domingo, 17 de fevereiro de 2008

Alter-Ego ou Quebra-Cabeça (1)

Desde que dei pela 'idéia' de iniciar este blog, a criação de uma seção específica de textos me acompanhou. Cheguei a esboçar uma tentativa de começa-la, mas até hoje tudo não passou de um rascunho. O meu objetivo, conforme o próprio título deste post tenta sugerir, é tentar criar uma radiografia da complexidade da personalidade da Thais tendo em vista semelhanças entre esta e personagens com os quais me deparo no mundo da arte - sobretudo cinema e literatura. Decerto, esse meu esforço se deve, em grande parte, a minha própria neura de tentar explicar o que está no meu em torno. Sou um escravo dos detalhes, como diz na letra da Leif Erikson e tenho uma enorme mania de fazer associações com os elementos que fazem parte da minha vida. Feita esta breve introdução (outra de minhas manias excessivamente explicativas) vamos ao personagem do dia.

Lourenço - O Cheiro do Ralo

Assisti a este filme por conta de duas indicações, sendo que a principal delas foi a da própria Thais. Admito que à época, apesar de compreender minimamente a proposta do filme, o mesmo não me agradou muito; pareceu um tanto quanto forçado. Fiz este comentário com o Alan e ele, no mesmo momento me deu uma cortada: 'para ser bem franco eu não achei o filme tão estranho assim'. Foi exatamente ontem o mesmo comentário, praticamente com as mesmas palavras, que escutei da boca (na verdade das letras da Thais) durante conversa no MSN. Só que entre um comentário e outro houve um hiato de uns dois meses. E de lá pra cá consegui fazer um pouco melhor a digestão do filme. Não por acaso, quando falei a Thais que eu havia assistido ao filme que ela me indicara, 'soltei' de forma despretenciosamente pretenciosa que ela se parecia com o 'Selton Mello'. Foi o suficiente para que ela fisgasse a isca.

Dificilmente eu entenderia a riqueza da personagem Lourenço se eu não tivesse acesso a Thais. Entre a fala dela e a fala do Alan, num belo dia, a ficha caiu: a Thais tem muito do Lourenço! Digo isso porque a impressão que eu tenho a respeito dela é que a Thais tem medo de perder o controle de uma relação que ela estabelece com outras pessoas. Em linhas gerais, no meu entendimento, ela tem medo de ficar por baixo - o que ela negou quando conversamos outrora a este respeito. E é ai que reside o grande paralelo com o protagonista do Cheiro do Ralo. A própria profissão de Lourenço, dono de um antiquário que negocia a compra de peças usadas, reforça esse seu traço. Ele não apenas procura sempre a maior possibilidade de lucro, como tenta se valer do desespero alheio para se manter sob o controle da situação. Transpondo isso para a vida afetiva, no campo do amor Lourenço teme perder o controle, afinal, o amor não é como um negócio. Por conta disso ele foge do soco do amor; transfigura suas sensações; prefere se ligar a uma bunda do que a dona dela - ainda que por esta nutrisse um amor que ele tentava negar a todo custo. Tenta-se conter o fogo de sentir. Como resultado dessa dificuldade de se entregar e de quebrar a cara, seu prêmio foi uma progressiva tendência a solidão, ao conformismo e ao auto-enclausuramento - tendência esta que temo possa acontecer também com a própria Thais.

Viver tem a ver com tentativas, com perdas e fracassos. A multiplicidade de experiencias, boas e ruins, nos ajuda a saber medir nossos futuros passos. Por trás de cada derrota há, inerentemente, uma vitória escondida que só se descobre algum tempo depois. Fugir disso pode parecer cômodo, mas no fim das contas se revela extremamente amargo e improdutivo. Que o diga o personagem Daniel Plainview do filme Sangue Negro.

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