terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dois poemas, um fragmento, um agradecimento.

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já tivesse avançada).

Chovia

Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso
da noite.

Então me levantei.
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
-Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

(Poema só para Jaime Ovalle, Manuel Bandeira)

***

Se sou alegre ou sou triste?...
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?

Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sei que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sinto o que Deus fadou.

Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim...
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim...
Mas a alegria é assim...

(Fernando Pessoa)

***

Às vezes quero sair, tenho vontade de sair; ao mesmo tempo não quero. Nunca sei direito se quero ou se não quero. Há essa necessidade de que eu estava falando; gente barulho, agitação. Mas depois há a volta. A gente chega em casa triste; mais triste do que quando saiu, isso é que é o pior. Não sei por quê, mas as pessoas sempre me deixam triste. Mas se fico em casa sozinho, também acabo triste. Quer dizer: não tem jeito. Eu agora estou aqui, bebendo, falando, e, de certa forma, pensando que eeu estou alegre. Mas não estou; sei que eu não estou. Como pode estar alegre um sujeito sozinho num quarto, bebendo e falando com um cachorro? Ainda mais numa noie de chuva como essa, e num sábado, quando todo mundo está por aí, nos bares, cinemas e clubes conversando, rindo, dançando, fazendo uma porção de coisas. Isso não é alegre. Mas, e se eu tivesse saído? Já sei: a volta, a entrada nesse quarto, os olhos pregados no escuro e aquele peso oprimindo o coração. É difícil, muito difícil. E não serve de nada pensar nisso. Eu devia pensar numa coisa mais agradável. Você, Tiu, não compreende porque é um animal, mas eu vou te dizer: gente é uma coisa muito triste. Muito triste. E é por isso que a gente bebe, que eu estou aqui bebendo, e que todo mundo bebe. A bebida faz a gente esquecer um pouco. Depois piora, ela aumenta a tristeza, e a gente fica mais triste ainda. Mas na hora é bom, ela ajuda a esquecer um pouco. Pelo menos um pouco a gente pode esquecer. E é por isso que a bebida é boa, e que eu bebo, e que todo mundo bebe. É por isso. Por causa disso.

(Chuva, Luiz Vilela)

***

Bingo, Desireê.

Um comentário:

Desiree disse...

Há como não amar? Este conto foi escrito pra mim. Tenho certeza de que o Vilela ainda me dirá isso...