sábado, 22 de junho de 2013

Gente como a gente

Gente que faz uma faculdade de ciências humanas, passa a graduação inteira sem ler um texto sequer e depois coloca o dedo na sua cara querendo te ensinar política. 

Gente que faz parte do movimento social porque é “amigo do pessoal”. 

Gente que diz que é democrático, mas quando você discorda de um ponto foge do argumento e quer logo te desqualificar, te censurar. 

Gente que vai à praça de alimentação do shopping e é incapaz de tirar a bandeja de cima da mesa depois de lanchar. 

Gente que vai ao supermercado e que, depois de feitas as compras, não coloca o carrinho ou a cestinha de volta no lugar. 

Gente que dá aula em universidade, adora falar mal dos problemas da cidade, criticar o prefeito, os partidos “a” ou “b” e que, no entanto, passa o dia inteiro no gtalk em vez de ler os trabalhos dos alunos – e que, naturalmente, não gosta de receber nenhum tipo de questionamento a este respeito. Ah, sim: e ainda por cima chama seu comportamento de “ético”. 

Gente que organiza processos seletivos não com base nas qualificações, mas por conta de interesses particulares – escusos ou não. 

Gente que bajula chefe, professor, colega e quem mais estiver ao seu alcance em prol de status e/ou da obtenção de benefícios pessoais. 

Gente que vai para as manifestações para fumar maconha porque na ditadura, na revolução francesa ou na revolução paleolítica se fumava maconha em manifestações. 

Gente que diz que a manifestação é por 20 centavos, depois diz que é por muito mais do que 20 centavos e por fim decreta oficialmente que são 20 centavos e só. 

Gente "de esquerda" que trabalha produzindo dados para empresa de consultoria defensora de interesses estritamente privados - vulgo: "os reais interesses do povo brasileiro". 

Gente que quando recebeu a notícia da copa no Brasil disse que quem não a apoiasse não era patriota. Dois anos depois, com a mesma ênfase, disse que quem apoiasse uma copa no Brasil jamais seria um patriota. 

Gente que corrompe os funcionários públicos. Gente que aceita ser corrompida. 

Gente que desrespeita os regulamentos estabelecidos a fim de obter vantagem pessoal. 

Gente que reclama apenas e tão somente depois que o leite entornou. Melhor: gente que reclama, intransitivamente. 

Gente que adora dizer que as coisas são óbvias e lógicas, quando elas são tudo menos óbvias e lógicas. 

Gente que adoraria a volta da ditadura para sentir que a sua vida tem sentido, para dizer que participou de um momento histórico, para poder roubar em segurança ou apenas para fazer uma canção de protesto. 

Gente que adora colocar banca nas redes sociais pagando de politizado e revoltado – mas que é bem menos consciente do que muitas pessoas que nem perdem o seu tempo discutindo política. 

Gente que acredita que basta colocar os pés na rua para que haja um “aumento da reflexão política”. 

Gente que acredita que consciência política é um processo osmótico. 

Gente que participa de uma manifestação pós-moderna: grita slogans, ops, palavras de ordem sem nem saber o que elas significam, sem nem saber o motivo das manifestações, sem nem saber porque elas estão lá. 

Gente que pensa que "se você não está conosco, está contra nós". 

Esse é exatamente o tipo de gente que diz estar cansada. É o tipo de gente que fica em casa. É o tipo de gente que vai às ruas. É o tipo de gente que assume os cargos públicos. Gente que vota. Gente que critica os políticos. Gente que critica os partidos políticos. Gente que se torna político. Gente que se acha o panteão da moralidade. Gente que está certa. Gente que sempre se vê como parte da solução. Gente que nunca se enxerga como o foco do problema. Gente que muda apenas para tudo continuar como está. Gente que escreve textos falando da gente. Gentalha, gentalha, gentalha...

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