2. Tive um encontro péssimo.
3. Peguei uma chuvarada no caminho da casa do meu primo para a casa da minha avó em Mariana.
4. Tomei outra chuvarada no Carnaval de 2009 e voltei de Ouro Preto para Mariana completamente encharcado. Detalhe 1: Nessa ocasião em meio a subida do bloco (?!) ainda tive aquela incômoda sensação da água gelada concentrando-se no meu 'rego'. Detalhe 2: em ambas as chuvaradas, o céu estava azul e resplandecente.

Mesmo sabendo da fama da camiseta, eu decidi colocar em risco a minha vida e a do Tio Beto:

- Tio Beto, essa camisa branca aí geralmente dá azar. Mas eu vou viajar com ela assim mesmo.
- Não põe ela não, Guilherme.

Não é preciso dizer que, embora dos males tenha sido o menor, o ônibus em questão quebrou e tivemos que ficar duas horas parados aguardando outro ônibus. Ontem na churrascaria foi apenas a gota d’água.

A camisa cinza

Se ironicamente a pureza da camisa branca era na verdade um sinal de impureza, por outro lado, é interessante relembrar a existência da minha bela camisa cinza que ganhei de aniversário da Lena, amiga da minha mãe que mora em Santos – meu irmão sempre foi doido pra surrupiar ela de mim! Hahahahaha. Com ela estou imune a tudo e tenho registrado alguns dos melhores momentos da minha vida. E apesar dos seus ‘furinhos’ que estão começando a aparecer, não posso abrir mão do meu manto sagrado e protetor.

1. Minha monografia foi execrada, mas apesar de tudo isso, eu ainda tirei nota alta.
2. Conheci a Júlia quando estava com a camisa cinza.
3. Por muita sorte encontrei com a Gaby antes dela viajar quando eu estava com a camisa cinza.
4. Ouvi Cher Antoine ao vivo com a minha camisa cinza.
5. Praticamente todas as fotos que eu tenho, por coincidência eu tirei com a minha camisa cinza. E fiquei relativamente fotogênico.
6. Tive um encontro inesquecível.

Conclusões

É Frazer, os poderes mágicos existem. Era fatal, era fatal, era fatal.

E/ou

É Thiago, tá querendo descarregar em mim suas mandingas e ainda por cima recolher o meu ramo de ouro prata! Hahahahaha!

Oficina de títulos.

O coração é um caçador solitário.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

And the water is cold.

Maybe an ocean is found in a lake.
Maybe exceptions to this could be made.
But I’m swimming Lord, just to be saved…

She always loved him, but not in the way,
The way she’s supposed to, but she never claimed to.
But she’s swimming Lord, just to be saved…
Young lovers gathering ’round, they
Hold their hands on Sundays
Sundays they get down on the ground
They’ll get down on the ground for you
I say that some claims are true, some claims are true
And I say that some silly dreams… but I can’t come true, oh
Someday I’ll get down on the ground
Get down on the ground for you…

He’s getting old, he’s getting old, he’s getting old,
He’s getting old, he’s getting old,
And the water is cold.

Bum, bum ba-da dum…

I say that some claims are true, some claims are true
And I say that some silly dreams… but I can’t come true, oh
Someday I’ll get down on the ground
Get down on the ground for you…

He’s getting old, he’s getting old, he’s getting old,
He’s getting old, he’s getting old…

Because variables lurk in the wine
Because the best one that’s cold out has a good sign.
It’s never ever gonna feel right to pull the latch back again.
The dust you kick up is too fine.
Because variables lurk in the wine
Because the best one that’s cold out has a good sign.
It’s never ever gonna feel right to pull the latch back again.
The dust you kick up is too fine.

(Swimming, Sunset Rubdown)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ah, o Amor...

"O amor é uma pessoa que sofre e outra que se entedia".

(Sobre Tumbas e Heróis, Ernesto Sábato)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Quando eu crescer...

...eu quero ser como Ronaldo de Noronha.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Opiário.

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara
. Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smokink-room com o conde -
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma. A minha
Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O fato é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranqüilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Pra cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh'alma!

(Opiário, Álvaro de Campos)

domingo, 5 de julho de 2009

Elliott, Elliott.

The king's crossing was the main attraction
Dominos are falling in a chain reaction
The scraping subject ruled by fear told me
Whiskey works better than beer

The judge is on vinyl, decisions are final
And nobody gets a reprieve
And every wave is tidal
If you hang around
You're going to get wet

I can't prepare for death any more than I already have
All you can do now is watch the shells
The game looks easy, that's why it sells
Frustrated fireworks inside your head
Are going to stand and deliver talk instead
The method acting that pays my bills
Keeps the fat man feeding in Beverly Hills
I got a heavy metal mouth that hurls obscenity
And I get my check from the trash treasury
Because I took my own insides out

It don't matter because I have no sex life
All I want to do now is inject my ex-wife
I've seen the movie
And I know what happens

It's Christmas time
And the needles on the tree
A skinny Santa is bringing something to me
His voice is overwhelming
But his speech is slurred
And I only understand every other word
Open your parachute and grab your gun
Falling down like an omen, a setting sun
Read the part and return at five
It's a hell of a role if you can keep it alive
But I don't care if I fuck up
I'm going on a date
With a rich white lady
Ain't life great?
Give me one good reason not to do it
(Because we love you)
So do it

This is the place where time reverses
Dead men talk to all the pretty nurses
Instruments shine on a silver tray
Don't let me get carried away
Don't let me get carried away
Don't let me be carried away

(King's Crossing, Elliott Smith)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Shut up...

E quando, depois de muito tempo, ao finalmente conseguir matar todos os seus fantasmas de uma só vez você acredita que conseguirá a tão sonhada liberdade, a câmera aparece e a grande cilada se revela: nem sequer se pode contar mais com suas últimas ilusões. Porque matar um fantasma nada mais é do que aniquilar uma parte de si mesmo, uma espécie de semi-suicídio por assim dizer. Resta apenas o buraco, o vazio, a solidão em sua forma mais crua e devastadora - a que curiosamente damos o singelo nome de vida. Só se tem noção disso quando o tiro já saiu pela culatra e não há mais o que ser feito. Naquela fase onde você mal sabia que artefatos como facões, espadas, revólveres, soníferos, estricninas da vida ou técnicas como jiu-jitsu, psicanálise, ioga, religião e vudu eram totalmente inúteis, ao menos havia a esperança de que acertando o meio com certeza se atingiria o fim desejado. Mas logo se percebe que a máxima 'fantasmas são fantasmas' é a mais pura verdade. E assim sendo, oras, por definição, embora invisíveis, eles possuem muito mais carne do que aqueles a quem costumamos chamar de vivos. Ainda assim nos resta o gostinho do condicional: quando... E quando o quando já não é mais quando mas sim um tempo perfeito? A revelação: ‘os tempos perfeitos, na verdade, são imperfeitos’. E o mais engraçado disso é que o golpe de misericórdia veio de onde eu menos esperava: um trechinho despretensioso de um livro que caiu em minhas mãos por obra do acaso. Nada mais apropriado, decerto. A saída não pode jamais ser encontrada. Enquanto você a procura, simplesmente não existe. É ela quem precisa te encontrar - até mesmo para te mostrar que não se trata de algo que se possa chamar exatamente de saída, mesmo o sendo. E no meu caso isso foi bastante claro: aquelas palavras não me eram estranhas de modo algum. Ao contrário, eram-me muito familiares. Ou seja, não se tratava de uma questão de conclusão mas de enfoque: intencionalidade x fatalidade. Algo como João e Maria: era fatal que o faz de conta terminasse assim. Não apenas era como foi. E quando isso eu entendi, veio o estalo – um estalo oco e metafórico, evidentemente. Os fantasmas murcharam como quando se desata o nó de um balão de gás. Não só os fantasmas, mas também o fantasma. Nessas oras o verdadeiro pecado original surge à tona: o Tédio - com um T bem grande para não apenas você, mas todo mundo poder enxergar direitinho. “Nada acontece, nada acontece, nada acontece...”. Até hoje nunca li em nenhum livro alguma tentativa realmente honesta de captar um momento tão morto e ao mesmo tempo tão vivo como essa angustiante espera indefinida por coisa nenhuma, pelo que não se sabe, pelo pelo. Também pudera, afinal, o dia em que um escritor se atrever a retratar a ausência de movimento, a rotina, o desmanchar do tempo sobre os ossos, terá em mãos a obra-prima do fracasso da literatura universal ou, numa perspectiva um pouco mais positiva - afinal de contas, devemos sempre procurar encontrar os ângulos mais favoráveis da nossa experiência, não? -, a arma mais letal para uma epidemia de suicídios. E eis que sem nenhum alarde o jogo vira e... acontece. E quando finalmente acontece você então se dá conta que desejaria jamais tivesse acontecido.

Tarde demais, meu bem - meu mal.

quarta-feira, 1 de julho de 2009