sexta-feira, 29 de maio de 2009

No Forno.

Ah, se o amor me inspirar,
Ele vai te ensinar
A escrever sobre você.

Vou desenhar teu coração
Num guardanapo sujo de hotel
E entregar assim, sincero
E sem pudor.

(Toda Feita de Azul, Jonas)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Dragonslayer.

Silver Moons – “Uma das melhores canções já produzidas por mãos humanas”. Foi assim que o Bill, autor do Vague Space, definiu a canção. Para ser sincero, eu fico pasmo com a capacidade do Spencer Krug fazer músicas de abertura definitivas. Basta relembrar a tensão claustrofóbica de Stadiums and Shrines II, de Shut Up I Am Dreaming, ou então o pop pseudo-dançante de The Mending of The Gown, de Random Spirit Lover. Silver Moons, embora musicalmente diferente das suas predecessoras conserva algo em comum: a perfeição. Não tem como não se emocionar ao escutar a voz visivelmente chorosa de Spencer Krug dizer coisas como ‘talvez estes dias estejam encerrados, agora’ ou ‘eu amei melhor que qualquer um que você já conheceu’. Mas seguramente a parte mais bela da canção é sua desaceleração, quando entra a voz de Krug amparada apenas por um piano e, em seguida, surge uma parede de guitarras distorcidas que abre para um final grandioso, num misto de esperança e desilusão, encerrando a canção num dueto sem instrumentação entre Krug e Camilla.

Idiot Heart – “Mais uma daquelas canções de amor obsessivas compostas por Spencer Krug” disse o Lívio Vilela, do Bloody Pop em post que foi transcrito há algum tempo nesse blog. Essa definição nunca me saiu da cabeça: “canções de amor obsessivo”. E de fato, talvez este seja o melhor rótulo possível de se dar as canções compostas pelo Spencer Krug – seja no Sunset Rubdown, seja no Wolf Parade ou mesmo para o Swan Lake. Bem que se diga, muito provavelmente é por conta disso que suas canções têm tanto impacto em minha vida. Afinal, que outro compositor de sua geração teria a coragem – ou melhor, o atrevimento – de batizar uma faixa com o nome Idiot Heart? Não bastasse isso, Idiot Heart é Idiot Heart: uma canção ‘filhadaputa’, repleta de ódio e ao mesmo tempo aquela ternura diluída que é capaz de negar a própria natureza desse mesmo ódio. “And you know a heart, but it’s an idiot heart”. Poisé: outra facada no coração. Sem dó nem piedade.

Apollo and the Bufallo and Anna Anna Anna Oh! – Esta faixa era uma das duas únicas que até então não haviam sido registradas em vídeos do Youtube e, portanto, geravam uma maior expectativa em relação as demais de Dragonslayer. O clima oitentista remete as baladas pop da... Cyndi Lauper?! Embora não pareça, isso é um tremendo elogio! Uma das poucas músicas ‘melodicamente românticas’ da história da banda traz também uma grande incógnita: Anna, por que você trocou seu nome?

Black Swan - Certamente a música a ser descoberta no disco. A estrutura linear da canção, a princípio, incomoda os ouvintes, afinal, como definiu o César M. do blog Indienation as músicas do Sunset Rubdown “são marcadas por estruturas complexas, cheias de batidas militares que desembocam em valsinhas de 15 anos infernais”. O problema é que Black Swan é daquelas canções que gostam de brincar com a gente: de repente, sem mais nem menos, você se pega no ponto de ônibus cantando sozinho my heart is a kingdom/ Where the king is a heart/ my heart is king/ the king of... hurts. A parte dançante do final é avassaladora, sobretudo quando Krug canta daquele jeito perfeitamente desesperado que só ele sabe fazer: You've got mascara all over your bedsheets/ You've got mascara all over your clothes/ You've got mascara making broken heart shapes on your face/ And you have yet to see the ghost. Aí já era.

Paper Lace – Paper Lace é uma regravação da brilhante canção composta por Spencer Krug originalmente para Enemy Mine, segundo disco Swan Lake. E regravações são sempre arriscadas, pois inevitavelmente vão suscitar comparações. E, oras, qual é a melhor versão? As duas. Esse é o ponto: se com o Swan Lake o tom era de melancolia, com o Sunset Rubdown a canção ganha injeção pop sem perder a emoção que a caracterizava originalmente. Belíssima releitura.

You Go On Ahead – Lembro-me da excitação que tomou conta de mim quando ouvi a primeira versão desta canção, ainda acústica. E lembro de ter ficado tanto quanto desapontado ao testemunhar via Youtube a versão plugada, versão esta registrada em Dragonslayer, afinal, menos me parecia mais. Só que as inúmeras audições desta canção me fizeram resgatar a magia original da mesma. Outro hino obsessivo típico do Sunset Rubdown, sem dúvida e novamente remetendo a Cyndi Lauper – e novamente isso é um grande elogio! Mais um ponto alto de um disco que desconhece o significado da palavra vale.

Nightingale/December Song – A música mais distinta do cd e, talvez, de toda a discografia da banda. A primeira impressão, devo confessar, foi péssima. Até porque como nenhum registro da canção havia caído na internet antes do vazamento oficial do disco, Nightingale/December Song era uma das que geravam mais expectativas entre os fãs do Sunset Rubdown. Mas depois das sucessivas audições, a música finalmente começou o dar da sua graça. Com um começo a la The Hanging Garden, do The Cure, a música desemboca num clima medieval, sóbrio, sem as tradicionais vocalizações de Krug. Mas nem por isso perde a imponência. A grandiosidade da canção está escondida nos pequenos detalhes de seu arranjo.

Dragon’s Lair – “Não me lembro de uma música melhor do que Dragon´s Lair em anos. Talvez em toda minha vida”. Quisera fosse exagero do grande Ted, mas ‘infelizmente’ não é. Depois de Shut Up I Am Dreaming of Places Where Lovers Have Wings e Child-Heart Loosers, que pareciam músicas de fechamento de cd totalmente insuperáveis, Spencer Krug surpreende mais uma vez e encerra Dragonslayer com os 10:27 min de Dragons’ Lair. O que falar de uma música dessas? Quero dizer, o que vocês esperam de uma música? E depois dizem que ninguém consegue criar mais nada de absolutamente marcante na história do rock. Ok, Dragon’s Lair não é música. Não pode ser enquadrada como uma música: é emoção em estado bruto com suas alternâncias suavemente bruscas entre tensão e esperança. Não há como passar imune por essa canção. A música que marca não é a que nos convence, mas sim a que nos vence e ainda assim nos faz como verdadeiros campeões. “It’s time for a bigger kind of kill”.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Abertura.

Confetti floats away like dead leaves in the wagon's wake.
There were parties here in my honor 'til you sent me away.
And now silver moons belong to you.

I'm passing the baton from the old mare to the fawn.
It was out of line, but it was fun.
Didn't you love the part right before the dawn?
And now silver moons belong to you.

I'm off to the ballet and to practice all these ancient ways.
Tell the new kids where I hid the wine.
Tell their fathers that I'm on my way.

Hey, Hey!
Maybe these days are over, over now.
Maybe these days are over, over now.
And I loved it better than anyone else you know.

And I believe in growing old with grace.
I believe she only loved my face.
I believe I acted like a child making faces at acquired tastes.

And now silver moons belong to you.
And silver moons belong to you.

I'm off to the ballet and to practice all these ancient ways.
Tell the new kids where I hid the wine.
Tell their fathers that I'm on my way.

Sing "ay oh ay oh ay oh ay!"

Hey!
Maybe these days are over, over now.
I think maybe these days are over, over now.
I believe in growing old with grace.
I believe she only loved my face.
And I think maybe these days are over, over now.

Gone are the days bonfires make me think of you.
Looks like the prophecy came true.
You are a fallen tree; he is a fallen tree.
How old are you? No, how old are you?

Under all the folds of the dresses that you wear.
There's an ocean and a tide and a riot in the square.
Over are the days that the compass made your hair.
Sway around to the cadence of your cheer.
(x3)

Under all the folds of the dresses that you wear.
Sway around to the cadence of your voice when you sang there.

(Silver Moons, Sunset Rubdown)

Fechamento.

I'm sorry that I’m late
I went blind
I got confetti in my eyes
I was held up at yesterdays parties
I was needed on the congo line

But my dear, oh my dear
I'd like to fight the good fight for another couple years
Cause to say the war is over is to say you are a widow oh oh oh
You're not a widow yet
You're not a widow yet
You're not a widow yet
You're not a widow yet

So this one's for the critics
And their disappointed mothers
For the cupid and the hunter
shooting arrows at each other
There's no such thing as a saint
There's no such things as a sinner
Whoa-oa-oa

There's a swan amongst the pigeons on Barcelona's floor
There's a Samson with Delilahs lining up outside the door
If you are sharpening your scissors I am sharpening my scissors
And I am sharpening my sword

So you can take me to the dragon slayer
Or you can take me to Rapunzil's windowsill
Either way it is time
For a bigger kind of kill
A Bigger kind of kill

I see your face when I close my eyes
I see the muscles in your legs from the way you always rise
To the occasion of catching things that fall
Like the statuettes on pedestals I tend to build too tall

But I have navigated Iceland
I laid my claim on Portugal
I have seen into the wasteland
Of the future
Of the future of us all

Wah ah oh
I kicked at a whole country of dead dead leaves last fall
I kicked at a whole country of dead dead leaves last fall

Dead leaves
Dead leaves
Dead leaves

Seen from the back of a train
I rode away from your station
They drifted in the air
Like memoirs of old conversations
Sprung from a leather case
You opened in the wind
To watch the papers chase each other
Into oblivion

You’re such a champion
You're such a champion
I hide behind your sun
You are the champion

So you can take me to the dragon slayer
Whoa-oa-oa
You can take me to Rapunzil's windowsill
Whoa-oa-oa
Either way it is time, it is time
For a bigger kind of kill
A bigger kind of kill

(Dragon's Lair, Sunset Rubdown)

sábado, 23 de maio de 2009

Júlia.

Não, as coisas lindas,
muito mais que findas,
essas ficarão.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Paixão Segundo H.H.

Prá onde vão os trens, meu pai?
Para Mahal Tami, Cam rí, espaços no mapa, e depois o pai ria:
também prá lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se
mova o trem tu não te moves de ti.

(Tu não te moves de ti, Hilda Hilst)


Mas pensa, se você é o bicho medonho, você só tem que esperar meninhos na margem dos teu rio e devorá-los, se você é o crisântemo polpudo, você só pode esperar ser colhido, se você é o menininho, você tem que ir sempre à procura do crisântemo e correr o risco. De ser devorado.

(Fluxo, Hilda Hilst)


e eu choro, Hermínia, choro de velho que estou ou que me sinto, choro porque não sei a que vim, porque fiquei enchendo de palavras tantas folhas de papel... para dizer o quê, afinal? do meu medo, um meod semelhante ao medo dos animais esocrraçados, e pânico e solidãi, e tantas mesas tantos livros tantos objetos... esculturas, cerâmicas, caixas de prata... aliso-me, e minha pele está cheia de manchas meio amarelas.

(Estar Sendo. Ter Sido, Hilda Hilst)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Tempo.

I

- Não acredito que você comprou esses peixes, mãe! Por que isso?
- Tinha um aquário vazio aqui e além do mais eu sempre achei peixes bichos tão bonitinhos!
- Mas eles não vão ficar aqui em cima do computador, não é?
- Claro que vão, ué! Aqui eu posso brincar e conversar com eles e sempre vai ter alguém por perto para eles não se sentirem sozinhos!
- (...).

II

- Eu vou viajar este final de semana. Não esquece de dar comida para seus irmãozinhos!
- É brincadeira, mãe... Irmãozinhos? Aiaiaiaiaiai.
- São cinco bolinhas pra cada um só, senão eles morrem! Cinco de manhã e cinco à noite. Cuida deles direitinho, viu.

III

- Cinco bolinhas só? Vocês vão morrer de fome. Imagina só se me dessem cinco grãos de arroz... Toma mais uns aqui!

(A cada vez que ele dava comida aos peixes ele olhava fascinado os pequenos bichinhos irem com toda a voracidade em direção às pequenas partículas de ração).

IV

- Olha que bonitinho eles dormindo! Não tão nem aí para a música alta.
- (...).

V

- Mãe, esses bichos estão muito estranhos. Eles passam o dia inteiro parados. Mal mal eles estão comendo... Tem alguma coisa muito esquisita.

VI

(Ele fica com o coração partido olhando de minuto em minuto para um dos peixinhos que um dia tivera um vibrante tom azul esverdeado enquanto este, agora esbranquiçado e perdendo escamas, lentamente se dirige a superfície do aquário com extrema dificuldade tentando respirar).

Epílogo

0, 1, 2, 3, (...), 3, 2, 1, 0.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Mera Coincidência.

Acontece que quando eu fico interessado em uma garota eu simplesmente não consigo me comportar normalmente. Eu até me comporto de forma normal. Mas tem uma coisa irritante de ficar sorrindo ou sendo simpático e atencioso e cuidadoso o tempo inteiro e isso me irrita. E eu não consigo evitar porque é como se eu estivesse segurando uma bandeja com uma bomba em cima. É como tentar se equilibrar em uma corda bamba. Você sorri e se comporta todo receoso porque tem medo dela descobrir o quando você tá nervoso ou o quanto voce é idiota ou o quanto você queria ao menos encostar nela.

E todas essas vezes que ela me puxava pra conversar eu simplesmente não sabia o que dizer porque eu nao estava natural. A maldita pressão me matava. 'Será que ela tá afim? Se tiver eu tenho que fazer algo logo'. Quando simplesmente o correto seria só se comportar normalmente e pronto.

A banda entrou no palco e eu quis conversar algo com ela, quis falar qualquer merda. Mas eu simplesmente não sabia o que dizer porque não tinha o que dizer.

Repeat.

"Insane love is awakening."
That's what they said in a movie.
That's what they said in a movie.
It was a movie with dancing.
It was a movie with dancing
and the red-chested singing of golden voices making their turquoise announcements of love.

"Ask the moonlight the name of this world."
That's what they said in a movie.
That's what they said in a movie.
And I can only assume,
I can only assume that the answer was blue,
or I can only assume that the answer was green
and blue.

"Insane love is awakening."
That's what they said in a movie.
That's what they said in a movie.
They said, "Ask the moonlight the name of this world."
And I can only assume that the answer was blue,
or I can only assume that the answer was the breaking of an astronomical truce.

Or I can only assume that the answer was white,
and phrased in a riddle in the shape of pure light
that issued from a killer draped in blue silk flashing silver.
Or I can only assume that the answer was white,
and phrased in a riddle in the shape of pure light,
and issued from a killer draped in blue silk flashing silver.

Or I can only assume that the answer was blue,
it seemed like a lie, but the truth was the truth,
and it came from a child draped in white silk flashing silver.
Or I can only assume that the answer was blue,
it seemed like a lie, but the truth was the truth,
and it came from a child draped in white silk flashing silver.

Flashing silver like the knife of a killer,
like the knife of a killer.
Flashing silver like the knife of a killer,
like the knife of a killer.
Flashing silver like the knife of a killer,
like the knife of a killer, ohoh.
Flashing silver like the knife of a killer,
and only when the cameras were shut down.
Only when the cameras were shut down.
And only when the cameras were shut down.
And only when the cameras were shut down.

(Insane Love Is Awakening, Sunset Rubdown)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Silêncio.

Mas se eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gigante.

(A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Crédito.

But keeping things clean doesn’t change anything.

(Hate It Here, Wilco)

***

Apesar de Wilco (The Album) dever se chamar, na verdade, Wilco (The Error), um cara que escreve uma pérola dessas sempre tem seu crédito. Mas se lembre que a paciência acaba, Jeff querido!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Boate Negra.

Num lance de velhas escadas
Te encontrei tão preocupada
Com o rosto pálido e a boca roxa
De quem se esqueceu pra onde vai
De onde o meu cérebro estava
Te analisei como cilada
Com os pontos fracos e os pontos fortes
De quem se vendeu para o diabo
Se vendeu pra não se dar
A decisão foi te seguir
Sem perguntar
Foi me deixar levar
Pra onde a confusão está
E antes que você se desfaça
Te seguirei sem pedir nada
Com os olhos calmos e o orgulho solto
Desaprendi a caminhar
No fim da linha de uma estrada
Te abandonei com pés descalços
Com o corpo farto e a barba longa
De quem morreu mas nunca cai
Morreu mas ainda sai
A indecisão também é minha
Deixa cansar
Ou se deixe então guiar
Pra onde a confusão está

(Distração, Beto Cupertino)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Modus Operandi.

(...), mas (...).

Anti-Herói.

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?

(Clarice Lispector)

Salvação.

Pessoal, vou narrar um acontecimento aqui pra vocês com toda a honestidade possível, em detalhe. Como todos aqui da comunidade sabem, estávamos com uma banda nova formada, com o excelente baterista Zé Junqueira, e tínhamos já cerca de 7 músicas ensaiadas. Estávamos entrando na fase final de composição de um total de 10 músicas para gravar um disco. Disco esse, diga-se de passagem, que temos de crédito no estúdio Rocklab, o mesmo em que gravamos o Tribunal Surdo e o Redenção dos Corpos, com o grande produtor Gustavo Vazquez. Até aqui, tudo bem. Na sexta-feira, feriado de 1º de maio, o Zé me ligou e me contou que havia sido chamado para entrar na banda Pedra Letícia, com vantagens financeiras que ele não tinha, obviamente, tocando com a gente. Ele então tomou a acertada decisão de se juntar ao Pedra Letícia, o que eu, no lugar dele, provavelmente teria feito também. Foi muito honesto com a gente e, bom que se diga, não houve nenhum tipo de grilo ou indisposição por causa da saída dele. Pelo contrário, dou e vou sempre dar a maior força pra ele porque é um músico de mão cheia e merece participar de uma banda que está estourando aí por esse Brasilzão de quem? De meu Deus.

Aí ficamos eu, Pedro e Thiago naquela situação: o que fazer? Arrumar outro baterista e começar do zero de novo, ter todo aquele processo de conhecer uma nova pessoa, e etc. Confesso que pensei até em parar de ter banda. Deu uma descrença e um cansaço. Então eu liguei pro Thiago e falei pra ele que tínhamos duas opções: arrumar um novo baterista pra banda nova ou encher o saco do Pierre pra que ele voltasse a tocar com a gente. Dei a opção do Pierre porque, depois de quase 1 ano sem tocar, ele vez ou outra me confidenciava uma certa saudade da vida em banda. Nesta mesma sexta-feira, fui até a casa do Pierre. Falei pra ele o que estava acontecendo com a banda nova e disse pra ele que seria uma motivação única se a gente voltasse a tocar junto e aproveitasse o disco que a gente tem de crédito no estúdio pra gravar um novo disco do Violins.

Confeso que fui sem muita esperança, porque o Pierre é o cara mais doido que eu conheço. Mas é aquele doido do coração maior, o doido de natureza, que é impossível você não amar e querer estar perto. Tão doido que já tinha vendido a sua bateria, ferragens, caixa, etc. Ele tinha parado de tocar totalmente. Mas naquela tarde acho que ele sentiu novamente que era hora de voltar a tocar, de fazer parte de uma banda de novo, de compor músicas de novo. E me disse que ia pensar e me respondia em breve. Passaram-se dois dias e ele me ligou e disse: "cara, passei o dia aqui ouvindo os discos, e to com muita vontade de voltar a tocar de novo. Vamos voltar a tocar."

Era o que eu, pessoalmente, precisava de ânimo pra continuar tendo banda. Voltar a gravar com essas mesmas pessoas um disco é uma coisa que eu já não esperava mais e que veio numa hora muito massa pra todos nós. Fui com o Pierre numa loja de instrumentos de Goiânia e compramos tudo que ele tinha vendido. Marcamos uma reunião pra sábado último e definimos o que a gente está com vontade de tocar e compor. Chegamos fácil a um consenso. Marcamos um primeiro ensaio de retorno para sábado próximo, coincidentemente dia do aniversário do Pierre.

Sei que às vezes pode parecer meio loucura a história de percalços dessa banda. Mas é tudo muito sincero. Um dia, deu vontade de parar de tocar e descansar de tudo, sair daquele hábito já corriqueiro demais. Passado um tempo, a vontade de fazer tudo de novo voltou e a gente se joga nisso de novo sem medo do julgamento alheio. Até porque a gente vai fazer esse disco simplesmente porque a gente gosta muito de tocar junto. E, se tiver alguém que vá ouvir e se identificar, a gente só tem a agradecer.

Vai ser um disco do Violins no estilo tradicional, com uma guitarra bem alta no ouvido de todo mundo. Vamos gravar o disco e depois fazer shows pra lançá-lo normalmente. Como qualquer banda!

Espero inclusive ir nas cidades que não fomos ainda. Ainda dá tempo!

(Beto Cupertino)

***

Quando a felicidade vem como a um bêbado é imediato.

domingo, 10 de maio de 2009

Em Outra Estação.

Sei que não tenho a força que tens
Se me vejo feliz quase sempre exijo um talvez
Ela mora perto de um vulcão
E meu coração suburbano espera riquezas maiores
Eu sigo o calendário maia
E sou descendente dos astecas
Hoje vai ter prova
Mas no final da aula
Acho que tem futebol
Gosto quando estou feliz
Gosto quando sorris para mim
Estou longe, longe
Estou em outra estação
Não me digam como devo ser
Gosto do jeito que sou
Quem insiste em julgar os outros
Sempre tem alguma coisa p'ra esconder
Teu corpo alimenta meu espírito
Teu espírito alegra minha mente
Tua mente descansa meu corpo
Teu corpo aceita o meu como a um irmão
Longe longe, estou em outra estação
Todos fazem promessas demais
Temos muito o que aprender
É um feitiço tão latino
Essa preguiça ser feitiço
Mas tudo bem
Voltarás na terça-feira
És fogo e gelo ao mesmo tempo
E vai ser bom
Do Equador, da Venezuela, do Uruguai
Teremos o fim-de-semana só p'ra nós
Venha comigo
Não tenha medo
Tem muita gente
Que pensa o mesmo
Estou longe, longe
Estou em outra estação.
Estou longe, longe.

(Uma Outra Estação, Legião Urbana)

sábado, 9 de maio de 2009

Objeto Não Identificado.

Sentado, num relance ele percebe o incômodo e logo em seguida mentalmente se indaga: ‘mas de onde vem esse frio’? Naturalmente começa pelo início, toma um primeiro cuidado em observar as circunstâncias tidas como mais evidentes. Verifica se as janelas estão abertas, se existe alguma fresta - por menor que seja – capaz de permitir a circulação de alguma corrente de ar mais gélida e efetua rapidamente a vedação. Apesar de algumas das janelas realmente estarem abertas, a sensação de frio persiste e não deixa rastros quanto a sua origem. Num instante posterior, percebe que se encontra em trajes mínimos e diante disso corre imediatamente até o guarda-roupa em busca de alguma vestimenta. Afinal de contas, se o preceito da física estiver correto, isso impedirá – ou ao menos atenuará – as trocas de temperatura e lhe deixará protegido. Mas como toda ciência, a física também se mostra falha, seus princípios tão objetivos freqüentemente se perdem diante da concretude do cotidiano. ‘Talvez seja por conta de uma porta aberta’, imagina, uma daquelas portas cuja existência não é capaz de se dar conta, mas que mesmo assim permite o fluxo, o intercâmbio. Procura pelas portas. Todas. Uma por uma as fecha, corta as relações, restaura as fronteiras e ainda assim o frio não o deixa. Diante da janela, olha para a paisagem e, para seu espanto percebe a cor vibrante do sol em seu nascer. No entanto reconhece que nem sempre isso significa a presença de um calor, muito embora essa associação seja bastante tentadora. A sensação de desconforto começa a tomar conta dele, que procura insistentemente pelo grau zero de seu frio. ‘É absurdo’, pensa, ‘já tomei todas as precauções’, e ainda assim continua, diante daquele beco, procurando por alguma saída para sanar o frio. ‘Sanar, sanidade, é talvez seja uma questão de inversão’. Observa as páginas abertas de seus livros esparramados pelo chão e procura por alguma referencia, por alguma porta e diante das negativas, as fecha sumariamente. Recorre a uma estratégia simples, mas altamente eficaz, conforme outrora lhe confidenciou um amigo: ‘o álcool é o cobertor dos pobres’. Foi até a dispensa e percebeu que ainda havia uma garrafa de cachaça. ‘Tomara que realmente essa água seja ardente, que queime mesmo’, falou para si mesmo num daqueles fortuitos acessos de esperança. Não hesitou e, embora não estivesse acostumado, bebeu quase todo o conteúdo em poucos e grandes goles, com o mesmo desespero aparente com que costuma tomar sua coca-cola. Embora não tenha resolvido, eis que – talvez motivado pelo efeito alucinógeno do álcool - num daqueles momentos de revelação, Baader-Meinhof lhe vem à mente. Canta e ainda um pouco trôpego corre em direção ao telefone e disca. Chama, chama, chama e a ligação cai. Tenta mais uma vez e novamente não tem sucesso. Diante disso resolve pegar um amontoado de cartas antigas, cuidadosamente colocadas em uma pequena caixinha ornada, e enquanto saltam a seus olhos palavras plásticas de afeto e consideração, o frio torna-se acentuado. Como que com grande atraso, acende um fósforo e o lança sobre a caixinha de papel e seu amontoado de letrinhas. Buscando uma chama verdadeiramente calorosa, ele acaba despejando o restante da cachaça sobre o conteúdo. Com isso, atenua provisoriamente o frio, mas não o extirpa. Em seguida, após falar sozinho algo aparentemente ininteligível, pega as páginas mais obscuras de um jornal qualquer que está aberto em cima de uma mesinha de cabeceira e anota novo número. Liga, chama, atendem, combinam. Enquanto aguardava, recorda-se vagamente com um que de auto-desprezo do sonho ridículo que tivera tempos antes, em que, sem saber como nem porquê de repente se encontrará na companhia de um amigo dentro de um prostíbulo. O amigo tão rápido quanto entrou logo se perdeu em meio às belezas do local, mas ele, diferentemente, ficou ali a observar pequenos detalhes enquanto supostamente tentava fazer valer sua tal masculinidade para efetuar uma escolha. Observou uma garota que lhe chamara atenção, virou o rosto e, poucos segundos depois, quando admitiu seu interesse por ela, infelizmente, a moça não mais estava mais lá. No instante seguinte, sem que ele pudesse opor qualquer resistência, outra daquelas moças simplesmente lhe pegou pelos braços e o encaminhou para o interior de uma pequena cabine. Ao deparar-se novamente com este último fato, bradou um ‘quanta ironia, não é mesmo Dr. Freud!’ em meio ao seu tradicional gargalhar nervoso e prosseguiu em seu fluxo, novamente ao momento da cabine, o qual, novamente falando sozinho, classificou como patético: ‘olha se pode, um cara vai lá pra um puteiro, entra com uma mulher na cabine e, adivinhem o que ele faz? Nada! Simplesmente, de maneira tímida coloca a cabeça entre as pernas da moça, que provavelmente não deve ter entendido absolutamente nada, e começa a conversar sobre banalidades e, quase desfalecido, desfruta do pequeno prazer do toque das mãos dela em seus cabelos. É ridículo. Não, é patético. Vê se pode um sonho desses’. Não lhe resta outra oportunidade que não rir um pouco mais do absurdo da situação, do sonho, que, de fato, diz muito dele mesmo. Logo, ele não ri apenas do sonho, mas talvez sem se dar conta ri de si próprio, esparramado pelo chão ri do ridículo de ser ele mesmo. E ri ainda mais intensamente e mais raivosamente quando lembra que, de repente, ao se decidir por um contato mais íntimo com a tal garota – depois daquela necessidade romanticamente patética de se criar uma cumplicidade, um laço, um terreno comum, uma passado – o sonho termina exatamente como se o rolo daquele filme tivesse sido sumariamente cortado bem no exato fotograma em que a ação tomar um novo rumo. A velha história da imagem congelada. Só faltou terminar com uma legenda dizendo algo idiota como, ‘qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência’. Nada seria mais adequado para a situação em questão.

A campainha toca. O porteiro do prédio avisa que a senhora Paloma havia chegado. Ele pede para ela subir. ‘Paloma, Paloma... Como ela será?’, se indagou enquanto o já conhecido barulho do elevador revelava seu movimento. Segundos que separam. Havia escolhido Paloma por causa do seu nome exótico embora nem um pouco vulgar, afinal, todas as garotas dos anúncios sempre se descrevem como máquinas perfeitas, preparadas para te fornecer o grau máximo de prazer que você jamais desfrutou até então em sua vida. Talvez fosse mais apropriado o procedimento oposto, ou seja, escolher pelo nome que lhe parecesse o mais vulgar mais objetificado possível - alguma Shirley, Sheila ou com um apelido que terminasse em com algum Fogosoinha da vida. Mas mesmo tentando se livrar das reminiscências do romantismo, este ainda estava lá dentro dele, dando o ar de sua (des)graça nos pequenos detalhes. O elevador havia parado no térreo. Não havia mais volta. E no intervalo entre a subida de Paloma e o aguardado encontro, ele pensava em seus ‘belos’ princípios, na ilusão de jamais ter de recorrer a este tipo de solução, no próprio medo de colocar tudo a perder e se apaixonar por uma puta. ‘É o cúmulo!, ele dizia mentalmente enquanto o ridículo do seu sonho lhe vinha a tona. Afinal de contas, a questão era de outra natureza: sanar aquele insuportável frio. Tudo o mais já havia sido feito e diante desse quadro a única alternativa restante era buscar pelo chamado fogo de atrito, tão caro a tradição mágica. Uma questão puramente de carne, de troca de temperaturas e não de palavras e sentidos. Uma transação dupla, carnal e econômica, uma celebração do mercado. E se por ventura caísse na bobeira de tentar fazer a síntese com um estimulante ‘diz que me ama’, muito provavelmente ouviria como resposta a frase de amor mais sincera de toda a humanidade com uma crueza que o deixaria totalmente abalado: ‘aí é mais caro’. ‘O amor é só um preço’, constatou enquanto o elevador estacionava no seu andar.

Atrás da porta ele ouve os passos de um salto a procura do número correto. O último suspiro antes de Paloma. Ela toca a campainha, e, apesar de hesitar ele prontamente, numa reação puramente mecânica, abre a porta. ‘Olá, eu sou a Paloma’, identifica-se. Ele se apresenta e observa os traços de Paloma. Uma morena dos cabelos pretos que trajava um vestido igualmente preto até a altura do joelho, com um decote contido e uma maquiagem discreta. Não era exatamente uma Brastemp, embora para ele fosse até mais do que isso. Tinha um corpo que nada fazia alusão àquela perfeição maquínica, mas que por outro lado em nenhum momento o desapontara, muito pelo contrário, até porque ele jamais achara graça no que era perfeito. Embora não fosse uma pessoa gorda, estava um pouco acima de seu peso ideal e isso acabava, no fim das contas, sendo um ponto positivo aos olhos dele. Afinal, o que ele queria acima de tudo, era carne – um corpo e só. Tinha os peitos de um tamanho razoável, nem muito pequenos, nem exageradamente grandes – pelo menos quando amparados pelo vestido - e seu rosto era uma incógnita porque causava nele um misto de atração e repulsa, sem que se soubesse o porquê disso. Ah sim, como não poderia passar despercebido, o primeiro lugar que ele olhou mais detidamente, antes mesmo de se fixar no rosto de Paloma, foram seus pés. Sim, os pés, parte esta de suma importância erótica para ele. Ainda que ela não tivesse os pés de seus sonhos, não eram feios, estavam bem cuidados e as suas unhas haviam sido pintadas de preto, fato que saltou aos olhos dele. Uma curiosidade pouco relevante, apenas.

Após adentrar ao recinto, já por volta das 8 horas de uma manhã de sábado, Paloma foi direto ao assunto e disse: ‘Embora não seja a maneira mais romântica de começar, eu costumo acertar tudo antes porque, sabe como é, eu já fui passada para trás algumas vezes e não quero ficar no prejuízo’. Diferentemente do que ela acreditava, ele achou ótimo que as coisas realmente começassem desse jeito, até porque já fixava de uma vez por todas as bases contratuais do acordo e isso estabelecia os limites que aquela relação teria. Efetuado o pagamento e combinadas as condições – duração, posições e o escambau – começou propriamente o jogo. Ele foi logo para cima, sem nenhuma palavra anterior, o que estranhou Paloma: ‘mas você não prefere conversar antes, para criar um clima?’. Ele não se conteve eu soltou uma gargalhada espirituosa depois de ouvir tais palavras, pois na mesma hora se lembrou de um filme de Woody Allen em que a garota de programa em questão havia proferido similar idéia. Paloma sem entender a reação dele ficou claramente sem graça. Ele até pensou em explicar, ele até pensou em contar o inusitado da situação e dizer que pelos mesmos motivos do personagem de Woody Allen, sua resposta era negativa. Mas limitou-se apenas a dizer não, afinal, dizer sim, explicar, era arriscar criar uma cumplicidade e se abrir, criar um passado, tocar em feridas profundas e aumentar o risco de uma pneumonia que aquela ação procurava a todo custo sanar. Por outro lado, um pouco arrependido, ele pensou que talvez fosse Paloma, enquanto uma garota de programa, a pessoa mais adequada do mundo para que ele realmente pudesse dizer aquilo tudo que o afligia. Afinal de contas, uma pessoa que, segundo ele, cometia uma violência tão grande contra si mesma e contra os sonhos e ideais puritanos de uma sociedade completamente moralista ao ter de se prostituir para garantir o pão de cada dia talvez tivesse conhecimento de sobra para emitir uma opinião sobre o amor que não fosse tão leviana ou conveniente. Oras, ali, por bem ou por mal, mesmo que ainda contivesse em si alguma chama de um futuro diferente, de uma realização amorosa, Paloma sabia que diante dele ela não era uma mulher, ela não tinha escolhas, vontades, grandes liberdades – fora aquelas estabelecidas por aquele contrato tácito. Ela era apenas um objeto, um brinquedinho que seria dele por duas horas para que se satisfizesse a seu bel prazer. Pouco importava se ele a excitasse, se preocupasse em saber como ela estava se sentindo, se havia alguma dor, se ela tinha problemas ou o que esperava de sua vida, do futuro, se tinha medos e angústias, se acreditava em outra vida após a morte, se ela se sentia solitária. Essa era exatamente a grande vantagem: dois desconhecidos unidos por uma intimidade comprada, monetariamente comprada e esfregada, como quem diz, ‘me dá o meu prazer e me ofereça o calor que eu preciso, porque eu to te pagando, porra, e cala a sua boca porque a única coisa que eu quero é te comer’. O ‘amor’ ali era apenas um estímulo, parte do pacote das duas horas. Uma verdadeira apologia ao descartável destituída da hipocrisia de para sempre. Sem desculpas, sem consolos, sem justificativas. Puro e simples do desejo de possuir – e, para alguns, de subjugar – outro ser humano, outro corpo e satisfazer o instinto, colocar pra fora toda aquela porra guardada não só na bolsa escrotal mas dentro do cérebro e tentar atingir algum estado, mesmo que totalmente efêmero, de realização interior. Eliminam-se problemas como conquista e auto-estima da jogada porque seja ele feio, desprezível, sujo, há o dinheiro. Inconscientemente aquele acordo assumia a solidão como condição inequívoca de ambas as faces da moeda. O que ele haveria dentro dele não importaria a ela, assim como ele não se importaria com o que se passava dentro da mente de Paloma. Carne.

Não obstante a todas as benesses e vantagens da transação, ele não agüentou e voltou atrás. Primeiro, fez questão de explicar a Paloma o porque de sua reação tão inesperada, para que ela não se sentisse deslocada: ‘não sei se você já ouviu falar ou sabe quem é Woody Allen e a verdade é que saber que se trata de um cineasta, de um ator, pouco vai alterar a ordem do mundo e principalmente da sua vida. Quando eu dei risada, eu não o fiz para tentar te ofender, ou qualquer coisa do tipo, mas porque me lembrei de uma cena engraçada de um filme dele, cena esta que se repetiu aqui entre nós dois. O personagem do Woody Allen tinha contratado uma garota de programa e quando ela chegou na sua casa, se espantou com o fato de que ele não quisesse conversa e preferisse ir direto aos finalmentes. Quando eu disse não naquele primeiro momento, o fiz pelo mesmo motivo do personagem, afinal, eu estou pagando justamente para não ter a obrigação de te conquistar, de falar coisas que você queira escutar, de não reviver aquelas coincidências para as quais inevitavelmente sempre acaba por querer encontrar um sentido oculto, ou - e talvez no meu caso o motivo principal - de não ter que me expor e dizer nada sobre mim, porque eu sei o quanto isso pode ser complicado e perigoso. Em suma, eu não quero sua cumplicidade, não quero seu amor, mas apenas eliminar o frio que sinto’.

Pronto, a cilada estava armada. In principium erat verbum. Com esta preocupação tola por parte dele diante da expressão desconfortável de Paloma, a situação começava a ser inverter, afinal, eles haviam entrado no maravilhoso reino das palavras, onde tudo inevitavelmente se perde uma hora. Como um bebum que finalmente encontra alguém para ouvir suas idéias desconexas, disparou-se a falar contra o falar: ‘O que eu queria evitar é justamente o que sem querer eu começo a fazer agora, explicar, situar, mostrar, porque se tratam de atitudes verdadeiramente idiotas, mesmo idealmente sendo bonitas e louváveis, mas que só servem para, num momento posterior, serem mal interpretadas e se voltarem contra nós mesmos. O passado de cada um, aos olhos alheios, é sempre uma pedra disfarçada de rosas. Muito provavelmente uma moça como você já se apaixonou e viveu algum relacionamento que, tempos depois ruiu. Eu te pergunto, então, como começa essa história’?

Pega de surpresa com a situação, Paloma timidamente respondeu: ‘Ah, o começo é sempre um conto de fadas’. Aproveitando o ensejo, ele emendou: ‘Sempre fica aquele clima de cordialidade, de compreensão, do eu te aceito como você é, de um reconhecimento tão amplo que só pode ser fruto de um destino, não é mesmo? Mas eu te pergunto novamente, e depois?’. Paloma sem saber o que responder, como quem não quer dizer o que se sabe ser verdadeiro, com sua expressão reticente silencia-se e ele, então, mais uma vez retoma a palavra: ‘Pois é, você disse tudo Paloma. Foi por causa de um frio intenso, num acesso de certa maneira disparatado – para não dizer desesperado -, que eu encontrei seu nome no anúncio daquele jornal ali e resolvi te ligar. Foi justamente para não ter que ficar nu novamente que eu quis essa pseudo-nudez que ligaria nossos corpos. Foi justamente para não ter que te fazer nenhuma pergunta, para não ter que lhe dirigir nenhuma palavra que eu te chamei aqui. Sabe, foi pra não me importar se você acha o meu jeito estranho, minha fala muito formal, se me acha bonito ou feio que eu te chamei aqui. Diferentemente do que eu sempre acreditei, eu quis fazer sexo com você exatamente pelo motivo oposto que me fazia querer fazer sexo com alguém – ou no caso, um romântico fazer amor – ou seja, para não criar nenhum tipo de vínculo ou apego. Em nenhum grau. Você no seu canto, eu no meu, porque ao contrário do que muitos pensam, longe de ser a solução é esta exatamente a raiz dos problemas. Afinal de contas, o que é o amor se não uma desculpa cuidadosamente forjada para purificar o sexo? No fim das contas, Schopenhauer – outro que não vale a pena você conhecer – estava certo, somos apenas animais, filhos da mesma natureza contra a qual a todo custo, por conta de nossa grande presunção em saber falar, tentamos negar. Ninguém está disposto a entender ninguém, faz apenas parte do ritual de purificação. Satisfeito o instinto, as palavras voam no ar. Pense em você. Imagino que durante o tempo que você está nesta vida não foram poucas as vezes em que algum cliente mais assíduo cultivou em uma menina tão bonita quanto você a esperança de viver um amor, de uma vida supostamente respeitável com um daqueles futuros cor-de-rosa, não?’. Ainda refletindo sobre as últimas palavras dele, Paloma respondeu confirmando com a cabeça. ‘Mas quantos realmente cumpriram? Quantos estiveram realmente dispostos a te entender e respeitar sem preconceitos, sem pré-condenações? Quantos quiseram fazer dessa grande aventura uma outra ainda maior com você ao lado? Quantos largaram suas famílias para estar ao seu lado? Quantos vieram ao seu encontro quando você mais precisava? Quantos se dispuseram a conversar com você, a te amar verdadeiramente para além do êxtase momentâneo de uma trepada? Quantos sabem, ou melhor, quantos quiseram ao menos saber do universo que existe dentro dos limites da sua pele? Quantos deles se lembram do seu aniversário? Você tá no auge da sua forma física, na plenitude da sua sexualidade. E quando eu digo isso, não quero minimizar nem desprezar o seu trabalho, porque foi o jeito que você Paloma encontrou para se manter viva e isso é mais do que legitimo. Por outro lado, é apenas – e ao mesmo tempo, tudo – sexo. Findado o coito, não raramente o mal estar metafísico se apossa da mente dos seus clientes-pretendentes, que correm o mais depressa possível para longe de você e levam junto com eles todo o amor e os sonhos – até que surja a próxima necessidade. Bem aquela coisa da novela das oito. E como você se sente quando se vê novamente obrigada a esperar?”.

Eis que então, inesperadamente Paloma sem pestanejar o desconcerta: ‘eu me sinto com frio’. Novamente ele ri e novamente Paloma se sente sem jeito diante de daquela reação: ‘não fique assim, garota, porque eu não estou rindo de você. É que sem se dar conta, do alto de toda a sua sabedoria você resolveu um quebra-cabeças que me atormentava há um bocado de tempo. Pode parecer até uma brincadeira, mas eu te garanto que não é. Algumas horas antes que eu resolvesse te ligar, fui acometido subitamente por um imenso e inexplicável frio. Fiz tudo quanto foi possível para me aquecer: verifiquei as janelas, fechei as portas, vesti esta roupa com que agora você me vê, fechei todos os meus livros, bebi quase toda essa cachaça que estava naquela garrafa ali, queimei algumas memórias, tudo isso querendo compreender de onde vinha essa friagem. Nesse momento desisti de procurar pela origem de todo daquele gelo e resolvi apenas tentar encontrar um meio de me esquentar, mas esquentar de verdade: você. De repente, sem mais nem menos a situação é subvertida, pois ao quebrar o protocolo a senhorita me pega no contrapé e me coloca bem diante da resposta que eu procurava e não conseguia encontrar, talvez por estar tão incrustada a minha própria face. Nem calor, nem uma solução para o frio, apesar da descoberta. Por acaso você teria algum tipo de solução para essa situação’? Paloma sentada no pequeno sofá da sala olha bem fundo nos olhos dele e diz: ‘Infelizmente não tem solução. É aquela coisa do tempo passar, de se criar novas necessidades que tentem mascarar a ordem natural das coisas. Todo mundo sempre diz coisas bonitas nesses momentos, não é? Tipo, ‘é só uma fase’, ‘vai passar’, quando não, ‘você gosta de sofrer’, ‘você também não se esforça’. Mas é difícil quando não se vê pela frente um futuro. Não tem nada a ver apenas com extravasar, com tirar os pés do chão e pendurá-los no céu. Não é isso. Você disse das promessas e isso realmente acontece. E parece fácil olharem para mim como um bichinho para quem se faz um monte de promessas tentadoras, como se eu fosse totalmente passiva, como se eu fosse uma vítima. Eu talvez, diferentemente do que você pensa, até podia ter cedido facilmente a tentação de um ou outro galanteador. Mas que tipo de liberdade eu conseguiria ter dentro dessa relação? Oras, o meu passado das ruas estaria a todo momento como uma vitrine, esperando pelo primeiro vacilo, você percebe? Eu já comecei muitos contos de fada e já sei muito bem como eles terminam. Quando você coloca essa sua mágoa toda, eu realmente entendo não como quem diz ‘ah, eu te entendo’. Você já reparou que tudo mundo nos entende e contraditoriamente não entende lhufas? Falam as coisas de maneira automática, como quem acende a luz quando entra na sala. É tudo sempre muito banal quando não os afeta de maneira direta. Por isso, eu jamais poderia te dar uma solução sendo que eu também padeço de problemas parecidos. Não é porque eu sou uma garota de programa que eu não tenho uma vida, que eu não passo por dificuldades nesse campo sentimental. Para além do meu corpo, há também uma alma que tem necessidades, embora isso nem sempre pareça claro para quem está de fora. Mas também não sou mais ingênua a ponto de acreditar em príncipes encantados, em caminhos prontos. O meu trabalho é também a minha condição de liberdade, já que eu não consigo mais confiar em ninguém’. Desta vez quem ficou em reticente foi ele. O silêncio no ambiente não os incomodava. Era uma circunstância necessária. Depois de alguns minutos, Paloma retomou novamente a palavra: ‘agora eu inverto a sua questão e te pergunto: quantas vezes você se dispôs a acreditar, entender, se preocupar, quero dizer, amar verdadeiramente outra pessoa? Ou seja, o que você sente como sendo amor? O que há de tão célebre assim no amor que justifique algum empenho?’. Ele se surpreende com as indagações porque eram estas justamente as mesmas que ele queria fazer a Paloma pouco antes dela ter lhe dado a resposta de seu enigma. Porque se parecia cômodo colocar tais questionamentos a ela, por outro lado, a tarefa de responder a estas perguntas parecia-lhe um bocado espinhosa: ‘o problema, Paloma, é que colocando desta maneira você toca justamente a questão mais profunda, qual seja, tentar definir o que é amor. O que te faz amar alguém, se apaixonar por alguém? É muito difícil precisar isso, quero dizer, saber em que medida você ama outra pessoa, ou ama a si mesmo, ou ama apenas uma imagem que tem da outra pessoa, ou apenas se força a amar alguém. Muitas vezes quando você olha para alguém que você diz já ter amado e reconhece em momentos distintos da sua ligação com essa pessoa que você já conseguiu enxergar todas essas possibilidades que eu acabei de mencionar. O passado é sempre uma massinha de modelar. Saber o exato momento em que se apaixona por alguém é tarefa muito escabrosa, até porque, independente de qualquer possibilidade, o amor é sempre e inevitavelmente uma idéia. Diante disso, a dificuldade maior é saber de que maneira esta idéia te afeta os sentidos. Digo, suponhamos que você conhece uma pessoa e passa um tempo ao lado dela. Chega a ser hilário como é freqüente aquele encontro nem ser tão prazeroso, mas diante das suas demandas você procurar de todas as maneiras possíveis senti-lo como ótimo apenas e tão somente para ter a certeza de não estar sozinho no mundo. Isso já aconteceu comigo algumas vezes. Por outro lado, também é muito freqüente você sentir tão bem ao lado de uma pessoa a ponto de sequer se dar conta disso, do prazer, da necessidade de se ter prazer. Aquela coisa do amor muitas vezes não ser algo exatamente consciente, perceptível. Dessa maneira, eu acho que o amor é sempre uma aposta. Você tem que assumir o amor e ver no que vai dar, porque no fim das contas ninguém sabe quem é ele, como se manifesta, sequer se realmente existe. Em todo caso, é preciso dar a cara a tapa – e se preparar muito para apanhar, justo por causa de tudo isso que a gente falou, das incompreensões, da conveniência. A vontade de mostrar para o outro que existe algo dentro de você sempre é algo problemático porque, por mais que a grande maioria das pessoas queira amar e diga querer ser amada, a verdade é que no fim das contas esta mesma maioria tem medo desse amor e não raramente vive criando subterfúgios. Ou seja, querem e não querem ser amadas ao mesmo tempo, tem medo de se entregarem e de dizerem o que realmente sentem. Admitir que se gosta, se entregar é sempre assumir um risco. E assumir um risco é também a possibilidade de se quebrar ao meio, porque cada contato que mexe com o que há dentro da gente, mas que mexe verdadeiramente deixa raízes. E por vezes é muito mais fácil terminar isso antes mesmo de começar do que quando se sabe que não terá mais o controle da situação em suas mãos. Daí muitas vezes esses rótulos idiotas: mas ele é muito obsessivo, como se o fato de ser passional fosse um grande engano, como se a gente não pudesse mostrar e dizer o que se sente sob pena de ser desclassificado de antemão. Daí é mais fácil a nudez do sexo, que não exige nenhum tipo de abertura, nenhum vinculo, nenhum entendimento. Daí a preferência pela superfície em detrimento daqueles canais do subterrâneo. O importante é estar no controle, quando o ideal seria justamente o oposto. Ninguém quer pular na piscina porque realmente não há nenhum interesse em compartilhar e eu sempre vi o amor como a possibilidade mais bonita de partilha: uma troca mútua. É aquela coisa tola de querer ser amado sim, de se sentir aquela euforia gostosa e justamente por conta disso fazer o seu máximo para que o outro também sinta dentro de si toda a beleza que lhe proporciona. Daí a necessidade de um entendimento mínimo, ou mais do que isso, de uma vontade de se entender. E o amor tem a ver muito com esse esforço. A gente percebe quando há um esforço e é isso que nos faz sentir bem: a atenção. Mais até do que um entendimento perfeito, o esforço em entender. Só que na grande maioria dos casos, isso é apenas um jogo feito para impressionar, para estabelecer controle e nada mais. Essa é a grande dificuldade: será que existe algo fora do jogo da conquista? Encontrar uma pessoa assim é uma tarefa difícil, eu hoje diria impossível. Eu tento fazer a minha parte de acordo com as minhas limitações. Só que cada ação sempre pode ser lida de inúmeras maneiras possíveis. Ou seja, o princípio que norteia a conduta de qualquer pessoa é um só, rigidamente flexível, a velha lei da conveniência. Acho que esta é a minha grande birra, quero dizer, é muito difícil encontrar alguém disposto a sair de dentro de si mesmo, de se reconhecer verdadeiramente humano, imperfeito. O amor, para mim, seria a porta de saída, a possibilidade de momentos agradáveis diante da transitoriedade de uma existência. Só que eu não tenho muita certeza de que esta porta realmente exista.’ Paloma apenas assentiu com a cabeça, olhou para o relógio e percebeu que aquele papo já havia ultrapassado em quarenta minutos as duas horas combinadas pelo programa. Como não havia acontecido nada do combinado e sem a possibilidade de qualquer tipo de clima que fosse capaz de encadear alguma ação mais íntima, Paloma disse a ele que ficasse com o dinheiro, repassando-a apenas um pequeno valor estimado para o táxi. Ele, no entanto, se negou a aceitar o dinheiro de volta alegando que durante aquele período alguém eventualmente poderia ter solicitado o tempo dela e que, portanto, não era justo deixar de pagar por um período que ele efetivamente utilizou. Diante disso, levou Paloma até a porta de seu apartamento e quando logo depois de se despedirem com um tímido abraço, ela deixou escapar uma pequena frase antes de tomar o elevador: 'toda cura é provisória. Não se esqueça disso'.

Bom Conselho.

E sobretudo, se tiverdes paixões, não as ponhais à vista, por mais nobres que vos pareçam. Não se deve consentir a qualquer um o acesso ao nosso próprio coração. Um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez.

(A Ilha do Dia Antes, Umberto Eco)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ciclo.

A melhor coisa da vida:
Dormir.

A pior coisa da vida:

Acordar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Living la vida coxa - ou não.

É preciso ter esperança, mas esperança do verbo esperançar, e não do verbo esperar. Porque a esperança que vem de 'esperar' é pura espera, ao passo que quando proveniente de esperançar significaria se unir e ir atrás, não desistir.

(Paulo Freire)

***

Quem lê isso não acredita.

E Depois do Começo...

My eyes have seen the glory of the sacred wunderkind
You took me behind a dis-used railway line
And said "I know a place where we can go
Where we are not known"
And you gave me something that I won't forget too soon
But I can't believe you'd ever care
And this is why you will never care
These things take time
I know that I'm
The most inept
That ever stepped

I'm spellbound; but a woman divides
And the hills are alive with celibate cries
But you know where you came from, you know where
You're going and you know where you belong
You said I was ill, and you were not wrong
But I can't believe you'd ever care
And this is why you will never care
These things take time
I know that I'm
The most inept
That ever stepped

Oh, the alcoholic afternoons
When we sat in your room
They meant more to me
Than any, than any living thing on earth
They had more worth
Than any living thing on earth
On earth, on earth, oh...

Vivid and in your prime
You will leave me behind
You will leave me behind

(These Things Take Time, The Smiths)

domingo, 3 de maio de 2009

História e Utopia.

Na verdade só podemos optar entre uma vontade doente e uma vontade má; a primeira, excelente, porque atingida, imobilizada, ineficaz; a outra, nociva, logo turbulenta, investida de um princípio dinâmico: a mesma que alimenta a febre do devir e suscita os acontecimentos. É esta vontade que teria que ser suprimida no homem se se pensa em uma idade de ouro! Mas seria como despojá-lo de seu ser, cujo segredo reside nessa propensão a prejudicar, sem a qual não saberíamos concebê-lo. Refratário à sua felicidade e à dos outros, age como se desejasse a instauração de uma sociedade ideal; mas se esta se realizasse, ele se sufocaria nela, pois os inconvenientes da saciedade são incomparavelmente maiores que os da miséria. O homem ama a tensão, o perpétuo avanço: para onde iria no interior da perfeição? Incapaz para o eterno presente, teme ainda mais sua monotonia, armadilha do paraíso sob dupla forma: religiosa e utópica. A história não seria, em última instancia, o resultado de nosso medo do tédio, desse medo que sempre nos fará ama o sabor e a novidade do desastre, e preferir qualquer desgraça a estagnação? A obsessão pelo inédito é o princípio destruidor de nossa salvação. Caminhamos para o inferno na medida que nos afastamos da vida vegetativa, cuja passividade deveria constituir a chave de tudo, a resposta suprema de todas as nossas interrogações; mas o horror que elas nos inspira fez de nós essa horda de civilizados, de monstros oniscientes que ignoram o essencial. Consumir-se em câmera lenta, respirar apenas, sofrer dignamente a injustiça de ser, fugir da espera, da opressão da esperança, buscar um meio termo entre o cadáver e o alento: estamos corrompidos demais para conseguir isso. Decididamente, nada nos reconciliará com o tédio. Parar ser menos rebeldes a ele, deveríamos, através de alguma ajuda do alto, conhecer uma plenitude sem acontecimentos, a volúpia do instante invariável, o deleite do idêntico. Mas uma tal graça é tão contrária a nossa natureza que ficamos felizes em não recebê-la. Acorrentados à diversidade, extraímos dela essa soma constante de decepções e de conflitos, tão necessária a nossos instintos. Livres de preocupações e de impedimentos, estaríamos entregues a nós mesmos;a vertigem que resultaria disso nos tornaria mil vezes piores do que já o faz nossa servidão.

(A Idade de Ouro, Emil Cioran)

But Sometimes We Love.

The way he wanted it to go
Is the way it went
Don't think we're letting him
Get away

You say you saw him on the hillside
Well, I swear I saw him in the meadow
Do you believe in ghosts
Or do you believe in faith?

So don't throw the bones away
And we'll find a place to pray
Because I can see you and
You can see you
But no one saves the day

I say don't throw the bones away
You will feel the place to pray
Because I can see you and
You can see you
But no one saves the day

He sent you to the east and he kept me west
I've got a compass and
You've got a compass
To see with

And I know you've heard of such authors
Do you think the judge will ever die?
And captains are cruel when captains are cruel
You can't blame the horses they ride

So don't throw the bones away
And find a place to pray
Because I can see you and
You can see you
But no one saves the day

Oh C'mon!
(But sometimes we love)

Ooh Ooh Ooh Ooh Ooh Ooh!

(No One Saves The Day, Wolf Parade)