sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vitamina.

- Eu queria te dizer uma coisa simples, que de tão simples eu não sei sequer por onde começar, até porque não existe propriamente um começo. Enquanto olho o retrovisor tento encontrar o momento preciso em que o que foi deixou de ser. Esforço inútil, tão inútil quanto conseguir saber onde começa uma pessoa e termina outra dentro da gente. A distância entre dois pontos é sempre um infinito, de modo que no limite não há limite. Então, reconheço apenas que aconteceu. E se sempre trago comigo esse desejo absurdo, doentio, de tentar reconstituir o inconstituível, por outro lado sei perfeitamente que esse esforço caso fosse possível, ainda assim de nada adiantaria. Os porquês realmente não interessam embora invariavelmente me interessem. Sim, existem muitos porquês que, em última instância, acabam pecando pelo mesmo motivo: não sabem explicar por que. Porque é exatamente isso que me faz, ao começar a lavar a louça do jantar, sem mais nem menos travar dentro de mim monólogos intensos com você em que suprimo qualquer rabisco que possa implicar no menor o risco de entrar na sua cabeça e se transformar em um daqueles ruídos que as pessoas costumam chamar de palavras, quero dizer, desses zunidos que você está escutando agora mas é incapaz de ouvir. Não, infelizmente você nunca vai saber desses monólogos que arrebatam o meu pensamento enquanto as minhas mãos se perdem entre espuma e água. Porque não é dentro de você que os morangos começam a pedir passagem para, em seguida, se transformarem em uma aula, em suco, em uma rodoviária, em uma estrada e em um pescoço displicentemente tombado para, por fim, completarem sua metamorfose em um mousse de maracujá. E pensar que até então eu não gostava de maracujá, nem de sotaque, nem tanta coisa, nem mesmo de. Minto. A metamorfose jamais se completa. Não há borboletas nesse jardim. O que resta é apenas a larva dentro da minha cabeça, um vir a ser contínuo, próprio do que não é coisa alguma. Relaxa, menina. São apenas abstrações, imagens, esse tipo de frescura que não causa nada além de algumas cosquinhas naquela bombinha que enfeita o lado esquerdo do nosso peito. Bobagem. Tudo bobagem, invenção, tudo falso como qualquer sensação que ocorra fora das linhas que separam o que chamamos de ‘eu’ daquilo que convencionamos denominar ‘ele’ – quando ‘ele’ não é ‘vocêu’, claro, pois dois pesos significam duas medidas não é mesmo? Por isso, não caia na tentação de acreditar nesses zumbidos, afinal de contas, que sei eu do que eu sinto, não é mesmo? Oras, um reles aprendiz de amador ocupando essa mísera posição na hierarquia dos bem vividos não tem a menor capacidade de responder sobre qualquer eventual sopro que reverbere dentro das paredes do seu castelo. Afinal, que rei sou eu de mim mesmo quando existem tantos súditos ao meu redor? Talvez o melhor mesmo seja me render e aceitar ser o que eu não sou. Um dia eu ainda aprendo que a tal da sinceridade, quando existe de fato, nunca consegue ser realmente sincera aos olhos de ninguém. Quer melhor maneira de cair em descrédito que ousar falar a verdade? Não que eu saiba mais do que você sobre você mesma ou sobre qualquer coisa que se passe nesse mundo entre a espuma e a água. Realmente não sei! Aliás, quando eu começo a pensar em você eu penso - e como eu penso! - que cada vez que entendo mais, compreendo menos. E tudo sempre parece tão simples, não é?, simples como isso que eu estou aqui mais uma vez tentando lhe dizer. Só que a simplicidade só tem de simples o nome. Do contrário, provavelmente você jamais tentaria conversar comigo para se convencer de algo em que você é incapaz de acreditar. Simples, não? Sim, como todas as dúvidas das quais você diz duvidar existir e que não existindo, portanto, aparecem. E como se esconder de sua própria sombra? Eu rio sozinho um riso nervoso. É que eu achei que fosse capaz de possuir algum controle sobre mim mesmo, pode? Foi quando me peguei mais uma vez preocupado daqui com você que me dei conta de que não. Como quando ouvi a sua voz pela última vez e vi a ficha caindo diante de mim. Como novamente eu cai na mesma armadilha de dizer ‘não...’. Não é realmente não, digo, nega-se a si mesmo a ponto de... se reverter em sim. Sim, sim, sim... Sim. Não existe borracha que seja capaz de apagar totalmente um traço, quanto mais... Isso. Quanto mais isso. E pensando nisso, sua gargalhada... E nessa hora meu riso também gargalha. Culpa dos neurônios espelho, mas não apenas deles, entende? Quem diria: uma culpa gostosa. É dessa culpa que eu tenho tentado lhe dizer. É ela que me faz pensar que as coisas são possíveis, que existe algo apesar de todas as reticências. É essa culpa, menina, que me leva realmente a algo em que eu posso verdadeiramente acreditar e que não se assemelha em nada com a figura de Deus tal como ela costuma ser pintada mundo afora. Algo que se manifesta pelas mãos, que se cristaliza em movimentos imperceptíveis, como uma dança invisível. E tal como Deus, esse algo não existe em si mesmo, mas através. Tão através que costumam equivocadamente a confundi-lo com... Deus, até mesmo por aquela enorme necessidade de se acender velas, de desejar com a unha, de acenar e no final se explicar apenas por meio de uma fé, igualmente cega, igualmente redentora, igualmente traidora. Sim, é o caos, é o choque brutal de todos os contrários - iguais em sua natureza frágil -, de todos os inexplicáveis em busca de explicação. E a gente acha cada explicação idiota de tão convincente para o que não se pode explicar, não é? E aí, volta ao começo da história, procura encontrar o fio da meada, perceber o momento exato, simula as narrativas mais improváveis, toca as mãos do destino, cogita timidamente algum sempre, mesmo consciente da finitude, mesmo consciente das finitudes, mesmo inconsciente. Arrepios, lágrimas, mochilas, trapos, árvores, essas coisas. Haja metafísica. Haja física. Que haja! No fim das contas é isso: que haja, apenas. Como nas aulinhas de português, ‘haver no sentido de existir’. Mas... É que acreditar rima com subverter: sintaxes quebradas, impessoalidade conjugada de todas as maneiras possíveis para além de quaisquer gramáticas do que pode se chamar de certo, de errado, de. Pode, sim, tudo pode. Que seja ilusão, que não seja nada. Há pouco tempo tive um sonho com você. Você sabe como são os sonhos, quero dizer, à medida que os dias transcorrem a nitidez pouco a pouco se perde. Do que ainda ficou, fui parar em um apartamento e para minha grande surpresa você também estava por lá. Não sei te dizer o que você era dentro do sonho que não você mesma. Recordo-me apenas do silêncio, mas não de um silêncio qualquer. Para cada ação minha, havia um correspondente olhar de censura vindo de sua parte. Nenhuma palavra, embora nada escapasse. E você sabe o quanto é insuportável ser julgado sem sequer saber o motivo. As membranas são frágeis até mesmo para quem procura as elevar ao limite de toda a sua resistência. Mas é que simplesmente não dá para agüentar. Basta reparar na eletricidade presente no ar de fim de tarde depois de um dia de sol a pino. Os ventos surgem como prenúncio, o céu timidamente muda de cor quando... Bem, quando num belo momento estava eu deitado em uma cama junto com meu irmão. Eu não conseguia dormir. Você estava na cama ao lado. É irônico pensar nisso porque essa acaba por ser a mesma sensação que tenho em vigília. Apesar da distância e do tempo você encontra alguma maneira de olhar para mim. O nó simplesmente não desata. Há um elo que não permite se criarem duas correntes independentes. Uma espécie de necessidade reciprocamente velada que sustenta a fragilidade disso que existe entre nós dois em face das mais apocalípticas tormentas. Não importa se sapos, se canivetes, se palavras, se silêncios. Os dedos ainda se tocam, por menor que seja a superfície de contato. Isso me intriga. Assim como a série de coincidências – a que um dia eu já jurei de pés juntos serem a própria anunciação – nos relatos das histórias que teimam em acontecer nas nossas vidas. Nesses instantes, por bem pouco eu não volto a me trair. Embora... Bem, onde eu parei? Sim, eu estava no meio do sonho quando fui atropelado por ‘v...’, quer dizer, por mim mesmo. Você estava na cama ao lado, lembra? E eu numa cama com meu irmão, sem conseguir dormir. Num determinado momento eu tentei puxar apenas para mim o lençol que eu dividia com meu irmão quando, num ímpeto, ele acabou por reagir tomando o lençol todo para si. Em seguida, resolvi deitar no chão. Nessa hora você levantou lentamente e desferiu um olhar para que eu voltasse para a cama imediatamente. Mas não só isso. Nessa hora, a água do transbordou. Não havia mais como me sujeitar àquela situação. Eram muitas as forças em jogo, afinal, não se tratava apenas de indiferença e reprovação. Quero dizer, se tratava do que se trata nesse momento em que falo com você. Se trata dessa coisa simples que durante todo esse tempão eu estou tentando te dizer e que não consigo senão tatear vagamente. Menina, eu estou falando que aquele mesmo transbordamento do sonho é exatamente o transbordamento da minha alma, do aqui e agora, do sangue. Eu tô falando da dor de cabeça, das náuseas. Eu to falando de tanta coisa que ficou presa dentro de mim, que eu tentei enjaular a todo custo, que fugiu, que eu recapturei, que eu rompi, lutei, ganhei e depois descobri que já estava perdido desde o início. É que eu fico sem jeito, que é que fico sem ar, é que eu fico sem espaço. É que demonstrar é difícil, é que eu realmente te digo que nunca sei o que deve ser feito, como deve ser feito, sabe? Transborda, sufoca, mata. Eu te vejo, te radiografo, procuro notar todos os seus detalhes, prestar atenção eu absolutamente tudo o que você me diz, estar junto. Não importa se perto, nem se longe. Como que de bar em bar, você vem à tona entre palavras de descrença ou de esperança, mesmo que mentalmente. A história todos já sabem de cor e salteado e eu realmente não entendo a razão disso tudo, quero dizer, eu sou humanamente incapaz de entender como é possível que de repente os morangos se transformem em maracujá, mas não como puramente fotografias. Posso ver a superfície do morango, microscopicamente, com seus pequenos furinhos. Mais do que isso, posso sentir a textura em minhas mãos enquanto se modificam, enquanto se atinge o maracujá, enquanto aquele suco Maguary se transforma em um mousse. Você não faz idéia do que é isso! E são exatamente nessas horas que eu simplesmente não sei o que dizer, que eu travo, que eu paro, que eu temo, que eu caio e fico. Falar com você sobre isso tudo, sobre isso que eu reluto, sobre isso que me invade, sobre isso que eu não sei explicar, que eu não sei o que é, que eu não sei nomear, que se confunde com tanta coisa que eu vivi, pensei, senti e que no entanto não equivale a absolutamente nada disso me... Não sei. Lembra-me um personagem de um filme. Acho que é isso. Donnie Smith, do Magnólia. Mais do que o personagem, me lembra uma cena – e olha que eu nem acho a melhor cena do filme. Se você não assistiu ao filme, por favor, não perca tempo e preste atenção no momento em que, na parte final, este Donnie Smith conversa com o policial, se não estou enganado Jim. Existe algo ali. Algo que me remete a você, algo que me remete a mim, algo que está presente aqui. Fico sem fôlego. Já não sei se tudo isso é real ou não. Há algo para além de. Algo que talvez ninguém seja capaz de enxergar, que tem a ver com solidão, euforia, medo. Um dia você já entendeu isso, apenas de olhar. Não em tom de censura, mas de certeza. É desse entendimento, tácito. Sim, é desse entendimento tácito, ouviu? Preciso agora saber que você está me ouvindo, que esses zunidos estão mexendo com você. Apesar da nossa proximidade eu preciso de alguma garantia de que não estejamos distantes, que não estejamos dando nomes iguais a naturezas distintas. Sim, o que tenho são palavras. São apenas esses zumbidos o que carrego dentro de mim. Zumbidos feitos de carne, feitos de morango, de maracujá e de tanta coisa que eu não sei sequer por onde começar a listar... Quando olho para você, quando me ponho a te escutar, não estou de frente com um rótulo. Um rótulo não seria capaz de me afetar. Um rótulo é um rótulo, apenas. Tautologia. Por outro lado, é essa mesma tautologia a única ferramenta de que disponho para chegar diretamente ao ponto: você é você. Parece não ajudar muito, entende, mas é isso o que me deixa completamente absorto: você é você. É isso que interliga toda a sucessão de mudanças, fases, crises, reações. Apenas isso que explica isso, isso aqui. Por que você faz isso comigo? Eu te amo, sua vaca!
- Sua o quê?
- Não era isso exatamente o que eu queria dizer, me desculpa.
- É que eu nunca pensei que isso pudesse acontecer...
- Nem eu...

...

- Mas você não terminou de contar o seu sonho...
- Isso agora depende de você.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Procura-se.

Não em Deus
Nossa verdade
Encontra-se perdida
Em morangos

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Liberdade.

Bem, no mais eles são iguais a mim
Tão vis, tão bem articulados
Pra fazer você rir, então ria
Então venha mas venha em paz
Que eu não quero mais pedir...

(Convênio, Violins)

domingo, 26 de outubro de 2008

Desenganos.

"Desalento". diz (00:25):
nem sei mais onde eu tô imerso, coxete
"Desalento". diz (00:26):
ou sei
"Desalento". diz (00:26):
sei lá...
coxete diz (00:27):
sabe
"Desalento". diz (00:27):
sei
"Desalento". diz (00:27):
a gente sempre sabe
"Desalento". diz (00:27):
só não quer acreditar

sábado, 25 de outubro de 2008

Nota sobre a felicidade.

O bom da vida é pro cavalo que vê capim e come...

(João Guimarães Rosa)

Verniz.

Eu jamais seria capaz de esquecer um nome como esse. Valente. Valentia. Valentina: foi assim que você apareceu. Eu mal havia descido do ônibus. Com os olhos crus ainda se acostumando com a parca luminosidade da manhã você me abordou. Não há palavra melhor que seja capaz de definir tal ato que não abordagem. (Assalto?). Realmente não entendi, achei que não era comigo. Não estou acostumado a ser notado, quiçá interpelado dessa maneira. Esboço, pra variar, alguma reação desajeitada ante o entusiasmo com que você se volta para mim. Não sei exatamente. Nunca sei, na verdade. Você finge não perceber, fala, me localiza. Cabelos negros, curtos, espetados num rosto de traços rusticamente suaves. ‘Eu faço o mesmo curso que você. Estou no quarto período e quero me habilitar em Rádio e TV’, você diz enquanto me olha fixamente, talvez aguardando por um sinal de aprovação - ou de reprovação. Talvez não. Talvez você tenha compreendido algo que está além de. Talvez. Talvez... Não há interrupções. Ladeira a baixo caminhamos enquanto finalmente você consegue me colocar na roda. Falar sobre música sempre soa como música para os meus ouvidos! Covardia. Uma covardia gostosa, diga-se de passagem. Não tenho mais armas. ‘Indie rock’ foi o que eu respondi de bate pronto quando você quis saber meu tipo de música preferido. Tal foi meu espanto quando a senhorita na mesma hora, efusiva, disse ‘eu adoro indie rock!’ para logo no momento seguinte desabafar ‘até eu enjoar’! Não consegui deixar de achar graça. Não: não conseguimos deixar de achar graça. Não restou outra alternativa que não cairmos na gargalhada. Olhares perdidos, você ainda tentou se explicar. ‘Sabe...’. Mas não havia o que dizer. Não era preciso de mais nada. Nem de uma boina.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Flashback.

Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
And as I climb into an empty bed
Oh well... Enough said
I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Oh...

Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
See, the sea wants to take me
The knife wants to slit me
Do you think you can help me ?
Sad veiled bride, please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(although she needs you
more than she loves you)
And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
(Over and over and over and over
Over and over...)
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight?
I know...
Because tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."

It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind
(Over, over, over, over)
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
(Over, over)

Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
Love is Natural and Real
But not for such as you and I, my love

Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my...

(I Know It's Over, The Smiths)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Chupando (2).

Isso faz parte:
Você parte
O coração parte

(Resignação, Ana Poetisa Banana)

Chupando (1).

Não ser amado cansa. Ser amado cansa. Amar cansa. Não amar cansa. Agir cansa. Pensar cansa. Esperar cansa. Ir ao encontro cansa. Falar cansa. Silenciar cansa. A solidão cansa. A companhia cansa. Trabalhar cansa. O ócio cansa. A infelicidade cansa. A felicidade cansa. Tentar dizer que se ama cansa. Esconder o amor que se sente cansa. Estar perto cansa. Estar longe cansa. Viver cansa. Tudo cansa. Por isso o grande descanso ao encontro do qual inexoravelmente caminhamos...

(Roberto 'Cansado Tio Beto' Santana)

X diz:

X diz (00:43):
o que eu tava falando é que às vezes
X diz (00:44):
tudo parece um jogo
X diz (00:44):
e esse jogo cansa
X diz (00:44):
eu tô cansada
X diz (00:44):
eu queria alguém para quem eu pudesse me entregar
X diz (00:44):
mesmo quando eu estiver cansada do jogo
X diz (00:45):
eu sei que a sedução
X diz (00:45):
e agradar
X diz (00:45):
mesmo quando você não tem muita vontade
X diz (00:45):
tudo é um jogo
X diz (00:45):
até os dramas
X diz (00:45):
mas
X diz (00:45):
sério
X diz (00:45):
eu tô cansada
X diz (00:45):
eu sei
X diz (00:45):
eu quero voltar a ser quem eu era
X diz (00:46):
franca
X diz (00:46):
aberta
X diz (00:46):
transparente
X diz (00:46):
não que isso também não seja uma forma de jogar
X diz (00:46):
mas
X diz (00:46):
eu gosto de mudar de jogo
X diz (00:46):
eu acho que todas as relações são jogos
X diz (00:47):
eu devo ser uma jogadora ruim

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

No bosque das ilusões perdidas...

Caminhos diferentes, lugares mesmos, a mesma ironia: duas ruas paralelas.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cores.

Em um envelope perdido no fundo de uma gaveta, uma fotografia. Enquanto tento focar a visão em algum ponto da imagem, começo a me questionar sobre a casualidade da vida. Não consigo esboçar um pensamento concreto a respeito. Reticências, apenas. ‘É tão...’. Gesticulo involuntariamente, inadvertidamente. Uma fotografia e nada mais. Registro único de um tempo que ficou. Os olhos teimam. Não há abrigo em ponto algum. Cada detalhe suplica por atenção. Até então jamais havia me dado conta da importância de se trancar um pouquinho de vida em uma folha de papel. Do meramente incidental, o acidente: uma câmera, um fotógrafo amador, um cenário, folhas de papel esparramadas, personagens. Poucos retoques, um click. Não sei se um sorriso ou se espanto. Ternura. Sim, ternura. Sabe? Ternura. A timidez da mão que escorrega, das mãos que se fecham. Olho nos olhos e vejo algo que não consegui mais encontrar. Nada demais, como tudo que realmente importa nessa vida. Apenas uma verdade que o click, por capricho, esqueceu de ocultar.

domingo, 5 de outubro de 2008

Lavando a louça do almoço.

Porque no fim das contas a gente não encontra nada além da própria procura.

Vestígios do que um dia houve.

Bom, você não é egoísta e não to falando isso por sua causa, mas sim pela minha convivência de uma forma geral com os homens. E também sou incapaz de dizer que você não amou verdadeiramente alguém porque eu não tenho como medir os seus sentimentos. O Amor não depende de contato físico. Você deu muitas coisas para as meninas que você admirava. Você deu seu carinho, seu respeito, seus poemas, seus pensamentos... mas, precisa de mais. Acho que você não precisa ter pressa nem querer ficar se aperfeiçoando e querendo mudar. Claro que quando vemos um defeito gostaríamos de mudar. Mas têm coisas que fazem parte da gente e que não é preciso mudar.

Olha, você é um rapaz super sensível. Para quê mudar isso? Talvez você tenha que trabalhar essa sensibilidade para focá-la da maneira certa. E tudo o que eu falo para você vale para mim também. Veja bem, talvez, você não tenha que idolatrar tanto as meninas e nem dar tanta importância para cada pensamento que passe na cabeça delas. Também não tem que tentar escrever tudo o que você acha que está sentindo. Tem certas coisas que as pessoas percebem. Você sabe que eu sempre evitei escrever por causa disso. Falar, olhar são formas muito mais completas de se saber como o outro está e conhecê-lo de verdade, sem ficar imaginando. Eu sei que boa parte de toda a nossa vida parece que são imagens que criamos das pessoas e o que as pessoas criam da gente. E parece que por isso podemos controlar exatamente a imagem que temos e o que queremos que o outro pense da gente. Mas, não é bem assim.

Tem que existir uma coisa mais real, mais física, mais concreta. Não são só imagens construídas independentemente. Têm coisas que não sabemos por que nos marcam no outro e admiramos essa pessoa eternamente. Assim como tem coisas que podem nos afastar de alguém eternamente.

...

Existe. Eu não sei o que é, mas eu posso dizer que existe. Tento descobrir seu nome, mas não encontro no dicionário essa coisa que não se sabe quente ou fria, que não se sabe aonde, que resolve atravessar meu sono e impregnar meus sonhos. Travesseiro, luz apagada, luz acesa, um livro e nada. Porque existe. E existindo, de nada adianta. Esboça uma fuga, chega na garganta e para. Para de pirraça, volta, dissimula, mente. Não para mim. Porque existe. Brinca de formar lágrimas, cai na pele, volta novamente. Brinca de formar palavras, brinca de ganhar sentidos que não se fazem verdadeiramente sentidos a não ser por ele mesmo. Uma criança galhofeira que gosta de brincar, mas não sabe como; que quer, que deseja, almeja, se mostra mas não se revela. Sim, se revela, mas... Todos perguntam: mas...? Dizem que é lenda. Carrego uma lenda viva, morta, que mortifica, que de todas as maneiras possíveis procura por uma manifestação, por um gesto, por água. Existe, insiste, mas erra quando se insere. É menos do que esperam, porque esperam dele sempre algo além da própria espera. Existe, porque só existindo para procurar por colo no meio da noite em meio a uma tempestade que não existe, mas igualmente existe. Existe porque quer ser partilhado, modificado, vivenciado e por isso cospe uma porção de letrinhas que tentam criar algum tipo de ponte com o que sequer se sabe se existe. Existe porque se não existisse não sufocaria, jamais faria olhar para o passado, dançar no presente e escorregar no futuro. Existe porque tem a coragem de ter medo, de se esconder para olhar, para tentar se preencher. Mas não forma, escolhe caminhos tortos, não sabe apenas existir. Tem pressa, desloca os pés do chão, pede pelo céu, cria asas e se afoga. E existe mesmo querendo não existir, sumir, toma todas as soluções possíveis, faz o que não se espera, dá a cara pelo pão. E isso, que existe, quer pouco, só um pouquinho, pode ser alguma folha, apenas, amarelada, perdida no meio de alguma terra encharcada. Não precisa ser uma mão, bastaria um dedo disposto a tocar suavemente o que envolve. Talvez. Talvez um vento para levá-lo para bem longe, além do existir. Mas hoje não, hoje existe. Existe e reclama, pede, carece, implora, inflama. Cega como a luz forte no rosto. Machuca como uma lâmpada que pisca intermitente. Entra, sai, volta, revolta, se aquieta, me engana. Dissolve-se em linhas, transborda-se em nós. Apertados. Tenciona. Afrouxa. Algum alívio, alguma chance. Sobe as escadas, chega no topo, olha de cima, se acha pequeno, tropeça, cai, olha pra estrelas. Pisca, pisca, pisca, pisca, imita o movimento, cansa. Cansa de existir mas não desiste. Talvez... Mas não. Resiste, é primo do urubu pintado de verde. Almeja encontrar um brilho nas duas azeitonas pretas que dizem ser a entrada da casa, de alguma casa, de algum labirinto ou álbum abismo. Não se importa. Machuca quando atravessa o corredor e pede passagem. Não sabe, cria outras formas, burla sistemas, se esconde no papel à procura de. Fica lá, quietinho quietinho, na dele. imóvel. Anunciam sua morte quando tudo o que isso, que existe, quer mostrar é vida. Um pingo de vida. Aperta o próprio peito, tenta esquecer de si mesmo: lembra que existe. Atordoa, destrói, paraliza, quebra a bolsa dos valores. De todos, questiona tudo, não acha pilares. Caminha entre os escombros de suas vítimas. Encontra uma flor e tenta a sorte grande às custas das frágeis pétalas. Sentado, existe e espera - em pé, andando de um lado para o outro enquanto as luzes acordam.

Limdo, limdo...

Dói, dói e dói. Não é que doa exatamente, embora doa, ou talvez não haja registrado nesse lindo e triste idioma – nem em algum que seja feio e feliz - uma palavra que configure especificamente esse tipo de sensação abstrata. É uma dor que dói e não dói e lateja e mexe e desconcerta e transfigura e deixa marcas – que ninguém enxerga. Sim, ninguém enxerga, ninguém percebe, ninguém sente, exceto. Ninguém. Não são palavras, parece mais um faqueiro completo, Ginsu 2000, afiado, doidinho pra tocar você. Imagina o peso de 24 peças te perfurando ao mesmo tempo. Dói e não dói. E dói. Não dói exatamente. Mas descascar, ficar nu, sempre é algo tanto quanto estranho, a-pa-ren-te-me-nte incômodo. Entenderem é estranho, bonito e in dolor. Dói, quer dizer, não dói, quer dizer, isso que se sente quando se pensa e se tenta negar o que se sabe que é.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ai palavras, ai palavras...

As palavras são uma floresta sem trilha.

(Roberto Santana)

Pulando o abismo.

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

(A Arte de Amar, Manuel Bandeira)