sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Nem parece...

Dia desses estava eu me distraindo no violão quando, sem motivo aparente, comecei a cantarolar uma canção da qual gosto muito sobretudo por conta de sua letra. Fiquei eu aqui pensando como algo poderia soar tão bonito e ter sido elaborado por um processo criativo tão despretencioso, quase psicografado. Digo isso porque por mais que eu pare e tente escrever alguma grande letra de música, sempre o resultado soa inóquo, forçado e pretencioso. Cada palavra é pensada; cada sentido é buscado; as entrelinhas são totalmente artificiais, rígidas, quadradas. Parece não haver liberdade para o sentido. Tudo é demarcado, fechado, preso. Eis que a tal canção diz tudo o que eu gostaria de dizer de uma forma bonita, natural, poética. As arestas reforçam as palavras. Por conta dessa rigidez não há uma letra minha que supere a beleza das letras dele.

Paradoxalmente a minha letra sempre se estrutura como uma narrativa, com começo, meio e fim totalmente demarcados. Enquanto isso as letras desse grande compositor se estruturam exatamente como uma poesia. Digo paradoxalmente porque em algumas das nossas discussões sempre tal compositor manifestava desprezo pela poesia, em detrimento da prosa, enquanto eu fazia o exato oposto. Vai entender ...

De qualquer maneira, segue a letra da referida canção - provavelmente a minha preferida - e também a minha admiração pelo Daniel:

Vermelho Sangue

Apenas um rastro nos separa
Aquela invisível corda bamba
Você me jogou de cima do abismo

Os riscos que corro são os mesmos
Os pés já não sentem o desespero
A volta pra casa é bem mais sutil

O céu nos separa
O inferno nos une
Pra sempre estarei à sua espera
Tentando ficar imune

Ao que parece era pura paisagem
Não tinha tinta, era mais um rascunho

Corri até a aquarela
E o que havia sobrado
Era o vermelho sangue

(Daniel)

Um comentário:

Daniel Bianconcini disse...

nossa, acredita q nem me lembrava dessa?
mas tb gosto da letra, a melodia q vc fez ficou linda guilherme, eu que não soube valorizar na época.
brigado msm, e grande abraço!