domingo, 23 de novembro de 2008

Diários (VI).

Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.

(Diário IV - Limite Branco, Caio Fernando Abreu)

4 comentários:

Anônimo disse...

'Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente.'


é muito por aí, não?
da ternura à agressão e vice-versa... mas de longe, vai sobrando muito mais da agressão, enquanto a ternura, sem a doçura do toque, vai se diluindo, me parece. Ninguém é de ferro. Nem de brisa. Cada um se joga como pode.

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-- algumas pessoas sacam as coisas mais rapidamente que outras, baby. O humor ajuda muito nisso...
-- eu sei, e até me acho bem engraçada. Mas há momentos em que a gente precisa compreender o que é grave, denso, e tratá-lo como tal. A graça e a leveza só vão acompanhar isso se houver sintonia com o que é pesado, com o que dói, pelo menos eu penso assim.

-- complicadinho demais, menina.
-- é, eu sei. E também sei boa parte daquele poema da ave negra. E alguém que não sei ainda quem é às vezes me visita à noite, nos últimos meses, querendo abrir uma porta. Antes não tinha forma humana. Agora tem, mas é apenas um vulto na escuridão. Uma sombra. Sempre fui medrosa com o 'desconhecido', mas dele não tenho medo. Nem tento explicar o que seja tudo isso. Me parece natural que seja assim. E é isso, justamente, o mais estranho...

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De qq modo tb queria te dizer que minha vida, apesar de complicada, não está triste, não. Tenho conseguido uma espécie de liberdade maior, que quase me traz de volta alguma leveza e alegria. Aprendo a me comunicar à distãncia de forma um pouco mais ágil; conheci mais gente que pensa de uma forma parecida algumas coisas que prá mim são fundamentais, gente que fala mais a minha língua, que me ajuda a tentar recuperar as minhas/nossas palavras. Quem sabe até me ajuda a saber como podemos tirar novas fotografias. Resgatar antigas.
Enfim, vai por aí. Não muito diferente de ti, apesar dos caminhos em paralelo.

Te cuida direitinho
bjs :)

Where I'm Anymore disse...

Olá Renatuxa querida!!!

Engraçado porque eu tinha uma certeza enorme de que você comentaria esse diário do Limite Branco! E sabia justamente que você faria a alegação que fez de que 'entre nós havia essa relação entre ternura e agressão'.

Eu te digo, menina, que eu discordo que exista essa relação de agressão, ao menos da minha parte. Não quero te agredir e faço tudo o quanto posso para não faze-lo. Só que as vezes eu fico surpreso quando, ao começarmos a trocar algumas mensagens, de uma hora pra outra, você muda o tom. Eu realmente fico desconcertado porque a coisa tá fluindo e de repente, você corta. A verdade é que muitas vezes eu fico sem entender. Se eu falo muito, você reclama, se eu falo pouco, também. Verdade que nem sempre eu estou 'bem' e tenho feito questão de me manifestar quanto ao meu estado de espírito. E verdade seja dita, ele pouco tem a ver com você, mas sim como eu lido com a minha vida. De minha parte há carinho por você.

Talvez você tenha achado que eu fui 'cínico' no ultimo comentário, quando não! Acho você engraçada. Aliás, gosto de pessoas com senso de humor apurado, de preferencia que puxem para algo mais cínico, mais irônico. Eu quero que você seja plena e que saiba lidar tanto com os momentos de leveza quanto com os de profundidade. Quero dizer, Renata, que profundidade demais também não funciona. Acho que você saca do que eu digo. Aliás, minha definição de amor tem a ver com isso. É um estado que te faz gostar de estar assumidamente bobo. Pode parecer idiota, mas se sentir assim é um bocado bom, é gracioso.

Gosto de saber sobre você. E fico feliz que você esteja no caminho da alegria. Essa troca com pessoas que sejam capazes de te entender, que tenham visões afins é sempre positiva. Saber que não se está só o tempo todo, que tem gente que pensa o mesmo é sempre algo gostoso. Esses momentos em que a gente se ergue, que consegue se levantar, encontrar alguma luminosidade, são cruciais.

Quanto a mim as coisas continuam muito confusas na minha cabeça. Tenho alguns problemas a resolver e outras que vão ficar na vontade de resolver. Nem sempre se pode tudo. Hoje tive uma conversa interessante com uma amiga minha, diria até que um 'quebra pau' que me fez repensar algumas coisas sobre mim. Foi doloroso, embora produtivo.

Um beijão, menina! Se cuida também!

Saudades!

Anônimo disse...

última mensagem, meu querido,
pelo menos por enquanto.

não dá pra ficar só com seu carinho.

cuida da moça por quem vc se
apaixonou, então!

se precisar de algo, é só me ligar.

um beijo

Where I'm Anymore disse...

Poxa vida, Renata... Assim que eu li sua mensagem eu te liguei, mas você não atendeu!!!

Eu vou te dizer uma coisa: carinho é uma das coisas mais importantes que pode se existir nesse mundo.

Eu quero você, mas quero você plena, entende? Não quero esse jogo de esconde esconde, de bem e mal.

A suposta menina por quem eu me apaixonei, eu realmente pouco sei o que fazer, afinal, a recíproca, menina, infelizmente não é verdadeira. E não digo em relação a essa menina em particular, mas às meninas por quem me apaixonei de maneira geral. Elas não estiveram prontas para lidar com o meu amor, que não é muito convencional. Eu sempre pensei que eu fosse o culpado, que tivesse agido de maneira errada, mas essa não é exatamente a verdade, não é toda a verdade. A verdade, pelo que eu percebi, é que elas não estavam prontas para ouvir o que eu tinha verdadeiramente a dizer. E você, será que estaria?