quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Insônia.

Eu já estava na cama. Mas, do que isso adianta se meus pensamentos estavam longe de mim?

Sinto novamente um aperto no coração. A quem eu estou querendo enganar?

A minha vontade agora, imediata, urgente, seria escrever um e-mail para a Thais e dizer que eu simplesmente não consigo parar de pensar um segundo sequer em qualquer coisa que seja diferente dela; que não importa o quão inútil resulte o meu amor por ela eu não consigo sentir outra verdade.

(Tocando Panic aqui. Sim, estou chorando.

Hang the blessed DJ. Because the music that they constantly play... It says nothing to me about my life.)

Segundo o relógio do Windows, são 04:04 da manhã.

Podem parecer pensamentos soltos e desconexos mas, de alguma maneira inexplicável, o que eu digo parece um bloco sólido à minha consciência. Ainda há pouco eu tentava em vão ler O Lobo da Estepe, do Hermann Hesse. Ao mesmo tempo em que me via enquanto um verdadeiro Lobo da Estepe não conseguia me concentrar na leitura por ver a Thais na mesma condição. De repente aquele desejo ferrenho estoura pela segunda vez na noite. Não me segurei. Pés contraídos e mãos presas imaginando algo que nunca acontecerá - e que esse simples motivo será o bastante para me atordoar a 'alma' daqui em diante. Eu tenho a impressão de que existem alguns eventos que tinham necessariamente que acontecer e que a não realização dos mesmos é traumática, imperdoável.

Evitei até então falar sobre um tema que eu outrora tanto prometi falar. Posterguei até mesmo porque, pela minha formação, tal tema é tabu para mim. Mas chega um ponto que não falar nada sobre tem o peso de um tiro. Eu simplesmente não consigo entender porque a Thais me deixa tão excitado. Hoje eu compreendo perfeitamente a insistência - cansativa, inclusive - do Freud em fazer tanta questão de dar um peso enorme à questão da sexualidade na etiologia das neuroses. De alguma maneira, viver em sociedade é contrapor as obrigações dos impulsos naturais (a reprodução) a severidade dos bons modos, à nossa simbolização. O sexo é urgência, de fato, mas eu estou tão conformado dentro da sociedade que atribui a ele o sentimento do amor. Há quem consiga separar o sexo do amor, como a própria Thais ao que me consta (parecendo, por isso, tanto com o Tomás, do A Insustentável Leveza do Ser). Contudo eu não pertenço a categoria acima. De qualquer modo, se até então eu tinha uma visão totalmente romantizada do próprio ato sexual, desde que o súbito tesão que sinto pela Thais floresceu sobre mim, percebi a urgência do sexo, seu caráter irracional. Não que o meu lado 'menininha' tenha sido completamente descartado. Mas só agora, depois de um tempo, me dou conta da naturalidade da Thais em tratar do assunto ante todo o meu temor em se saber o momento em que o desejo surge. Ele surge e pronto. Não é algo que se possa ser determinado, controlado (a menos que você faça do sexo sua profissão). Não por acaso me pego imaginando em momentos cujo contato é extremamente violento, visceral. Ok, é imaginação. Aliás, minha vida toda é uma grande imaginação. Tudo que eu precisava era tê-la diante de mim ao menos por uma vez. Acontecer algo concreto com a Thais era uma dessas demandas inegociáveis da vida das quais falei pouco acima, uma daquelas frustrações que me farão rombos na alma. Porque a questão que envolve o desejo não é a perfeição, mas sim a imperfeição. Conheço cada pedaço do corpo dela com a palma da minha imaginação - presa em minhas mãos. Nunca ninguém entenderia do que realmente se trata 'minha vida em minhas mãos', expressão que, dia desses, cravei em conversa com o Tio Beto. Minha vida em minhas mãos - quisera ela tivesse em minhas mãos, mas nunca tive o guidom do meu destino...

Ironicamente ontem, no decorrer de uma de nossas conversas virtuais, a Thais me soltou: pode encher a minha caixa postal com uns duzentos e-mails, viu? Era tudo o que eu gostaria de fazer, minha querida. Queria pegar as duas descrições que, em noites de completa ânsia e euforia, eu ousei transpor para o papel relatando tudo que eu queria que estivesse além das folhas do papel e mandar para você. Maldizer os seus pés, os seus seios, o seu sorriso. Eu queria o seu corpo, assim mesmo, sem sentido - por mais sentido que houvesse por trás de tudo. Porque não é apenas um corpo; está além da 'alma'.

Eu queria pegar aquele seu relato e desdobra-lo em partículas minúsculas - provavelmente você nunca vai chegar a saber quantas vezes me vi detido, relendo-o insistentemente e como seu mesmo texto me deixou machucado, ferido, em estado de compaixão e pena; Eu queria pega-lo e rasgá-lo na sua frente ao te abraçar. Eu queria te ver chorar compulsivamente e te ver roendo as tuas unhas. Eu sei que, nesse momento, eu deveria querer ver você pelas costas e deveria te odiar, jogar na sua cara o quanto você me machucou (ainda que ingenuamente; ainda que levianamente), bem como o Alan sabiamente me disse. Eu tenho plena consciência de que dizer isso é o mesmo que afirmar que eu não tenho orgulho. Mas eu me pergunto para que o orgulho diante do que é efêmero? Eu me anulo. Mas quem sou eu que não você?

Logo logo minha mãe escuta o barulho do teclado do computador e me pergunta: sabe que horas são?

- Claro que eu sei, mãe (você é que não faz idéia - penso). É hora de... (Não sei - sim, é você quem sabe - admito mentalmente)

A verdade é que o amor sempre me destrói; sempre me vence - pena que ser vencido pelo amor não signifique, sob hipótese alguma, ser amado.

Se ao menos eu soubesse fazer poesia...

1) Lucrécia me lembra você. Quando aquele refrão arde - como nesse momento - eu me seguro para não chorar;
2) Não está. Como sempre ansioso; como sempre precipitado.
3) Eu preciso que um raio caia sobre a minha cabeça e a parta em milhões de pedaços o mais rápido possível.
4) Achei que tivesse sido despretensioso. Nenhuma merda é despretenciosa; você precisava disso...

O aperto no coração persiste. Sempre quando eu estou apaixonado ele resolve dar as caras. Hora de voltar para a cama...

Eu quis mudar pra você ver
Que nem sempre é tão difícil a gente perceber
Se estou melhor quem vai saber

Se o que eu fiz foi pra agradar você
Mesmo que isso custe o nosso tempo

Olha meu novo sapato
Estou de fato
Tentando me adequar
Ao seu modelo
Ao seu cabelo

Se o que eu fiz foi pra buscar você
Mesmo que isso custe o nosso tempo

(Melhor, Wado)


http://www.youtube.com/watch?v=96nBJEkcd9o


*Obs: A Melhor também me faz prender as lágrimas e segurar o soluço.

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