quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cartas ao tradutor.

Paris, 25 de março de 1988

Caro senhor Brum

Que boa surpresa! Eu não sabia que meus Exercícios estavam tão próximos de ser publicado em uma língua que não conheço mas que adivinho, que sinto mesmo, já que o romeno tem certa afinidade com o português. Agradeço pelas páginas que me concernem: gosto dos prefácios breves e substanciais. Onde aprendeu o francês? Tenho realmente a impressão que você viveu em Paris. Gostaria também de saber quais foram as circunstâncias que o levaram a interessar pelas minhas divagações. Gostaria de conhecer alguns detalhes de sua vida. Fez outras traduções? Comovê, sou curioso e indiscreto, apesar da minha idade escandalosamente avançada.

Muito cordialmente,

Cioran.

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Paris, 8 de junho de 1990

Estes silogismos, publicados em 1952, passaram durante muito tempo despercebidos. Desde que apareceram em edição de bolso, seduziram os jovens. Só uma geração desiludida poderia se entusiasmar por uma visão tão negativa da história. Só da história? Da existência em geral. É preciso ter coragem de reconhecer que a vida não resiste a uma interrogação séria e que é difícil, e mesmo impossível, atribuir um sentido ao que visivelmente não comporta um. Por outro lado, nem que seja por gosto do paradoxo, podemos ser seduzidos por esse naufrágio, pela amplidão, pelo brilho do nada de tudo o que vive.

O homem tem todas as chances de desaparecer e desaparecerá mais cedo do que pensa, mas, por outro lado, tem razão em prolongar essa tragicomédia, nem que seja por distração ou por vício.

Cioran.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Divagações.

10 de agosto. Gripado. Passei todo o dia na cama. Retornam as velhas obsessões, o sentimento de que para mim nada é possível. Esteja onde estiver meus males me acompanham. Esse é o presente capital da minha existência. Diria-se inclusive que meus males me precedem, que despejam o terreno a fim de que se possa ser infeliz sem dificuldade, sem obstáculos. Caso me transportasse ao Paraíso, o fenômeno se repetiria inevitavelmente.

Durante toda a tarde tenho pensado em Keats em Roma. Ainda que mude de paisagem, não posso mudar de destino. E, mal sinal para mim, todavia, não consigo me resignar apesar de todos meus esforços nesse sentido, e de todas as minhas teorias a respeito. Desassossega-me e exaspera-me, arranca-me contínuos lamentos, como se fosse possível ter outro ou modificar suas circunstâncias. Sofrer tranquilamente é um segredo a que aspiro em vão possuir e sem o qual os temperamentos como o meu estão condenados ao inferno.

(Emil Cioran, Cadernos de Talamanca)

Por culpa do depois... (ou É sempre sem querer)

Ah, Dindi...

Pra ajudar teu analista:

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ah... O amor...

O amor é a busca de si mesmo, um desejo de realmente entrar em contato comigo mesmo e com você, partilhando corpos, partilhando pensamentos, encontrando um ao outro sem prevenções, fazendo confissões e recebendo perdão, compreendendo, validando e apoiando o que era e o que é, ansiando por um lar e pela confiança que rechaça as dúvidas e as ansiedades geradas pela vida moderna. Se nada parece certo ou seguro, se em um mundo poluído até mesmo respirar é arriscado, então as pessoas vão em busca dos ilusórios devaneios amorosos até que subitamente eles se transformem em pesadelos.

(O caos normal do amor, Ulrich Beck e Elizabeth Beck)