Hoje era o dia D. D de deadline, é claro. Não havia como fugir. Na verdade, não havia o que fazer. Não tinha plano B. Nem plano A.
Às 8 horas da manhã o despertador tocou. Em tese eu deveria cumprir com meu bom e velho ritual de levantar, tomar meu banho, fazer a minha higiene pessoal, pegar o ônibus e zarpar para a faculdade a fim de assistir mais uma aulinha do meu curso. Eu disse em tese. Essa não era uma quinta-feira qualquer. Se fosse, a preguiça não teria me vencido. Será?
Saí da cama por volta do meio-dia. Vocês sabem como é o jornalismo: cada hora a mais é uma hora a menos. Considerando que em condições normais o horário comercial termina às 18 horas, as quatro horas que ganhei de sono foram quatro horas que perdi para conseguir que alguma fonte me fornecesse uma entrevista. Logo, a essa altura eu tinha apenas seis horinhas de sobrevida antes da forca. E como eu já lhes disse, não tinha plano B. Meu plano A, tão bonito e cuidadoso já tinha ido para o espaço. Ou não?
Não, não tinha.
Segundo-tempo. Na prorrogação, já nos segundos finais do jogo foi que eu consegui a minha tão sonhada entrevista sobre a implementação do Segundo-Tempo no Centro Pedagógico (CP) da UFMG. Com um nome de projeto desses a minha entrevista só podia sair mesmo em condições bem emocionantes. Mas como não disse o maquiavélico Maquiavel, o que importam são os fins, não os meios. Um e-mail inesperado e milagroso chegou bem cedinho, precisamente ás 7:24h à minha caixa de entrada retornando um pedido de entrevista que eu havia feito dias antes. Na hora eu pensei: hoje é o meu dia! Pensem comigo: quando eu relatei minha rotina pré-faculdade em nenhum momento eu mencionei que uma das atividades que a compunham era a de ‘olhar o meu e-mail’. Ou seja: se eu tivesse ido para a faculdade pela manhã, teria freqüentado a minha aula, almoçado, resolvido um compromisso eventual e voltado para minha casa – enforcado sem a minha matéria, provavelmente. E provavelmente eu mesmo me enforcaria quando aqui chegasse e lesse na minha caixa de entrada que, enquanto eu estava lá na faculdade, meu entrevistado estaria potencialmente à minha espera a poucos metros de mim. Mas não. Eu lembro de ter dito que esta quinta-feira não era uma quinta-feira qualquer! Era o meu dia, oras! Era mesmo?
Sim! Ou pelo menos tudo indicava que sim! Logo que saí de casa, por volta das 13:20h, o meu ônibus apareceu no ponto. Se a gente pensar na ‘murphologia’ se lembrará que a velocidade com a qual aparecem os nossos ônibus quando a gente deseja é inversamente proporcional à nossa pressa. Mas hoje o mundo estava a meu favor. Parecia até que todo mundo estava abrindo espaço para que eu passasse livremente! Não à toa o ônibus voou baixo e eu, flutuando ao som do meu radinho, cheguei rapidamente e radiante à faculdade. Meu entrevistado estaria no CP a partir das 14 horas, horário este em que pisei na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UFMG onde antes eu teria que conseguir uma autorização do Colegiado do meu curso para a realização de outra matéria jornalística. Coisa boba, coisa rápida. Só durou... uma hora de espera! Tudo bem: era o meu dia! Certo?
Bem, apesar da minha dor de cabeça, que havia começado há pouco, tudo ainda indicava que sim! No caminho entre os prédios, inclusive, surgiram algumas interessantes sugestões de perguntas a serem feitas para o Ricardo, meu entrevistado, coordenador do projeto Segundo-Tempo no CP. Assim que cheguei ao local, corri até uma mesinha para anotar minhas perguntas antes que eu as esquecesse e fui até a secretaria saber onde eu poderia encontrá-lo.
- Olá boa tarde! Você sabe onde eu posso encontrar o professor Ricardo?
- Ricardo Augusto?
- O Ricardo que coordena o projeto Segundo-Tempo.
- Ele mesmo! O gabinete dele fica no piso térreo. É a última sala do bloco de lá.
- Obrigado!
Era o dia do caçador!
Segui as instruções da moça da secretaria e com facilidade cheguei até o lugar indicado. Um cartaz do projeto afixado na porta não me deixou nenhuma dúvida. Foi quando eu bati na porta e não ouvi retorno. Tentei abrir e ela estava trancada. Não: era dia da caça! Nãããããããããooooooooooo. Pedi informações em uma sala ao lado para me certificar se era realmente ali que o professor Ricardo costumava se encontrar. O rapaz foi solicito, saiu da sua sala e disse:
- Ta vendo aquele bebedouro ali? Você entra à direita e encontra a sala dele.
Por um momento cheguei até a acreditar que havia um corredor que desembocava em outra sala, pela descrição que eu havia escutado há pouco. Mas não. O lugar era exatamente o mesmo onde eu havia estado anteriormente. Nãããããããããooooooooooo(2).
Não me lembro porque motivo, resolvi voltar e fiquei nas proximidades da entrada do CP. Foi quando eu percebi um rapaz com uma camisa da seleção brasileira se deslocando na direção do tal gabinete. Vocês sabem bem como são os filmes: precisam de criar aquela tensão antes de desembocar no happy-ending. O protagonista tem que tomar um sustinho antes de conseguir o que deseja. E, convenhamos, eu parecia ser o grande protagonista! Tive até uma daquelas cenas clássicas de intuição! Ou vocês já se esqueceram que eu disse: Não me lembro porque motivo, resolvi voltar e fiquei nas proximidades da entrada do CP! Intuição, oras! U-hu! Ai, no meu momento ‘Indiana Jones’, fui correndo até a minha última cruzada: o rapaz havia aberto a sala! Um slow motion com certeza iria deixar a cena emocionante! E quando finalmente retorno ao cenário, na última cena, aquela que vai explicar tudo, vejo o rapaz de costas. Ele vira e eu pergunto:
- Você é o Ricardo, não é?
Põe a trilha de suspense ai!
Um, dois, três segundos de silêncio infernal...
Claro que não teve isso, afinal, a vida real não é um filme. Eu acho.
- Não.
(Nãããããããããooooooooooo(3)).
E ele continuou.
- Ele acabou de ir embora.
Eu retruquei:
- E não volta hoje?
O rapaz disse:
- Não.
E como um punhal, sentenciou a ironia da situação:
- Tá vendo aquele carro saindo ali? É o dele.
Só me restou olhar o carro, já na rua, se deslocando lentamente – talvez não tão lentamente assim, mas um slow motion com certeza enfatizaria todo o drama da situação.
Não havia mais o que fazer a não ser dizer um bye bye, para dentro. Mais um filme da vida real sem final feliz. Diga-se de passagem, um anti-filme: vai dando tudo certo até chegar no final e dar tudo errado. Mas será que seria tão errado assim?
Plano A, melou.
Plano B eu não tinha.
Foi quando percebi o plano C, o presente da situação: fazer do drama final a própria comédia.
Às 8 horas da manhã o despertador tocou. Em tese eu deveria cumprir com meu bom e velho ritual de levantar, tomar meu banho, fazer a minha higiene pessoal, pegar o ônibus e zarpar para a faculdade a fim de assistir mais uma aulinha do meu curso. Eu disse em tese. Essa não era uma quinta-feira qualquer. Se fosse, a preguiça não teria me vencido. Será?
Saí da cama por volta do meio-dia. Vocês sabem como é o jornalismo: cada hora a mais é uma hora a menos. Considerando que em condições normais o horário comercial termina às 18 horas, as quatro horas que ganhei de sono foram quatro horas que perdi para conseguir que alguma fonte me fornecesse uma entrevista. Logo, a essa altura eu tinha apenas seis horinhas de sobrevida antes da forca. E como eu já lhes disse, não tinha plano B. Meu plano A, tão bonito e cuidadoso já tinha ido para o espaço. Ou não?
Não, não tinha.
Segundo-tempo. Na prorrogação, já nos segundos finais do jogo foi que eu consegui a minha tão sonhada entrevista sobre a implementação do Segundo-Tempo no Centro Pedagógico (CP) da UFMG. Com um nome de projeto desses a minha entrevista só podia sair mesmo em condições bem emocionantes. Mas como não disse o maquiavélico Maquiavel, o que importam são os fins, não os meios. Um e-mail inesperado e milagroso chegou bem cedinho, precisamente ás 7:24h à minha caixa de entrada retornando um pedido de entrevista que eu havia feito dias antes. Na hora eu pensei: hoje é o meu dia! Pensem comigo: quando eu relatei minha rotina pré-faculdade em nenhum momento eu mencionei que uma das atividades que a compunham era a de ‘olhar o meu e-mail’. Ou seja: se eu tivesse ido para a faculdade pela manhã, teria freqüentado a minha aula, almoçado, resolvido um compromisso eventual e voltado para minha casa – enforcado sem a minha matéria, provavelmente. E provavelmente eu mesmo me enforcaria quando aqui chegasse e lesse na minha caixa de entrada que, enquanto eu estava lá na faculdade, meu entrevistado estaria potencialmente à minha espera a poucos metros de mim. Mas não. Eu lembro de ter dito que esta quinta-feira não era uma quinta-feira qualquer! Era o meu dia, oras! Era mesmo?
Sim! Ou pelo menos tudo indicava que sim! Logo que saí de casa, por volta das 13:20h, o meu ônibus apareceu no ponto. Se a gente pensar na ‘murphologia’ se lembrará que a velocidade com a qual aparecem os nossos ônibus quando a gente deseja é inversamente proporcional à nossa pressa. Mas hoje o mundo estava a meu favor. Parecia até que todo mundo estava abrindo espaço para que eu passasse livremente! Não à toa o ônibus voou baixo e eu, flutuando ao som do meu radinho, cheguei rapidamente e radiante à faculdade. Meu entrevistado estaria no CP a partir das 14 horas, horário este em que pisei na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UFMG onde antes eu teria que conseguir uma autorização do Colegiado do meu curso para a realização de outra matéria jornalística. Coisa boba, coisa rápida. Só durou... uma hora de espera! Tudo bem: era o meu dia! Certo?
Bem, apesar da minha dor de cabeça, que havia começado há pouco, tudo ainda indicava que sim! No caminho entre os prédios, inclusive, surgiram algumas interessantes sugestões de perguntas a serem feitas para o Ricardo, meu entrevistado, coordenador do projeto Segundo-Tempo no CP. Assim que cheguei ao local, corri até uma mesinha para anotar minhas perguntas antes que eu as esquecesse e fui até a secretaria saber onde eu poderia encontrá-lo.
- Olá boa tarde! Você sabe onde eu posso encontrar o professor Ricardo?
- Ricardo Augusto?
- O Ricardo que coordena o projeto Segundo-Tempo.
- Ele mesmo! O gabinete dele fica no piso térreo. É a última sala do bloco de lá.
- Obrigado!
Era o dia do caçador!
Segui as instruções da moça da secretaria e com facilidade cheguei até o lugar indicado. Um cartaz do projeto afixado na porta não me deixou nenhuma dúvida. Foi quando eu bati na porta e não ouvi retorno. Tentei abrir e ela estava trancada. Não: era dia da caça! Nãããããããããooooooooooo. Pedi informações em uma sala ao lado para me certificar se era realmente ali que o professor Ricardo costumava se encontrar. O rapaz foi solicito, saiu da sua sala e disse:
- Ta vendo aquele bebedouro ali? Você entra à direita e encontra a sala dele.
Por um momento cheguei até a acreditar que havia um corredor que desembocava em outra sala, pela descrição que eu havia escutado há pouco. Mas não. O lugar era exatamente o mesmo onde eu havia estado anteriormente. Nãããããããããooooooooooo(2).
Não me lembro porque motivo, resolvi voltar e fiquei nas proximidades da entrada do CP. Foi quando eu percebi um rapaz com uma camisa da seleção brasileira se deslocando na direção do tal gabinete. Vocês sabem bem como são os filmes: precisam de criar aquela tensão antes de desembocar no happy-ending. O protagonista tem que tomar um sustinho antes de conseguir o que deseja. E, convenhamos, eu parecia ser o grande protagonista! Tive até uma daquelas cenas clássicas de intuição! Ou vocês já se esqueceram que eu disse: Não me lembro porque motivo, resolvi voltar e fiquei nas proximidades da entrada do CP! Intuição, oras! U-hu! Ai, no meu momento ‘Indiana Jones’, fui correndo até a minha última cruzada: o rapaz havia aberto a sala! Um slow motion com certeza iria deixar a cena emocionante! E quando finalmente retorno ao cenário, na última cena, aquela que vai explicar tudo, vejo o rapaz de costas. Ele vira e eu pergunto:
- Você é o Ricardo, não é?
Põe a trilha de suspense ai!
Um, dois, três segundos de silêncio infernal...
Claro que não teve isso, afinal, a vida real não é um filme. Eu acho.
- Não.
(Nãããããããããooooooooooo(3)).
E ele continuou.
- Ele acabou de ir embora.
Eu retruquei:
- E não volta hoje?
O rapaz disse:
- Não.
E como um punhal, sentenciou a ironia da situação:
- Tá vendo aquele carro saindo ali? É o dele.
Só me restou olhar o carro, já na rua, se deslocando lentamente – talvez não tão lentamente assim, mas um slow motion com certeza enfatizaria todo o drama da situação.
Não havia mais o que fazer a não ser dizer um bye bye, para dentro. Mais um filme da vida real sem final feliz. Diga-se de passagem, um anti-filme: vai dando tudo certo até chegar no final e dar tudo errado. Mas será que seria tão errado assim?
Plano A, melou.
Plano B eu não tinha.
Foi quando percebi o plano C, o presente da situação: fazer do drama final a própria comédia.
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