quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre certas solidões (3).

I

Perguntei pro meu vô se ele não cansava de ficar sozinho lá.

Demora muitos anos pra gente descobrir o que é estar sozinho de verdade, ele me respondeu. Pode ser difícil de acreditar pra ti, mas eu não sinto solidão aqui. Tu nunca te sentiu sozinho morando em Porto Alegre?

Me lembro das frases exatas. Lembro como entendendi o que ele queria dizer. Imaginei se sentira mais ou menos solidão caso morasse num fim de mundo como aquele. Talvez fosse sempre a mesma coisa.

II

Apesar do jeito que tu me trata me magoar às vezes, tu é a única pessoa com quem eu não me sinto sozinha. Acho que era isso que me fazia voltar toda vez pro teu apartamento. Sabe, agora eu entendo um pouco mais a razão de tu querer ficar tão isolado lá em cima. É tudo a mesma coisa. Isolado ou mergulhado numa multidão, no trânsito, no trabalho, a solidão é sempre a mesma, com exceção daquelas poucas, raras pessoas em cuja presença a solidão some, mesmo que não seja o tempo todo.

(Até o dia em que o cão morreu, Daniel Galera)

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