sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ciorando (6).

Não sei o que está bem nem o que está mal; o que está permitido e o que não está; não posso elogiar nem condenar nada. Neste mundo, é impossível ter um critério; é impossível ter critérios coerentes. Surpreende-me que tenha gente que se preocupe, todavia, da teoria do conhecimento. Para ser sincero, devo confessar que me importa muito pouco a relatividade de nosso saber, posto que este mundo não merece ser conhecido. Algumas vezes tenho a impressão de que existe um saber integral que esgota todo conteúdo do mundo, outras não compreendo absolutamente nada do que sucede ao meu redor. Sinto uma espécie de gosto acre, uma amargura diabólica e bestial que fazem inclusive que o problema da morte me pareça insosso. Dou-me conta, pela primeira vez, do quão difícil é definir essa amargura; possivelmente também porque perco tempo buscando-lhe as origens de ordem teórica quando a realidade procede de uma região eminentemente pré-teórica.

Neste momento não creio em absolutamente nada e não tenho a mínima esperança. Tudo o que nos atrai e seduz na vida me parece vazio de sentido. Não possuo nem o sentimento do passado nem do futuro; o presente me parece um veneno. Não sei se estou desesperado, pois a ausência de toda a esperança não equivale obrigatoriamente ao desespero. Nenhum qualificativo poderia afetar-me, pois não tenho mais nada a perder. E pensar que perdi tudo no momento em que ao meu redor tudo desperta à vida... Quão longe me acho de tudo!

(Não Sei, Emil Cioran)

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