domingo, 23 de agosto de 2009

Ciorando (7).

Por que não explodir? Não existe em mim energia suficiente para tremer ao universo, loucura suficiente para aniquilar a mínima claridade? Acaso minha única alegria não é a do caso, e meu maior prazer o impulso que me destrói? Acaso minhas ascensões não são quedas e minha paixão minha própria explosão? Não sou capaz de amar sem autodestruição? Sou um homem hermeticamente fechado aos estados puros? Conteria meu amor tanto veneno? Devo abandonar-me completamente ao meu frenesi, não voltar a pensar nele para experimentá-lo com o excesso mais total. Acaso não combati a morte suficientemente? Devo, além disso, suportar que Eros seja meu inimigo? Por que sinto tanto amor quando o amor ressuscita em mim, por que me chegam vontades de aniquilar ao mundo para deter o progresso desse amor? Minha desgraça consiste no fato de que desejo ser decepcionado no amor para ter novas razões de sofrer. Pois somente o amor nos revela nossa degradação. Quem viu a morte de frente, pode ainda amar? Pode morrer de amor?

(A renúncia, Emil Cioran)


Tudo é possível e nada o é; tudo está permitido e nada o está. Qualquer que seja a direção que tomemos, não será melhor que as demais. Realizemos algo ou nada, acreditemos em algo ou não, é tudo a mesma coisa, tal qual é o mesmo gritar que se calar. Pode-se encontrar uma justificação a tudo, como também nenhuma. Tudo é por sua vez real e irreal, lógico e absurdo, glorioso e anódino. Nada vale mais que outra coisa, como tampouco nenhuma idéia é superior a outra. Por que entristecer-nos devido a nossa tristeza e regozijar-nos devido ao nosso regozijo? Que mais que nossas lágrimas sejam lágrimas de prazer ou de dor? Amai vossas desgraças e odiai vossa felicidade, mesclai tudo, confundi tudo! Sede como um floco de neve bamboleando pelo vento ou como uma flor destruída pelas ondas. Resisti quando não devais fazê-lo e sede covardes quando tenha que resistir. Quem sabe? Talvez ganheis com isso... E, de toda forma, que importa se, pelo contrário, perdeis? Há realmente algo que ganhar ou que perder neste mundo? Todo ganho é uma perda e toda perda um ganho. Por que esperar sempre uma atitude clara, idéias precisas e palavras sensatas? Sinto que deveria cuspir fogo à guisa de resposta a todas as perguntas que me tenham sido feitas ou que não me tenham sido.

(Que mais dá!, Emil Cioran)

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