segunda-feira, 28 de junho de 2010

A arte de viver.

A arte de viver - visto que para viver é preciso maltratar os outros (veja-se a vida sexual, veja-se o comércio, veja-se qualquer atividade) - consiste em acostumar-se a fazer qualquer cachorrada sem abalar nossa ordem interior. Ser capaz de qualquer cachorrada é a melhor bagagem que um homem pode ter.

(O Ofício de Viver, Cesare Pavese)

domingo, 27 de junho de 2010

Do ofício. (3)

28 de janeiro de 1937.

Qualquer desgraça, ou é engano de nossa parte e não desgraça, ou então nasce de uma nossa insuficiência culposa. E já que nos enganamos a culpa é nossa, é somente a nós mesmos que cabe a culpa em qualquer desgraça. E agora console-se.


30 de setembro de 1937.

Mas isto é o mais atroz: a arte da vida consiste em esconder às pessoas mais queridas a alegria pessoal de estar com elas, senão acabamos por perdê-las.



16 de novembro de 1937.

Para possuir algo, ou alguém, é preciso não se lhe entregar, não perder a cabeça por isso, enfim, permanecer superior. Mas é lei da vida que a gente somente goza daquilo que se entrega. Os inventores do amor de Deus é que eram entendidos: não existe mais nada que ao mesmo tempo a gente consiga possuir e gozar.


17 de novembro de 1937.


Toda mulher deseja avidamente um amigo a quem fazer confidências e que possa preencher o vazio das horas em que o terceiro está distante; exige que esse amigo não a perturbe em seu amor: mas quando o amigo se recolhe dentro de si e reprime seus olhares e palavras com o único fito de não mais sofrer com aquele desejo, logo a mulher – toda mulher – volta a lançar olhares, unhas e palavras para saber e ver que ele sofre. E ela o faz sem perceber.

E, sobretudo, lembrar-se de que fazer poesia é como fazer amor: a gente nunca há de saber se a alegria que sente está sendo compartilhada.

É incrível que a mulher idolatrada venha dizer que seus dias são vazios e atormentados, mas que ela não quer nada conosco.

A recompensa por ter sofrido tanto é depois morrer como um cachorro.


(O ofício de viver, Cesare Pavese)

Do ofício. (2)

A mulher que não for tola, cedo ou tarde, encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. As vezes consegue. Mas a mulher que não for tola, cedo ou tarde, encontra um homem são e o reduz a um farrapo. E sempre consegue.

(Cesare Pavese)

Dos equivocos. (2)

Permitir ser desrespeitado por aqueles com quem se relaciona.

sábado, 26 de junho de 2010

Das mudanças.

Não existe. É agora ou nunca.

Três vivas!

À angústia.

Do ofício.

18 de setembro de 1938.

Nas relações com as pessoas, basta um instante de ingenuidade para sermos laureados com dias inteiros de submissão aos outros.

5 de janeiro de 1938.

A arte de viver é a arte de saber acreditar em mentiras. Mas o terrível é que, não sabendo quid sit veritas, sabemos no entanto o que é a mentira.

28 de junho de 1940.

Também na história ocorre que, quando uma coisa poderia vir a ser agradável, não se concretiza; só irá se realizar quando, para nós, for indiferente.

24 de outubro de 1940.

Somente sabemos adotar estratagemas amorosos quando não estamos apaixonados.

(O ofício de viver, Cesare Pavese)

A caminho da cama...

Eu sempre vou dormir com uma na cabeça...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pilulas de sabedoria.

O inevitável não pode ser evitado.

(Roberto Santana)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Acordar.

A vida não passa de um hábito de acordar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ana, Ana...

vazio agudo
ando meio
cheio de tudo

(Paulo Leminski)

Para sossegar.

39

De repente, como se um destino médico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anónima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura. Maravilho-me do que consegui não ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou.

Olho, como numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com um pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minhas ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógicos, não foram, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento. Nem sequer representei. Representaram-me. Fui, não o actor, mas os gestos dele.
Tudo quanto tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou a um ente falso que julguei meu, por que agi dele para fora, ou de um peso de circunstâncias que supus ser o ar que respirava. Sou, neste momento de ver, um solitário súbito, que se reconhece desterrado onde se encontrou sempre cidadão. No mais íntimo do que pensei não fui eu.

Vem-me, então, um terror sarcástico da vida, um desalento que passa os limites da minha individualidade consciente. Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento. E a minha sensação de mim é a de
quem acorda depois de um sono cheio de sonhos reais, ou a de quem é liberto, por um terramoto, da luz pouca do cárcere a que se habituara.

Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê.
É tão difícil descrever o que se sente quando se sente que realmente se existe, e que a alma é uma entidade real, que não sei quais são as palavras humanas com que possa defini-lo. Não sei se estou com febre, como sinto, se deixei de ter a febre de ser dormidor da vida. Sim, repito, sou como um viajante que de repente se encontre numa vila estranha sem saber como ali chegou; e ocorrem-me esses casos dos que perdem a memória, e são outros durante muito tempo. Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e a consciência -, e acordo agora no meio da ponte, debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firmemente do que fui até aqui. Mas a cidade é-me incógnita, as ruas novas, e o mal sem cura. Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inteligente e natural.

Foi um momento, e já passou. Já vejo os móveis que me cercam, os desenhos do papel velho das paredes, o sol pelas vidraças poeirentas. Vi a verdade um momento. Fui um momento, com consciência, o que os grandes homens são com a vida. Recordo-Ihes os actos e as palavras, e não sei se não foram também tentados vencedoramente pelo Demónio da Realidade. Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada íntima, da palavra mágica da alma. Mas essa luz súbita cresta tudo, consume tudo. Deixa-nos nus até de nós.

Foi só um momento, e vi-me. Depois já não sei sequer dizer o que fui. E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir.

(Livro do Desassossego, Bernardo Soares)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Resposta ao otimismo.

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

(Futuros Amantes, Chico Buarque)

Dos equivocos.

Viver se contentando em pegar as migalhas espalhadas pelo chão.

Do existir.

A existência só é tolerável quando ela mesma é suplantada.

Admito.

Eu errei.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Repostando.

Well I say it's just smoke
So you say it's the hair of ghosts
So I say it's the white hair of Poseidon
Ebbing in the tide in some dead sea

So you say it's some Shroud of Turin
And the sun wore it white and the earth wore it thin
Or the sun wore it white and His faith wore it thin
Unraveling heavenward
It's saddled to tiny birds
Or other such winged things
Either way they are struggling
Either way they are miniature
Either way they're invisible
But either way they're confused
As Hell would have them

And the pattern of flight is chaotic and blind
But it's right cause chaos is yours and it's mine
And chaos is luck and like love and love blind
The pattern of flight is chaotic and blind
But it's right cause chaos is yours and chaos is mine mine mine mine
And chaos is love and they say love is blind

But they're subject to hating us
Oh, just like the rest of us
Oh, we're just like the rest of us
They need the rest of us to stay alive
So thats not where confusion lies
That's not where illusions to the fact that the truth is just smoke in your eyes
Does lie

Confusion lies in which other wicked things do lie with
Confusion lies in which other wicked things do lie with
And chaos is yours
And chaos is mine
And chaos is love and they say love is blind

So I say oh I see now it's just smoke
So I say oh I see now it's just smoke
Oh I say oh I see now it's just smoke
Oh I say oh I see now it's just smoke

(Winged/Wicked Things, Sunset Rubdown)

domingo, 13 de junho de 2010

Magic vs. Midas.

Todo amor é necessariamente uma forma de constrangimento.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Das tragédias.

Obrigado pelo presente de grego: estou novamente apaixonado.

domingo, 6 de junho de 2010

Um verso.

(Pode ser) Um vírus grave ou uma simples falta de atenção.

Na torcida.

Por Arjen Robben.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Il Maledito.

Sim espera você a sua vez que eu não sei esperar.