terça-feira, 18 de agosto de 2009

HCn - Primeira Dose.

Pergunta - E vai sempre aos cemitérios?

Cioran - Não só aos cemitérios. Eu tenho, é verdade, um fraco por cemitérios; mas hoje em dia os cemitérios não são mais bonitos, estão sobrecarregados. Quando vejo amigos, mas também desconhecidos passarem por momentos de abatimento, de desespero, só tenho um conselho a dar: Passe 20 minutos num cemitério, vai ver que a sua tristeza não vai desaparecer, mas vai ser quase superada.

Outro dia, encontrei uma moça que eu conheço, desesperada por causa de um problema amoroso, e lhe disse: Você não está muito longe de Montparnasse, vá lá, passe por ali meia hora, vai ver que a sua tristeza lhe parecer tolerável.

É muito melhor do que ir no médico. Um passeio no cemitério é uma lição de sabedoria quase automática. Eu mesmo sempre pratiquei esse tipo de método; não parece muito sério, mas é relativamente eficaz. O que é que você vai dizer a alguém que está num desespero profundo? Nada ou mais ou menos nada. A única maneira de suportar realmente esse tipo de vazio é ter consciência do nada. Sem isso, a vida não é suportável.

Se você tem consciência do nada, tudo o que lhe acontece é de proporção normal e não assume as proporções dementes que caracterizam o exagero do desespero.

Pergunta - E uma espécie de solução catártica que o sr. está recomendando?

Cioran - Certamente. Precisamos ver o que somos. Eu conheci, por exemplo, muitos jovens escritores que queriam se suicidar por não ter sucesso, o que eu compreendo, a rigor. Mas é muito difícil acalmar alguém que chegou nesse ponto. O que é terrível na vida é o fracasso, e isso acontece com todo mundo...

Pergunta - Mas se tira alguma coisa do fracasso? Quando se sobrevive...

Cioran - É uma lição extraordinária; mas tem muita gente que não a suporta, e isso em todos os níveis, empregados e gente importante. No fim das contas, a experiência da vida é o fracasso.

São principalmente os ambiciosos, os que fazem um plano de vida que ficam tocados, os que pensam no futuro. É por isso que eu mando as pessoas para o cemitério. É a única maneira de minimizar uma situação trágica.

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