sábado, 17 de dezembro de 2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Musas. (16)

Do Fundo do Armário (Virtual).

Agradecimento.

Reconheçamos o que deve ser reconhecido: gostaria de agradecer uma certa 'vadia' - e esse é, de fato o termo mais adequado e respeitoso que se pode dizer a respeito - pela indicação de um ótimo livro. A propósito, tenho também que dizer que se o livro é realmente bom isso se deve única e exclusivamente ao fato de que a 'vadia' em questão sequer o leu - ainda que, se perguntada, ela vá afirmar até o fim de seus dias o contrário.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Quem diria... (3)

Continuando essa seção 'positiva', fiquei muitíssimo contente pelo fato de 2012 começar com o 'pé direito' para duas pessoas queridas. É sempre bom testemunhar alguma prova de justiça em um mundo naturalmente injusto.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Funziona.

Ninguém é perfeito
Ninguém é perfeito
Eu quis ser
Socialista!
Socialista!
Socialista!
Funziona senza vapore
Eu vi uma ema
No Palácio da Alvorada
Um ex-skinhead falava
Da sua namorada
Como gostava
Dela ser tapada
Funziona senza vapore

(Funziona Senza Vapore, Fellini)

Quem diria... (2)

Quando eu pensava que uma semana perfeita era algo impossível, tive a ótima surpresa de poder vivenciar outra tão bacana e positiva quanto. U-a-u.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Do passado.

É incrível como as pessoas gostam de perder tempo com coisas completamente inúteis. O problema é que só se dão conta - quando se dão - muito tempo depois...

Rumo de Tudo.

Pra eu me redimir do meu comportamento cínico e me recuperar de vez de um mau estado clínico me hidrate a pele com as benesses do seu suco gástrico.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Biscoito da sorte.

Boas notícias chegarão.

46 - 06 - 54 - 48 - 35 - 41

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Quem diria...

Depois de muito tempo uma semana muito boa, de cabo a rabo. Digno de nota.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A vida é a novela da matéria.

Viver significa crer e esperar, mentir e mentir-se. [...]. Nem todos os homens podem ter êxito: a fecundidade de suas mentiras varia... Tal engano triunfa: resulta uma rebelião, uma doutrina ou um mito e uma multidão de fiéis; tal outro fracassa: é então apenas uma divagação, uma teoria ou uma ficção. Somente as coisas inertes não acrescentam nada ao que são. Uma pedra não mente e por isso não interessa a ninguém, enquanto que a vida inventa sem cessar. A vida é a novela da matéria.

(Emil Cioran)

domingo, 20 de novembro de 2011

Grandes vocábulos da humanidade.

Sacografia.

Definições Robertianas.

a) Ciência: enrolação concreta.
b) Filosofia: enrolação abstrata.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Anti-humanidade.

A única coisa que me orgulho de ter compreendido precocemente, antes de completar os vinte anos, é que não havia que procriar. A isso se deve o meu horror do matrimônio, da família e de todas as convenções sociais. É um crime transmitir as taras próprias a uma prole e obrigá-la, assim, a passar pelas mesmas duras provas que nós, por um calvário tavez pior que o nosso. Dar a vida a alguém que herdará minhas desgraças e meus males é algo com que nunca pude consentir. Todos os pais são irresponsáveis ou assassinos. Só os animais deveriam dedicar-se a procriar. A piedade impede ser "genitor": a palavra mais atroz que conheço.

(Cadernos, Emil Cioran)

Notas sobre a academia.

Que são os homens mais do que aparências de teatro? Tudo neles é representação, que a vaidade guia.

(Matias Aires)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Notas para uma carta não-publicável.

1. Das críticas

É demasiadamente frustrante ter de ouvir comentários irrelevantes para a feitura de um trabalho acadêmico, esforço característico de quem tem a missão de procurar piolhos na cabeça de outrem e, sem encontrá-los, chama pelo nome piolho qualquer ponto branco que enxerga – ou que acredita ter enxergado – mesmo que este ponto branco não corresponda a efetivamente nada. “Em verdade, há muitos homens que lêem apenas para não pensar” (Georg Lichtemberg): a obrigação de encontrar problemas leva muitos avaliadores a tecerem críticas, mais do que propriamente inférteis, forçadas.

a) “Ao longo do seu texto aparecem duas perguntas de pesquisa diferentes...”.

Chega a ser curioso a que ponto uma doutora pode incorrer no erro primário de confundir problema de pesquisa com problemática de pesquisa. Ter como problema o conjunto de transformações da modernidade não impede de focalizar o problema propriamente em uma questão específica – os relacionamentos amorosos sob a óptica do cinema de Woody Allen.

b) “Então quer dizer que Woody Allen precisou ler autores como Giddens, Beck e Bauman para escrever os seus filmes?”.

A mesma doutora que tece um comentário infantil destes, parece não ter lido a premissa de que eu assumo, qual seja, a de entender a produção cinematográfica sob a forma de um produto cultural. Se o tivesse feito com a atenção necessária, compreenderia que o cinema, sob esta condição, ajuda a promover uma discussão sobre valores. Portanto, Woody Allen, em seus filmes, promove uma conversação sobre estes referidos valores. Isto não está de modo algum em contradição com o fato de que para compreender melhor a dimensão de tais valores seja necessário utilizar um aporte sociológico que permita enxergar um projeto tácito de modernidade nos filmes de Allen. Um projeto intuitivo, que pode ser discutido na medida em que eu deixo a posição de simples espectador e olho para o filme com o olhar de um analista – prática esta própria da atividade científica. Portanto, é possível de fato vislumbrar um projeto de modernidade no cinema de Allen e isso não implica que ele tenha se preocupado em teorizar – embora talvez até tenha, de fato – para escrever seus filmes. Há de se ressaltar também, a título de curiosidade, que os textos de Giddens, Beck e Bauman são posteriores ao filme de Allen analisado por meu trabalho.

c) “Então tem que saber teoria sociológica para entender os filmes do Woody Allen”?

Sendo você dá área de cinema, eu te faria a mesma pergunta: tem que entender sobre teorias da imagem e do cinema para assistir a algum filme? Porque, de fato, não tem. Sendo assim, se eu não estou legitimado a falar, por outro lado, qualquer estudo empreendido por você, seguindo seu raciocínio, é inútil – para ver o cinema não é preciso saber nada sobre o cinema, necessariamente. Sejamos, portanto, radicais e desconstruamos a própria noção de ciência que legitima uma fala tão idiota quanto a sua.

d) “Você discute Freud na sua análise, mas curiosamente não o faz na parte teórica...”

Talvez assim eu não o faça porque a minha abordagem não trata da questão da psicanálise freudiana, mas do conjunto de transformações que a psicanálise dá a ver na conformação da modernidade. Em outras palavras, meu aporte é a sociologia e não a psicanálise. Portanto, para citar Freud eu não preciso me aprofundar nas teorias psicanalíticas dele, mas antes no impacto que esta ‘ciência’ trouxe às práticas sociais, fato este que está apresentado em mais de uma passagem. Além do mais, a menção a teoria psicanalítica de Freud é pontual, uma nota de rodapé. Assim sendo, como disse uma grande amiga, pelo andar da carruagem, para cada palavra que eu usar eu terei que referenciar o lugar do dicionário Aurélio de onde eu extrai tal vocábulo.

e) “Olha a maneira como você está utilizando o conceito de sociedade. Parece tão durkheimiano...”

Não faça considerações que não foram sequer problematizadas no texto. Dizer da existência de uma determinada sociedade é reconhecer um conjunto de práticas e sentidos partilhados, não que eles sejam homogêneos – na verdade são desiguais. Entretanto, eu sequer problematizei a noção de sociedade no âmbito deste trabalho porque não é meu objeto principal de atenção.

f) “Você fala que utiliza o modelo ‘praxiológico’ mas lê os meios de comunicação de um modo instrumental...”

Outro exemplo de precipitação: pegar um pedaço de texto isolado e fazer uma inferência despropositada. Quando se diz que os meios de comunicação fornecem informações, em nenhum momento eu afirmei que estes meios de comunicação operam de maneira unidirecional. Esta sua compreensão se mostra incoerente a partir dos referenciais que eu utilizo sobre o processo de agência, sobretudo quando eu coloco em questão a existência da reflexividade. A disponibilidade maior de informações, inegavelmente, lida a partir do agente reflexivo, compreende o movimento desestruturador próprio da modernização em seu estágio contemporâneo.

2. Do preço

O resultado da qualificação expressa tão somente a ponta de um enorme iceberg escondido sobre a superfície do trabalho apresentado.

Se há uma pergunta que me faço hoje, esta é simples: qual o preço a ser pago para manter um “bom relacionamento” com seu orientador? Por “bom relacionamento”, evidentemente, deve-se entender “bom relacionamento parasitário”, afinal, enquanto cabe ao orientador, além dos subterfúgios, o poder e as eventuais glórias, por outro lado, é o aluno que assume exclusivamente a responsabilidade pelos erros. É interessante observar a sutileza a partir da qual o mecanismo da irresponsabilidade é perpetuado: a ausência de orientação – isto é, de planejamento sobre o problema de pesquisa bem como sobre as escolhas teóricas e metodológicas – é transformada em “incapacidade de comunicar as idéias com clareza” (estamos, ao que parece, de volta à comunicação instrumental, ao modelo representacional). Com este movimento transforma-se em problema de comunicação um problema de orientação, eximindo a omissa orientadora da sua enorme parcela de responsabilidade pelo produto final apresentado. Talvez este seja, de fato, o meu obsucuro “problema de pesquisa”. A propósito, diante das palavras da minha orientadora chega a ser no mínimo irônico ouvir da banca a constatação de que o aluno escreve com clareza...

3. Da política

Na luta desenfreada pelo Lattes o prestígio é medido pelo número de orientações e não pela natureza ou qualidade do trabalho orientado. Num mundo ideal, platônico, para existir maior transparência nos processos de orientação seria necessária não apenas a avaliação dos alunos por parte dos professores, mas canais de mensuração no sentido oposto: a apresentação de relatórios de avaliação feitos pelos alunos contando detalhes sobre o processo de produção do texto científico. Haveria de ser assegurada a liberdade para que o aluno pudesse expor seus pontos de vista sem medo de receber quaisquer futuras sanções ou represálias por parte de seu orientador. Mas professores que adoram versar sobre transparência, deliberação, responsabilidade, democracia, transformação social e processos igualitários de comunicação jamais estariam dispostos a arriscarem suas respectivas peles passando pelo crivo dos alunos... Além disso, o corporativismo jamais permitiria qualquer tipo de punição aos professores que não arcassem com suas responsabilidades.

Viva a vaidade intelectual! Diante dos interesses meramente pessoais, tramas políticas de bastidores relegam a um lugar secundário as decisões mais adequadas a uma determinada circunstância.

4. Do mantra

De repente, solicitar orientação passa a ser um mero gesto de súplica por qualquer segundo de atenção. Para justificar a falta de compromisso apela-se para o discurso da falta de tempo: “você sabe como é, tenho dez orientandos...”. Repetindo o mantra para cada um dos dez orientandos, lembrando-lhes de seu empenho no trabalho dos nove restantes, tem um efeito duplo de grande impacto: não apenas os alunos se sentem compadecidos da cruzada enfrentada pela orientadora como esta cria uma estratégia que a liberta da obrigação de orientar qualquer um de seus alunos.

5. Do constrangimento

Diante de uma relação desigual de poder – o aluno insiste em pedir ajuda enquanto o orientador continua a se faz de surdo – a situação chega a um ponto tal que o elo mais fraco começa a se sentir constrangimento por perturbar a letargia da orientadora. Diante deste quadro restam duas alternativas: ou se assume o risco de efetuar uma queixa para uma instância superior, formada exclusivamente por professores (e quando assim o faz, ainda que tardiamente, encontra como resposta uma cara de paisagem que sequer é capaz de mostrar alguma expressão de vida – seja mediante indignação ou compadecimento diante de tanta picaretagem) ou, em nome da manutenção da boa relação, paga o preço, se desespera, continua no anonimato e simplesmente atira no escuro, “vê o que pode ser feito”. Caso milagrosamente acerte o alvo, o mérito é do orientador. Do contrário...

Às vezes, em alguma parte da trajetória, pode-se ter a sorte de contar com algum voluntário que se preocupe com seu problema e tente ajudá-lo a resolver da melhor maneira possível. Contudo, é no mínimo estranho quando você se encontra durante o semestre mais vezes com voluntários do que com seu própria orientadora para discutir sobre seu trabalho e quando estes mesmos voluntários estão mais interessados no seu produto do que aquele que oficialmente deveria estar.

6. Do subterfúgio

Para bailar na teia sem ter medo de ser pego uma perversa ousadia entra em ação: para composição das bancas são escolhidas pessoas que potencialmente não sejam capazes de comprometer a atuação da orientadora, isto é, que não deflagrem a responsabilidade do orientador incidida sobre o produto final. Contudo, esta ousadia só funciona por conta da sutileza que é plantada durante os reles contatos com o aluno. Cria-se a expectativa de que alguns dos supramencionados voluntários farão parte da mesa até a véspera da liberação oficial do nome da banca quando a farsa é finalmente revelada. Nesta hora, frases como “não entrará nenhuma pessoa da perspectiva de cinema porque elas trabalham com instrumental completamente diferente do seu” dão lugar a lacônicas e irritadas justificativas – porque nessa hora a frustração é tão grande que o mais coxa dos coxas requer uma justificativa para tamanha quebra de expectativa - “a fulana trabalha com cinema, mas tem sensibilidade”. Sob estas circunstâncias a orientadora se livra da existência de um crivo adicional exterior de alguém que efetivamente acompanhou o processo de realização do produto apresentado e conhece as limitações características do que foi mostrado – bem como as responsabilidades advindas das escolhas efetuadas na composição.

7. Da desconfiança (ou da cara de pau)

Depois de perder todos os prazos fixados, solicitar todos os prorrogamentos possíveis e desrespeitar os prazos dos prorrogamentos, finalmente quando sua orientadora resolve ler o seu texto, ela descobre que simplesmente não vai com a cara dos autores que você utiliza nem da pergunta de pesquisa que ela mesmo havia aprovado meses antes – isto porque você começa a mandar material para ela em 31 de janeiro, em 31 de agosto termina o prazo da prorrogação do tempo pré-qualificação e ela te dá um retorno apenas no dia 6 de setembro. Fica no ar, após a solicitação de justificativa sobre os componentes da banca, que a qualificação servirá para mostrar que ela está certa (?!, quer dizer, como uma pessoa que não propôs absolutamente nada ao trabalho, que não contribuiu em momento algum nem com idéias construtivas muito menos como bibliografia apropriada pode ousar dizer que está certa?), que o aporte teórico utilizado é inadequado e, além disso, que a apropriação dos autores feita pelo aluno é frágil – expectativa essa da orientadora que não se confirma pois durante a qualificação ninguém questiona nem a legitimidade do aporte, tampouco a interpretação conferida pelo aluno. Entretanto, durante a qualificação há uma queixa central acerca da metodologia empregada – um tema cuja formulação depende centralmente da capacidade do orientador em ajudar o aluno a encontrar uma forma de exploração mais adequada ao objeto empírico em questão e que, não obstante, o aluno solicitou inúmeras vezes ajuda para dar o acabamento mais apropriado, mas que não a obteve.

Curiosamente, depois de findado o texto para a qualificação a orientadora indicou um livro efetivamente importante para a discussão que estava sendo empreendida. Entretanto, o fez sem saber e por um motivo inusitado: a picuinha. Sob o pretexto de que a autora Eva Illouz sim era uma grande socióloga, diferentemente de Anthony Giddens, que não fazia pesquisa sociológica em sentido estrito, a orientadora, apenas para me provocar (?!), indicou o livro recém-lançado “O Amor nos Tempos do Capitalismo”. Entretanto, chama o fato de que ela mesma indicou um livro sensacional de uma autora ainda mais magistral que ela sequer leu na vida! Isso porque quando remeti ao livro durante a qualificação, ela sequer sabia o nome da autora – de tão genial que esta era...

Além disso, é interessante que uma pessoa tão culta e cheia de “discernimento”, tenha preferido apoiar algumas das conclusões precipitadas das componentes da banca a admitir que várias das intervenções destas, conforme apontadas no início deste texto, eram apenas expressões de afetação pseudo-intelectual – o que reforça a tese de que mais do que preocupada em me ajudar, em contribuir para o meu trabalho a orientadora em questão desejava a qualquer preço, mesmo que legitimando a estupidez, me ferrar a troco de absolutamente nada.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Brechtiano.

Era a imitação da vida com paredes falsas
o coração batendo preso na tomada
mas um dia a casa cai
já caiu a fase
um dia o resto vai
depois de traçar o seu plano e tentar ser humano
só esqueceu de como sair do personagem
mais um dia a casa cai
e fica exposto o homem
que nesse dia vai
vai voltar a viver
e o coração bate outra vez
bate outra vez
era e explicação da vida de quem vê de fora
conhece tudo olhando o mundo da janela
mas um dia a casa cai
se alguém forçar a porta
acho que o resto vai
vai voltar a viver
e o coração bate outra vez
bate outra vez
mas um dia a casa cai
já caiu a fase
agora o resto vai
vai voltar a viver
e o coração bate outra vez
bate outra vez

(Imitação da Vida, Tom Bloch)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Las confradías...

Realmente, en este caso hay más de una razón. Diré antes que nada, que detesto los grupos, las sectas, las cofradías, los gremios y en general esos conjuntos de bichos que se reúnen por razones de profesión, de gusto o de manía semejante. Esos conglomerados tienen una cantidad de atributos grotescos, la repetición del tipo, la jerga, la vanidad de creerse superiores al resto.

¿Qué quiero decir con eso de "repetición del tipo"? Habrán observado qué desagradable es encontrarse con alguien que a cada instante guiña un ojo o tuerce la boca. Pero, ¿imaginan a todos esos individuos reunidos en un club?

(O Túnel, Ernesto Sábato)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia da Retirada.

Finalmente uma revolução de verdade!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dois.

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo.
De amargo, então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve,
Forte, cego e tenso, fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

(Daniel na Cova dos Leões, Legião Urbana)

Aprendendo o passinho...

Não sei o que é direito
Só vejo preconceito
E a sua roupa nova
É só uma roupa nova
Você não tem idéias
Pra acompanhar a moda
Tratando as meninas
Como se fossem lixo
Ou então espécie rara
Só a você pertence
Ou então espécie rara
Que você não respeita
Ou então espécie rara
Que é só um objeto
Pra usar e jogar fora
Depois de ter prazer.

Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.

Você com as suas drogas
E as suas teorias
E a sua rebeldia
E a sua solidão
Vive com seus excessos
Mas não tem mais dinheiro
Pra comprar outra fuga
Sair de casa então
Então é outra festa
É outra sexta-feira
Que se dane o futuro
Você tem a vida inteira
Você é tão esperto
Você está tão certo
Mas você nunca dançou
Com ódio de verdade.

Você é tão esperto
Você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas
Tenha cuidado
Se um dia você dançar.

Nós somos tão modernos
Só não somos sinceros
Nos escondemos mais e mais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.

(A Dança, Legião Urbana)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A bola pune.

(Eu não estou falando de futebol).

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ah, a verdade...

E a verdade é verdadeira apenas na medida em que faz despencar mais desgraça e tristeza sobre os seres humanos, de modo que, se mostra alguma coisa que não seja o mal, ela é uma ilusão, não é a verdade.

(Herzog, Saul Bellow)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pessoanas.

Tenho dó dos pobres. E também tenho dó dos ricos. Tenho mais dó dos ricos porque são mais infelizes. Quem é pobre pode julgar que, se deixasse de o ser, seria feliz. Quem é rico sabe que não há maneira de ser feliz. Quem é pobre tem uma só preocupação, ou uma só preocupação principal: a pobreza. Quem é rico, como, infelizmente, não tem essa, tem que ter todas as outras. Nunca vi homem rico mais feliz que um pobre; a não ser que por felicidade se entenda aquilo que se pode comprar no alfaiate e no ourives, e comer-se num restaurante (...). Os pobres são felizes: têm uma ilusão - crêem que o alfaiate, o ourives, o dono do restaurante caro são os dispensadores de felicidade. Crêem nisso. Os ricos são os ateus do alfaiate.

(Bernardo Soares, O Livro do Desassossego)

sábado, 8 de outubro de 2011

Perolário. (4)

Nietzsche e Clarice Lispector, desconfie de quem cita.

(André Dahmer)

Perolário. (3)

Guardo alguns rancores com o maior carinho.

(André Dahmer)

Perolário. (2)

Deus é o papai noel dos adultos.

(André Dahmer)

Perolário.

Se a verdade fosse um objeto, ela seria uma massinha de modelar.

(André Dahmer)

Dos amores...

Antes de morrer, Bellow teve tempo para uma confissão: teria feito tudo diferente se vivesse de novo, dedicando menos tempo às mulheres. E, conseqüentemente, às suas neuroses.

(Antonio Gonçalves Filho, O Estado de São Paulo)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

'Modernetes' ou 'É mole'?

Alice Maria é uma garota de 20 e poucos anos que mora sozinha, tem grandes amigos, um emprego de cenógrafa que a faz ralar muito e é perdidamente apaixonada por Gabriel, que tem muito tesão por ela, o que seria ótimo, se ele não fosse gay.

Aí aparece Rodrigo, que quer ter algo sério com Alice, mas ela foge com medo de o amor de verdade machucar... Com a ajuda e os conselhos nem sempre muito sutis de seus amigos, Alice embarca em uma aventura de descobertas e sentimentos, cheia de humor e delicadeza. Tudo está registrado em seu diário. Uma história divertida, emocionante, passada em dias ensolarados do Rio de Janeiro.

***

Livia Brazil nasceu no Rio de Janeiro, em 1985, é tradutora e roteirista, produtora cultural e blogueira. Um dos destaques do 1º Prêmio Benvirá de Literatura 2010, Queria tanto é seu romance de estreia.

***

NT: Dá pra ler um livro com uma sinopse destas? Putamerda, viu...

Steve Jobs.

No ano seguinte, foi afastado da própria companhia pelo corpo diretor que ele mesmo ajudou a formar. O motivo de seu afastamento seriam maus tratos para com seus funcionários e comportamento temperamental. Segundo o então diretor executivo, John Sculley, essas atitudes poderiam prejudicar os futuros negócios da própria empresa.

***

Pra variar: morre o homem, nasce o mito.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Recapitulando.

Dicioranário

Viver: enganar, ser enganado e se enganar.

Confissões.

Eu ODEIO Walter Benjamin. A minha vontade era a de ir ao túmulo dele - se é que ele tem um - e dar uma rajada de 100 tiros só para assegurar que ele esteja e continue morto.

...

Viver não é para amadores.

Erro de cálculo.

Quando vemos um gigante, temos primeiro de examinar a posição do sol e observar para termos certeza de que não é a sombra de um pigmeu.

(Friedrich Von Hardenberg Novalis)

Constatações.

Quem tem muito a dizer, não fala. Quem não tem nada a dizer não fecha a boca.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Das revoltas.

Quando vejo alguém pugnar por uma causa qualquer, procuro saber o que se passa em seu espirito, e donde possa provir esta evidente falta de maturidade. Talvez a recusa da resignação seja sinal de “vida”, mas nunca, em todo caso, de clarividência, ou simplesmente de reflexão. O homem sensato não se rebaixa a protestar. A custo consente ele com a indignação. Levar a sério os negócios humanos testemunha alguma carência secreta.

(Esboços de Verigem, Emil Cioran)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dúvidas perpétuas.

Por que existem pessoas que não conseguem permanecer em silêncio por um segundo sequer?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ciorando...

Novalis: “Depende de nós que o mundo conforme-se à nossa vontade”. É exatamente o contrário de tudo que se pode pensar e sentir no final da vida e, com maior razão, no final da história...

(Esboços de Vertigem, Emil Cioran)

sábado, 17 de setembro de 2011

Esnobe.

Adj. e s.m. e s.f. Diz-se de, ou pessoa que demonstra esnobismo; pernóstico, afetado.

Aquecimento.

Vai melhorar sem ninguém ver
Discreto como se enrugou sua testa
Quando eu quis merecer
O que eu não fiz pra você
Discreto como um dar de ombros sério
Que fui forçado a ver

Sempre houve vida antes de você
Pra sempre rir das mesmas coisas outra vez

Pra distinguir o vício da diversão esporádica houve um caos
Nem sempre é fácil de ver o que você considera essencial como um mal
Deixe os dias serem claros
Deixe eu dirigir meus braços soltos pelo espaço
Como dois desertos
Sem te trazer pra perto

(Dois Desertos, Violins)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Humanamente desumano.

Sua voz estava enfática e tensa, o tipo de voz com quem alguém que tenta se convencer de alguma coisa usando seu interlocutor como área de testes.

(O Passado, Alan Pauls)

EPílogo.

Estou vivendo a parte mais legal agora
Antes que o cinismo venha e deixe estragar tudo

(Primeira Série, Superguidis)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Parafraseando Cecília.

Ai, palavras, ai, palavras,

Que estranha impotência a vossa!

sábado, 3 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mentiras sinceras me interessam.

- O ouro existe... é preciso encontrá-lo, nada mais. Você devia alegrar-se de que tudo esteja se organizando para ir buscá-lo. Ou você acha que esses animais se moverão se não forem puxados pelas mentiras extraordinárias? Ah, o quanto tenho pensando! Nisto se estriba o importante da teoria do Astrólogo: os homens só são sacudidos pelas mentiras. Ele dá ao falso a consistência do verdadeiro; pessoas que jamais teriam caminhado para alcançar algo, gente desfeita por todas as desilusões, ressuscitam na virtude de suas mentiras. Você quer, por acaso, algo maior? Veja que, na realidade, ocorre o mesmo, e ninguém o condena. Sim, todas as coisas são aparências... dê-se conta... não há homem que não admita as pequenas e estúpidas mentiras que regem o funcionamento de nossa sociedade. Qual é o pecado do Astrólogo? Substituir uma mentira insignificante por uma mentira eloqüente, enorme, transcendental. O Astrólogo, com suas falsidades, não parece um homem extraordinário, e não o é... e o é; o é... porque não tira proveito pessoal de suas mentiras, e não é porque ele não faz outra coisa senão aplicar um velho princípio posto em prática por todos os vigaristas e reorganizadores da humanidade. Se algum dia for escrita a história desse homem, os que a lerem e tiverem um pouco de sangue frio dirão: era grande, porque para chegar a concretizar seus ideais utilizava os meios ao alcance de qualquer charlatão. E o que a nós parece novelesco, e inquietante, não é nada mais do que angústia dos espíritos débeis e medíocres, que só crêem no êxito quando os meios para alcançá-lo são complicados, misteriosos, e não simples. E, no entanto, você devia saber que os grandes atos são simples, como o prova o ovo de Colombo.
- A verdade da mentira?
- Isso mesmo. O que há é que nos falta a coragem para grandes empreendimentos, Imaginamos que a administração de um Estado é mais complicada que a de uma casa modesta, e pomos nos fatos um excesso de novelesco, de romanticismo idiota.

(Os Sete Loucos, Roberto Arlt)

Do sétimo andar.

Então, como um desesperado que se joga de um sétimo andar, ele se entregava ao delicioso terror da masturbação, querendo aniquilar seus remorsos em um mundo do qual ninguém podia expulsá-lo, rodenando-se das delícias que estavam distanciadas da sua vida, de todos os corpos mais distintos e formosos, que exigiriam uma soma imensa de existência e dinheiro para serem gozados.

(Os Sete Loucos, Roberto Arlt)

Redes sociais.

Fala demais por não ter nada a dizer.

(Índios,
Legião Urbana)

sábado, 27 de agosto de 2011

Realengo.

Eu mesmo estou descentrado, não sou o que sou, e, no entanto, algo preciso para ter consciência de minha existência, para afirmá-la. Isso mesmo, para afirmá-la. Porque eu sou como um morto. Não existo nem para Barsut. Eles, se quiserem, podem me por na cadei, Barsut pode esbofetear-me mais uma vez, Elsa pode ir-se com outro em minhas barbas, o capitão pode levá-la novamente. Para todos sou a negação da vida. Sou algo assim como o não ser. Um homem que não é ação, logo, não existe. Ou existe apesar de não ser? É e não é. Aí estão esses homens. Certamente têm mulher, filhos, casa. São, talvez, uns miseráveis. Mas se alguém tentasse invadir suas casas, tomar-lhes um centavo ou tocar em suas mulheres, se tornariam feras. E eu, por que não me rebelei? Quem pode responder a essa pergunta? Eu mesmo não posso. Sei que existo assim como negação. E que quando me digo todas essas coisas não estou triste, senão que minha alma fica em silêncio, a cabeça no vácuo. Então, depois deste silêncio e deste vácuo me sobe ao coração a curiosidade do assassinato, curiosidade que deve ser minha última tristeza, a tristeza da curiosidade. Ver como sou através de um crime. Isso, isso mesmo. Ver como se comporta minha consciência e minha sensibilidade na ação de um crime.

No entanto, estas palavras não me dão a sensação do crime do mesmo modo que o telegrama de uma catástrofe na China não me dá a sensação da catástrofe. É como se eu não fosse o que pensa o assassinato, mas outro. Outro que seria como eu um homem ingênuo, uma sombra de homem, à maneira do cinema. Tem relevo, se move, parece que existe, que sofre, e, no entanto, não é nada mais que uma sombra. Falta-lhe vida. Diga, Deus, se isto não está bem raciocinado. Pois bem: o que faria o homem-sombra? O homem-sombra perceberia o fato, mas não sentiria seu peso, porque lhe falta volume para conter um peso. É sombra. Eu também vejo o acontecido, mas não o contenho. Esta deve ser uma teoria nova. Que diria um juiz criminal ao conhecê-la? Dar-se-ia conta de quanto sou sincero? Mas essa gente acredita na sinceridade? Fora de mim, dos limites do meu corpo, existe o movimento, mas para eles a minha vida deve ser tão inconcebível como viver ao mesmo tempo na Terra e na Lua. Eu sou o nada para todos. E, no entanto, se amanhã atiro uma bomba, ou assassino Barsut, me converto no todo, no homem que existe, no homem para o qual infinitas gerações de jurisconsultos preparam castigos, cárceres e teorias. Eu, que sou o nada, de repente porei em movimento esse terrível mecanismo e policiais, secretários, jornalistas, advogados, fiscais, guardiães de cárceres, camburões, e ninguém verá em mim um infeliz, mas o homem anti-social, o inimigo que é preciso separar da sociedade. Isso sim que é curioso! E, no entanto, só o crime pode afirmar a minha existência, como só o mal afirma a presença do homem na Terra. E eu seria o Erdosain, previsto, temido, caracterizado pelo código, e entre os milhares de Erdosains anônimos que infectam o mundo, seria o outro Erdosain, o autêntico, o que é e será. Realmente, é curioso tudo isso. No entanto, apesar de tudo existem as trevas, e a alma do homem é triste. Infinitamente triste. Mas a vida não pode ser assim. Um sentimento interno me diz que a vida não deve ser assim. Se eu descobrisse a particularidade de por que a vida não pode ser assim, me furaria e, como um balão, me desinflaria de todo este vendo te mentira e sobraria de minha aparência atual um homem novo, forte como um dos primeiros deuses de animaram a criação. Com tudo isto perdi o fio da meada. Vejo ou não vejo o Astrólogo? Quem dirá quando me vir chegar outra vez? Talvez me espere. Ele é, como eu, um mistério para si mesmo. Essa é a verdade.

(Os Sete Loucos, Roberto Arlt)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Semiologia.

A persistência do significante cria um abismo diante do novo significado.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Furando os balões.

- O senhor se apaixonou por alguma delas?
- Oh, não, mas tive pequenos casos que vieram provar-me que as mais inteligentes são de uma espantosa estreiteza mental. Veja, por exemplo: um dia conheço uma mocinha, meio literata e meio tuberculosa. Vamos tomar um café juntos; dalia a cinco minutos ela já estava falando de seus pijamas coloridos, de suas mãos "ebúrneas e pálidas", do tabaco suave e da música de Debussy.. Sabe o que eu fiz? Interrompi suas confidências sobre arte transcendental, perguntando se ela menstruava com regularidade e se evacuava todos os dias.

(Uma Tarde de Domingo, Roberto Arlt)

Das profundezas.

Quando não há jogo, os queixos descansam engastados nas palmas das mãos. O cigarro se consome lentamente no canto dos lábios... e então... quando menos se espera surge o sofrimento surdo, algo como uma nostalgia das entranhas que ignoram o que querem, enruga as testas, ah! como explicar este desespero, corremos para a rua, vamos até os apartamentos onde nunca falta uma vagabunda com quem se deitar e desafogar babando num mau sonho esta dor que não sabemos de onde vem nem para quê.

E é que todos trazemos dentro de nós um tédio horrível, um palavrão contido, um golpe que não sabe onde cair, e se o Relojoeiro desanca sua mulher a pontapés é porque na noite suja do quarto sua alma empoça uma dor que é como a aflição do nervo de um dente podre.

(As Feras, Roberto Arlt)

domingo, 21 de agosto de 2011

Obras.

- Para que perder o sono com lutas estéreis, se no fim da estrada temos como único prêmio uma profunda sepultura e um nada infinito?

(Escritor Fracassado, Roberto Arlt)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cartas ao tradutor.

Paris, 25 de março de 1988

Caro senhor Brum

Que boa surpresa! Eu não sabia que meus Exercícios estavam tão próximos de ser publicado em uma língua que não conheço mas que adivinho, que sinto mesmo, já que o romeno tem certa afinidade com o português. Agradeço pelas páginas que me concernem: gosto dos prefácios breves e substanciais. Onde aprendeu o francês? Tenho realmente a impressão que você viveu em Paris. Gostaria também de saber quais foram as circunstâncias que o levaram a interessar pelas minhas divagações. Gostaria de conhecer alguns detalhes de sua vida. Fez outras traduções? Comovê, sou curioso e indiscreto, apesar da minha idade escandalosamente avançada.

Muito cordialmente,

Cioran.

***

Paris, 8 de junho de 1990

Estes silogismos, publicados em 1952, passaram durante muito tempo despercebidos. Desde que apareceram em edição de bolso, seduziram os jovens. Só uma geração desiludida poderia se entusiasmar por uma visão tão negativa da história. Só da história? Da existência em geral. É preciso ter coragem de reconhecer que a vida não resiste a uma interrogação séria e que é difícil, e mesmo impossível, atribuir um sentido ao que visivelmente não comporta um. Por outro lado, nem que seja por gosto do paradoxo, podemos ser seduzidos por esse naufrágio, pela amplidão, pelo brilho do nada de tudo o que vive.

O homem tem todas as chances de desaparecer e desaparecerá mais cedo do que pensa, mas, por outro lado, tem razão em prolongar essa tragicomédia, nem que seja por distração ou por vício.

Cioran.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Divagações.

10 de agosto. Gripado. Passei todo o dia na cama. Retornam as velhas obsessões, o sentimento de que para mim nada é possível. Esteja onde estiver meus males me acompanham. Esse é o presente capital da minha existência. Diria-se inclusive que meus males me precedem, que despejam o terreno a fim de que se possa ser infeliz sem dificuldade, sem obstáculos. Caso me transportasse ao Paraíso, o fenômeno se repetiria inevitavelmente.

Durante toda a tarde tenho pensado em Keats em Roma. Ainda que mude de paisagem, não posso mudar de destino. E, mal sinal para mim, todavia, não consigo me resignar apesar de todos meus esforços nesse sentido, e de todas as minhas teorias a respeito. Desassossega-me e exaspera-me, arranca-me contínuos lamentos, como se fosse possível ter outro ou modificar suas circunstâncias. Sofrer tranquilamente é um segredo a que aspiro em vão possuir e sem o qual os temperamentos como o meu estão condenados ao inferno.

(Emil Cioran, Cadernos de Talamanca)

Por culpa do depois... (ou É sempre sem querer)

Ah, Dindi...

Pra ajudar teu analista:

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ah... O amor...

O amor é a busca de si mesmo, um desejo de realmente entrar em contato comigo mesmo e com você, partilhando corpos, partilhando pensamentos, encontrando um ao outro sem prevenções, fazendo confissões e recebendo perdão, compreendendo, validando e apoiando o que era e o que é, ansiando por um lar e pela confiança que rechaça as dúvidas e as ansiedades geradas pela vida moderna. Se nada parece certo ou seguro, se em um mundo poluído até mesmo respirar é arriscado, então as pessoas vão em busca dos ilusórios devaneios amorosos até que subitamente eles se transformem em pesadelos.

(O caos normal do amor, Ulrich Beck e Elizabeth Beck)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Incidental.

No fundo tudo é raso.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Sorte.

Às vezes tudo que a gente deseja é uma pequena alegria.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre tumbas e heróis. (2)

Muere un terrorista, Bin Laden, y no me siento ni seguro ni contento pero muere un intelectual, Ernesto Sábato, y me siento más desamparado.

(Via Twitter)

domingo, 1 de maio de 2011

Sobre tumbas e heróis.


Tem gente que exala uma saudade e cuja morte nos afeta sem que ao menos a tenhamos pessoalmente conhecido. Mas será que não a conhecemos em alguma medida? Obrigado, Sábato.

sábado, 30 de abril de 2011

30 de Abril de 2010.

"...en todo caso, había un solo túnel, oscuro y solitario: el mío".

(O Túnel, Ernesto Sábato)

Severinos.

No centro da sala,
diante da mesa,
no fundo do prato,
comida e tristeza.
A gente se olha,
se toca e se cala
E se desentende
no instante em que fala.

Cada um guarda mais o seu segredo,
sua mão fechada
sua boca aberta
seu peito deserto,
sua mão parada,
lacrada,
selada,
molhada de medo.

Pai na cabeceira: É hora do almoço.
Minha mãe me chama: É hora do almoço.
Minha irmã mais nova, negra cabeleira...
Minha avó me chama: É hora do almoço.

...E eu inda sou bem moço
pra tanta tristeza.
Deixemos de coisas,
cuidemos da vida,
senão chega a morte
ou coisa parecida,
e nos arrasta moço
sem ter visto a vida
ou coisa parecida aparecida

(Hora do Almoço, Belchior)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Receita para se fazer um herói.

- X trabalha como um bode velho lá do outro lado. A gente seria capaz de de passar 30 anos ali, cada um em seu lugar, sem trocar ao menos uma única palavra.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Verbo viver.

Eu Bajulo
Tu Bajulas
Ele Bajula
Nós Bajulamos
Vós Bajulais
Eles Baujulam
E ai de quem não bajula!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Destino...

É difícil formular um juízo sobre a rebelião do menos filósofo dos anjos, sem mesclar nele simpatia, assombro e reprovação. A injustiça governa o universo. Tudo o que se constrói, tudo o que se desfaz, leva a impressão de uma fragilidade imunda, como se a matéria fosse o fruto de um escândalo no seio do nada. Cada ser se nutre da agonia de outro ser; os instantes se precipitam como vampiros sobre a anemia do tempo; o mundo é um receptáculo de soluços... Neste matadouro, cruzar os braços ou sacar a espada são gestos igualmente vãos. Nenhum soberbo desencadeamento saberia sacudir o espaço nem enobrecer as almas. Triunfos e fracassos se sucedem segundo uma lei ignorada que tem por nome destino, nome ao qual recorremos quando, filosoficamente desguarnecidos, nossa estância, aqui abaixo ou não importa onde, nos parece sem solução e como uma maldição que devemos sofrer irracional e imerecidamente. Destino: palavra seleta na terminologia dos vencidos... Ávidos de uma nomenclatura para o irremediável, buscamos um alívio na invenção verbal, nas claridades suspensas sobre os nossos desastres. As palavras são caritativas: sua frágil realidade nos engana e nos consola...

(Emil Cioran)

sexta-feira, 18 de março de 2011

De volta à realidade.

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...

(Sou Eu, Álvaro de Campos)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cotidiano.

As formas de se esconder são sempre suaves. Chove. Nem a madrugada mais consegue me consolar. Os acordes em progressão emulam uma profundidade que não é condizente com a circunstância. Há tempos não escrevo. Seria incorreto dizer que se trata de algum tipo de bloqueio criativo, afinal, o fluxo que liga o papel à grafite inexiste. Repetições me cansam. As variações se repetem. A borracha nunca apaga totalmente os traços, apenas dissimula a cicatriz que se mantém firme e forte, quero dizer, a planície foi alterada. Basta passar a mão com cuidado para sentir que ali tem muito mais do que um espaço vazio. A seiva ainda circula pelas veias invisíveis. Não eram cartas de amor. Nunca foram. Pequenos espasmos, perdidos em algum momento de distração, que por ironia ou desprezo – e aí pergunto, de quem?, para quê? -, se esqueceram de flutuar; fixaram-se como que escavando entre minas terrestres. Um passo em falso, uma martelada a mais e... Bem, e... E o teto despenca enquanto você procura a origem do zumbido, em vão. Aqui? Não. Ali? Não. Não. O ferrão vem, entra na sua pele, desnuda, queima. Simplesmente. Fogo? Gelo? O plano b: não, brisa não. É a borracha quem desliza.

(Outono, Julio Dupré)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Maybe, Maybe...

Só existe uma forma de não nos arriscarmos a perder aqueles que poderíamos amar. É não permitindo que eles entrem em nossa vida.

(Talvez uma história de amor, Martin Page)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Era uma vez...

...Porto Alegre. E só.