quarta-feira, 27 de maio de 2009

Dragonslayer.

Silver Moons – “Uma das melhores canções já produzidas por mãos humanas”. Foi assim que o Bill, autor do Vague Space, definiu a canção. Para ser sincero, eu fico pasmo com a capacidade do Spencer Krug fazer músicas de abertura definitivas. Basta relembrar a tensão claustrofóbica de Stadiums and Shrines II, de Shut Up I Am Dreaming, ou então o pop pseudo-dançante de The Mending of The Gown, de Random Spirit Lover. Silver Moons, embora musicalmente diferente das suas predecessoras conserva algo em comum: a perfeição. Não tem como não se emocionar ao escutar a voz visivelmente chorosa de Spencer Krug dizer coisas como ‘talvez estes dias estejam encerrados, agora’ ou ‘eu amei melhor que qualquer um que você já conheceu’. Mas seguramente a parte mais bela da canção é sua desaceleração, quando entra a voz de Krug amparada apenas por um piano e, em seguida, surge uma parede de guitarras distorcidas que abre para um final grandioso, num misto de esperança e desilusão, encerrando a canção num dueto sem instrumentação entre Krug e Camilla.

Idiot Heart – “Mais uma daquelas canções de amor obsessivas compostas por Spencer Krug” disse o Lívio Vilela, do Bloody Pop em post que foi transcrito há algum tempo nesse blog. Essa definição nunca me saiu da cabeça: “canções de amor obsessivo”. E de fato, talvez este seja o melhor rótulo possível de se dar as canções compostas pelo Spencer Krug – seja no Sunset Rubdown, seja no Wolf Parade ou mesmo para o Swan Lake. Bem que se diga, muito provavelmente é por conta disso que suas canções têm tanto impacto em minha vida. Afinal, que outro compositor de sua geração teria a coragem – ou melhor, o atrevimento – de batizar uma faixa com o nome Idiot Heart? Não bastasse isso, Idiot Heart é Idiot Heart: uma canção ‘filhadaputa’, repleta de ódio e ao mesmo tempo aquela ternura diluída que é capaz de negar a própria natureza desse mesmo ódio. “And you know a heart, but it’s an idiot heart”. Poisé: outra facada no coração. Sem dó nem piedade.

Apollo and the Bufallo and Anna Anna Anna Oh! – Esta faixa era uma das duas únicas que até então não haviam sido registradas em vídeos do Youtube e, portanto, geravam uma maior expectativa em relação as demais de Dragonslayer. O clima oitentista remete as baladas pop da... Cyndi Lauper?! Embora não pareça, isso é um tremendo elogio! Uma das poucas músicas ‘melodicamente românticas’ da história da banda traz também uma grande incógnita: Anna, por que você trocou seu nome?

Black Swan - Certamente a música a ser descoberta no disco. A estrutura linear da canção, a princípio, incomoda os ouvintes, afinal, como definiu o César M. do blog Indienation as músicas do Sunset Rubdown “são marcadas por estruturas complexas, cheias de batidas militares que desembocam em valsinhas de 15 anos infernais”. O problema é que Black Swan é daquelas canções que gostam de brincar com a gente: de repente, sem mais nem menos, você se pega no ponto de ônibus cantando sozinho my heart is a kingdom/ Where the king is a heart/ my heart is king/ the king of... hurts. A parte dançante do final é avassaladora, sobretudo quando Krug canta daquele jeito perfeitamente desesperado que só ele sabe fazer: You've got mascara all over your bedsheets/ You've got mascara all over your clothes/ You've got mascara making broken heart shapes on your face/ And you have yet to see the ghost. Aí já era.

Paper Lace – Paper Lace é uma regravação da brilhante canção composta por Spencer Krug originalmente para Enemy Mine, segundo disco Swan Lake. E regravações são sempre arriscadas, pois inevitavelmente vão suscitar comparações. E, oras, qual é a melhor versão? As duas. Esse é o ponto: se com o Swan Lake o tom era de melancolia, com o Sunset Rubdown a canção ganha injeção pop sem perder a emoção que a caracterizava originalmente. Belíssima releitura.

You Go On Ahead – Lembro-me da excitação que tomou conta de mim quando ouvi a primeira versão desta canção, ainda acústica. E lembro de ter ficado tanto quanto desapontado ao testemunhar via Youtube a versão plugada, versão esta registrada em Dragonslayer, afinal, menos me parecia mais. Só que as inúmeras audições desta canção me fizeram resgatar a magia original da mesma. Outro hino obsessivo típico do Sunset Rubdown, sem dúvida e novamente remetendo a Cyndi Lauper – e novamente isso é um grande elogio! Mais um ponto alto de um disco que desconhece o significado da palavra vale.

Nightingale/December Song – A música mais distinta do cd e, talvez, de toda a discografia da banda. A primeira impressão, devo confessar, foi péssima. Até porque como nenhum registro da canção havia caído na internet antes do vazamento oficial do disco, Nightingale/December Song era uma das que geravam mais expectativas entre os fãs do Sunset Rubdown. Mas depois das sucessivas audições, a música finalmente começou o dar da sua graça. Com um começo a la The Hanging Garden, do The Cure, a música desemboca num clima medieval, sóbrio, sem as tradicionais vocalizações de Krug. Mas nem por isso perde a imponência. A grandiosidade da canção está escondida nos pequenos detalhes de seu arranjo.

Dragon’s Lair – “Não me lembro de uma música melhor do que Dragon´s Lair em anos. Talvez em toda minha vida”. Quisera fosse exagero do grande Ted, mas ‘infelizmente’ não é. Depois de Shut Up I Am Dreaming of Places Where Lovers Have Wings e Child-Heart Loosers, que pareciam músicas de fechamento de cd totalmente insuperáveis, Spencer Krug surpreende mais uma vez e encerra Dragonslayer com os 10:27 min de Dragons’ Lair. O que falar de uma música dessas? Quero dizer, o que vocês esperam de uma música? E depois dizem que ninguém consegue criar mais nada de absolutamente marcante na história do rock. Ok, Dragon’s Lair não é música. Não pode ser enquadrada como uma música: é emoção em estado bruto com suas alternâncias suavemente bruscas entre tensão e esperança. Não há como passar imune por essa canção. A música que marca não é a que nos convence, mas sim a que nos vence e ainda assim nos faz como verdadeiros campeões. “It’s time for a bigger kind of kill”.

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