terça-feira, 28 de junho de 2011

Divagações.

10 de agosto. Gripado. Passei todo o dia na cama. Retornam as velhas obsessões, o sentimento de que para mim nada é possível. Esteja onde estiver meus males me acompanham. Esse é o presente capital da minha existência. Diria-se inclusive que meus males me precedem, que despejam o terreno a fim de que se possa ser infeliz sem dificuldade, sem obstáculos. Caso me transportasse ao Paraíso, o fenômeno se repetiria inevitavelmente.

Durante toda a tarde tenho pensado em Keats em Roma. Ainda que mude de paisagem, não posso mudar de destino. E, mal sinal para mim, todavia, não consigo me resignar apesar de todos meus esforços nesse sentido, e de todas as minhas teorias a respeito. Desassossega-me e exaspera-me, arranca-me contínuos lamentos, como se fosse possível ter outro ou modificar suas circunstâncias. Sofrer tranquilamente é um segredo a que aspiro em vão possuir e sem o qual os temperamentos como o meu estão condenados ao inferno.

(Emil Cioran, Cadernos de Talamanca)

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