quarta-feira, 16 de julho de 2008

Tim-tim.

Não é de hoje que eu quero lhe dizer que não sou feito de bits, bytes, muito menos da mesma matéria de que são feitos os sonhos – que, diferente de mim, não tem matéria alguma, pelo menos fisicamente falando. Seria bobagem negar que tenho uma também uma parte intangível, inacessível, inclusive a mim mesmo. E olha que não estou falando do meu inconsciente. O que eu fiz durante todo esse tempo? Você mais do que ninguém sabe a resposta, ainda que por capricho ou vaidade se faça de desentendida. Mas eu, como sou bonzinho – todo mundo que não me conhece me acha bonzinho e os que me conhecem acreditam mais ainda – eu vou te lembrar: eu quis tocar o intangível. Porém para tocar o intangível não basta um coração. Foi por isso que chamei você, para me ajudar a acreditar em todas aquelas histórias e baboseiras inacreditáveis que só existem, que só resistem quando dois corações batem ao mesmo tempo – ainda que em ritmos totalmente descompassados, difusos, loucos, lunáticos e diferentes. ‘Para se tocar o intangível é preciso se ter mãos’, você me disse logo quando te conheci. Lembro perfeitamente desse momento porque ali eu tinha feito as pazes com algo que há muito estava separado de mim e que se chama fé. Isso mesmo, essas duas letrinhas que nos lançam para dentro do abismo, de cabeça, e ainda por cima nos faz sentir o prazer da queda. A gravidade da fé puxa e amortiza a gravidade de Newton. Oras, eu estou falando das nuvens. E não: essa fé em nada tem a ver com seres míticos, deuses, idéias, códigos. Nada disso: tem a ver com carne. Isso mesmo, como esta que reveste o seu corpo, que o meu corpo, igualmente feito de carne, desejava avidamente. Muitos acham que a fé deve sempre ter a ver com aquilo que não se pode enxergar, mas eu te disse que isso é pura balela: fé tem a ver com o que não se pode prever. Porque eu podia te tocar – e até te toquei algumas vezes, ou pelo menos achei que havia te tocado – mas jamais pude te prever. E não podendo, eu me limitava a aceitar. Paz? Não, fé infelizmente não tem a ver com paz, mas com o caos. Convenhamos: se o mundo fosse regido pela paz, a fé não faria sentido, não é mesmo? E eu, quase ateu, cheio de fé, peguei na sua mão como quem procura não a salvação e sim a perdição - ou talvez seria mais apropriado dizer 'a salvação que existe por trás de toda perdição'. Lembro disso. Aliás, maldita memória que não me deixa escapar sequer uma faísca. E é por conta disso que a todo momento as suas palavras não pararam de pulular na minha cabeça, como aqueles sinos das antigas catedrais que de minuto em minuto insistiam em me dizer que eu estava vivo. E é aqui que eu volto ao começo, rebobino a fita – porque no meu tempo era preciso retroceder para recomeçar – e me pergunto: eu realmente estive vivo? Porque olho para meus braços e não os vejo; olho para minhas pernas e também não encontro nada. Não me sinto. Sou apenas sinais e letras numa folha, que na verdade nem uma folha é. Sou um cursor. Um cursor sem carne, com histórias, mas sem história. Cego, surdo, mudo. Um simples cursor e você sabe que cursores não têm sangue e muito menos uma bombinha que espalha esperança para as células, em formato de oxigênio. Um cursor que procura um corpo, que procura um criador, que procura um coração, que procura o outro coração, que clama e reclama o intangível e que nesse percurso encontra apenas justificativas, ou seja: nada. Sinais sem vida. Um algoritmo de mim mesmo sem mim, eterno, desprovido de efemeridade. Rastros, apenas, nada mais do que isso. E olha que no início eu achei que tinha vida... Que surpresa, não é mesmo? Eu piso na certeza e encontro a dúvida. Tateando a dúvida, revejo a certeza. Nem tudo que reluz é 'outro'. Sou um cursor, por exemplo. Destilo algo que aparenta ser intangível, mas você bem sabe que não o é. Faltam-me mãos para tocar no intangível. Não só as que não tenho, mas as que não tens. E um dia eu ainda pensei que uma navalha bastaria para mostrar que existe sangue escorrendo em minhas veias. Hoje, mais contido, percebo que navalha é uma palavra e sangue apenas uma idéia, bonita e perfeita como qualquer idéia que te prende a uma verdade. E eu, bobo, duvidei, neguei, evitei mas desde o início tinhas toda a razão: não sou capaz de sentir absolutamente nada. Nem você. Tim-tim!

7 comentários:

Anônimo disse...

Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.

( Camus )

Anônimo disse...

Tim tim!

um viva à insensatez, que suja a sua tez... lalala

só espera você a sua vez que eu não sei esperar.

Anônimo disse...

Vc nunca vai aprender a esperar...
e seu forte não é mesmo o diálogo, vc fala e responde com muita rapidez e perfeição! uau!
tinha um texto pra mandar,
que escrevi agora, em horário de trabalho, coisa que não vou fazer mais. Pq o que vc disse 'parecia' sincero. Mas é só literatice. Sempre. E as idéias pros textinhos vc vai extraindo de quem cai na sua redezinha de belezas, que no fundo é mesmo de cacos de vidro. Parabéns, tá tudo muito lindu por aqui! Tim-tim.

lalala
hehehe
hahaha
kkkkkk!

abs
queridão!

Where I'm Anymore disse...

Que saudade, hein dona Renata! Bom te ver novamente nesse espaço!

Quando li sua mensagem admito que dei algumas gargalhadas porque tudo o que eu desejaria é justamente que fosse do jeito que você escreveu! Mas é que infelizmente eu não tenho vocação para escritor profissional nem amador. Claro que invariavelmente eu posso pegar as tintas e exagerar um pouco - ou talvez tentar disfarçar os detalhes - mas eu não consigo escrever sobre outra coisa que não sobre as impressões que eu tenho a respeito do mundo. Tudo que posso lhe dizer é que existe de mim um pacto pela sinceridade com quem lê meus relatos porque os mesmos dizem um bocado a meu respeito.

No entanto num ponto você tem razão: aqui predominam os 'monólogos', embora tenha um ou outro diálogo perdido entre minhas mensagens. Pelo menos aqui eu tenho esse poder, o que não costuma acontecer dessa forma, com esse timing e essa 'perfeição' que você me disse nos episódios da minha vida real. Acho até que já te disse isso em algum momento anterior. Na 'vida real', por assim dizer, eu ouço mais do que falo, embora quando adquira alguma confiança o diálogo flui de uma maneira legal.

Por último, não, eu não sei nem vou aprender a esperar. Se isso é bom ou ruim não posso lhe dizer - na verdade são as duas coisas ao mesmo tempo. Mas há em mim algo como uma pressa sem motivo aparente, menina. Parece que eu morro a cada segundo - o que é verdade se levarmos ao pé da letra. Tenho sede e muita!

E a senhorita, como está? Espero que bem!

Vou ficando por aqui, minha queridona! Beijos e até mais!

Anônimo disse...

Adoro imaginar suas gargalhadas (e não é ironia...)
Eu toh legal, com mais fome
do que sede, mas não deixa de
ser bom... uma hora a sorte/escolha ajuda e ainda acredito que dá pra juntar com a vontade de comer ;)

qdo vc falou no seu texto
sobre não sentir nada,
e depois, no seu comentário,
sobre ter urgência e sentir muita sede, surgiu na lata de novo
nosso amigão alvaro de campos,
com um poema q não precisaria nada mais além do título...

'Bicarbonato de Soda' (conhece, né? é manjadão, mas é bão/ rs)

e a frase q veio foi:

"Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!"

credo, papo de rosca!
com o tempo conversar vai ficando
mais docinho (espero)... é soh saber sair direito da fase da anestesia (nos aconteceu simultaneamente, ao que parece, do contrário não conseguiria te responder sem agredir). Ou não sair nunca, às vezes tb dá certo.

logo logo te escrevo de
novo, pode esperar! afinal,
seus relatos por aqui são
muito emocionantes! (vc se emociona qdo escreve? ou o lema é o pessoano -- Sinta quem lê?)

xi,
agora deu sono...

té mais
bjks

Where I'm Anymore disse...

E ai minha queridona?

Reli o 'Bicarbonato de Soda', que não é tão famosão assim! E relendo vi um verso tanto quanto ironico, se levar em consideração a minha última fala: 'Dêem-me de beber, que não tenho sede!'.

Sim, o Álvaro de Campos é queridão e fenomenal. Não sei porque, depois de ler o verso que você postou, o primeiro que veio à minha cabeça foi aquele: 'Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!', que está presente no Aniversário!

Em relação ao meu último texto a minha intenção foi a de ser ironico. Talvez a sua leitura tenha sido distinta, talvez tenha acreditado naquela coisa 'pseudo-intensa' que também se é possível ser feita. De modo geral o que posso lhe dizer é que eu gosto daquele literatura que possui um tom mais confessional, embora saibamos nós dois que isso tudo pode se tratar de um efeito - e no fim das contas tudo são efeitos -, ou como você chamou, 'literatice'. Claro que acontecem muitas vezes d'eu escrever coisas que aparentam soar meio arrogantes e por vezes 'sem sentido' muito claro, ainda mais para quem vê de fora. Como disse o meu mais novo queridão, o Cioran, 'Uma pessoa escreve não porque tenha algo a dizer, mas porque tem vontade de dizer algo'. E comigo é assim. Sendo assim, tem vezes que aquela urgencia de que lhe disse aparece e vai me guiando e eu vou descobrindo junto com o texto o que estou sentindo - ou talvez eu só nesse momento esteja admitindo para mim mesmo o que eu até então consegui me negar. Claro que parecem reclamações tolas, por vezes, pura vontade de reclamar da vida por si mesma. E reclamar você sabe que é muito fácil! No entanto para mim seria muito melhor não escrever do que escrever; ou então criar essas colchas de retalho imaginárias, que você disse. Fato é que não funciono assim. Tem até gente que funciona realmente dessa forma, mas eu não sou desse jeito.

Quanto a sua última questão, eu acho que as duas coisas não são excludentes: há uma emoção minha no escrever que se expressa nessa necessidade, urgência de dizer, ao passo que se isso vai fazer sentido para além de mim não posso prever. Se de alguma te tocar, é bom saber que esse espaço de alguma maneira te serve, porque o ideal máximo de um texto é o reconhecimento que aquele que lê pode ter. Como bem fez questão de colocar uma amiga bem bacana, invariavelmente por eu ser o primeiro leitor do meu texto ele também me afeta - e com o tempo esse tipo de afetação vai ganhando ora contornos mais definidos, ora mais indefinidos. Em primeiro lugar escrevo para mim, digo, para me olhar num espelho mais imperfeito.

Essa fase de anestesia é estranha e diga-se de passagem adoro essa palavra, conheço bem essa sensação - embora não o saiba ser assim por um período muito grande!

Falei bastante, como sempre, talvez mais do que deveria, mas não tem problema. Dos males o menor: o excesso.

Beijão menina e se cuida! Até uma próxima!

Anônimo disse...

o poema Aniversário
(assim como o Bicarbonato
de Soda)
anda comigo desde a
primeira vez que o li...
na minha cabeça
no coração
no estõmago

qdo fico muito triste
me pego escrevendo no papel:
'o q eu sou hoje
é terem vendido a casa,
é terem morrido todos...'
até chegar ao 'fósforo frio'...
e não por questão de biografia
isso não era um sentimento gerado por uma situação real do poeta qdo escreveu, nem era a minha qdo li, e soh mais tarde virou algo MUITO concreto... a emoção se antecipou em muito aos fatos que, de resto, se passam com quase toda gente...
já pensei q isso pode ser
masoquismo, mas acho q não é bem assim, não... talvez seja um jeito
de aliviar a dor, sabendo que ela não é só minha, mas de taannta gente...


que bom que vc tem amigas pra falar do que escreve...
eu não vou mais escrever aqui.
nunca mais quero ouvir esse
papo de
queridona etc e tal.
É horroroso, cruel, estúpido mesmo.

Ontem fiquei pensando
um monte, e percebi umas coisas novas: se eu me faço de
vítima, a emoção vem rapidinho,
como agora... explode, simples assim. Nem precisa beber, fumar, cheirar, pensar nos seus olhos, não preciso de nada, é só lembrar os versos desse poema, por exemplo, e pensar em quanto eu SOFRO...ai de mim!

não quero mais que a emoção
venha assim...
mas tb não quero banalizar
a poesia, que é talvez uma das
coisas mais importantes pra mim,
mais sagradas.

não precisamos disso.
vc não é forte suficiente
pra atender um telefonema,
mas vira um leão bem bobo
quando escreve. Machuca muito mais do que imagina. E parece que te custa bem pouco. Se continuar
vindo aqui, vou ficar parecida
com um tanto de gente que fala aí pelos seus blogs... vou vulgarizar o que eu sinto, o que eu levei muito tempo tentando aprender...

vale a pena, não.
bjs