Quando termino de ler um texto que acabei de escrever, ele sempre me parece insuficiente, incompleto, vazio ou simplesmente bobo. Foi exatamente essa a impressão quando recentemente topei continuar com uma brincadeira um tanto quanto séria. Para ser franco adoro diálogos imaginários, até porque estou completamente envolvido por vários deles em meu cotidiano. No entanto, ontem quando reli um desses diálogos fiquei extremamente intrigado com um certo caráter ‘premonitório’ do mesmo. Claro que isso não passa de uma coincidência, mas ainda assim uma coincidência interessante. Sem querer a conversa fictícia acabou ganhando contornos reais em uma noite que se desenhou, de início, de uma forma atípica. Muito a ser dito, mas pouca coragem para se dizer. Foi quando não agüentei e atravessei a linha. Disse o que havia apenas falado pouco antes. E de repente, ao atravessar a linha consegui ouvir o que você tinha a me dizer e entendi o que até então você tinha apenas me falado. Um movimento tanto quanto simétrico, bem que se diga.
Notinha de rodapé.
Eu falei.
Você falou.
Eu não disse.
Nem você.
Silêncio - havia algo no ar.
Eu queria dizer
Mas não sabia como.
Você queria dizer
Mas não sabia como.
Não agüentei: eu disse.
Você não agüentou: também disse.
Fui dormir levando comigo, como de costume, suas palavras. É incrível como eu não consigo deixar de pensar no que você me diz. Acho que esse efeito mede a sua importância em minha vida: saber que tudo o que você me comunica é precioso, tem alguma urgência, por mais que em muitos casos eu tente cavoucar algum sentido escondido, implícito – que às vezes existe, mas às vezes não passa de mera suposição. Fiquei matutando um pouco e acabei por me lembrar de um texto que eu havia escrito há um tempinho que, de alguma maneira, tem muito a ver com a minha idéia de amor. Porque amor não é apenas amor, como algumas pessoas costumam supor: está bem além disso. O amor verdadeiro não é apenas doce, suave, com gostinho de chocolate. Talvez seja agridoce mas, muitas vezes é amargo. E machuca. E fere. E dói. E dilacera. Parece até que o amor veste a roupinha de não-amor só para provocar. Não a toa existe aquele clichê da rima amor e dor. Ok, é uma idéia completamente pobre para qualquer poeta. Só que na verdade o amor é uma dualidade por definição. Ele atravessa fronteiras, vai e volta, expande e retrai, engana e fala a verdade, brinca e bate. E as vezes essa dualidade soa incompreensível aos que teimam a acreditar no amor: ‘podia ser mais fácil’, dizem muitos dos idealistas. Não, meus filhos, não poderia ser mais fácil porque se não fosse assim, simplesmente não seria amor. E a dor nem sempre é voluntária: muitas vezes a gente machuca quem ama sem saber, achando que está protegendo, querendo o melhor. E mesmo assim machuca, fere e corta. Às vezes destrói justo porque quer tanto. Vai enteder... Mas não é para entender, porque amor quer o bem e quer o mal – ao mesmo tempo. Eu quero entender a mecânica de uma coisa que simplesmente não foi feita para ser entendida, justo porque, apesar de criada não tem o menor sentido: a vida – e, por extensão, o amor. Penso, penso, penso, suponho e não chego a lugar nenhum. Tautologia, andar em círculos. O mais irônico é que a dor que a gente provoca nos outros que a gente ama, mesmo que sem querer, acaba se voltando contra nós mesmos. Mais uma das traquinagens do amor. A flecha vai, acerta, e volta; quase um bumerangue. Só que essa dor que nos machuca, que nos angustia paradoxalmente é aquilo que a gente acaba procurando para se sentir vivo. Masoquismo? Isso mesmo. A gente reclama, mas não consegue viver sem a dor, sem a busca pelo vazio. Parece ilógico e a verdade é que tudo na vida de fato é ilógico. Pense numa vida livre de toda dor possível; melhor ainda: pense em quantas vezes você foge da dor apenas para sentir uma dor a que você já está acostumado – e para, ainda por cima, poder reclamar que está doendo. Sim, é loucura, mas acontece. E foi dentro desse contexto que você me disse que eu te machuquei. E maior do que a dor física é a dor simbólica. E foi justamente usando as palavras como porrete que acabei por te ferir – sem me dar conta. Advogado do diabo. E no fim das contas, apesar de tentar ser neutro, eu sei que acabo julgando, ainda que de maneira discreta, afinal, toda seleção aponta para um lugar. Acabo amando de uma forma tão intransigente quanto eu achava que não era. O amor é sempre parcial – mesmo quando se propõe altruísta. Não, não existe altruísmo – por mais que exista. Vai entender o que não foi feito para ser entendido...
Notinha de rodapé.
Eu falei.
Você falou.
Eu não disse.
Nem você.
Silêncio - havia algo no ar.
Eu queria dizer
Mas não sabia como.
Você queria dizer
Mas não sabia como.
Não agüentei: eu disse.
Você não agüentou: também disse.
Fui dormir levando comigo, como de costume, suas palavras. É incrível como eu não consigo deixar de pensar no que você me diz. Acho que esse efeito mede a sua importância em minha vida: saber que tudo o que você me comunica é precioso, tem alguma urgência, por mais que em muitos casos eu tente cavoucar algum sentido escondido, implícito – que às vezes existe, mas às vezes não passa de mera suposição. Fiquei matutando um pouco e acabei por me lembrar de um texto que eu havia escrito há um tempinho que, de alguma maneira, tem muito a ver com a minha idéia de amor. Porque amor não é apenas amor, como algumas pessoas costumam supor: está bem além disso. O amor verdadeiro não é apenas doce, suave, com gostinho de chocolate. Talvez seja agridoce mas, muitas vezes é amargo. E machuca. E fere. E dói. E dilacera. Parece até que o amor veste a roupinha de não-amor só para provocar. Não a toa existe aquele clichê da rima amor e dor. Ok, é uma idéia completamente pobre para qualquer poeta. Só que na verdade o amor é uma dualidade por definição. Ele atravessa fronteiras, vai e volta, expande e retrai, engana e fala a verdade, brinca e bate. E as vezes essa dualidade soa incompreensível aos que teimam a acreditar no amor: ‘podia ser mais fácil’, dizem muitos dos idealistas. Não, meus filhos, não poderia ser mais fácil porque se não fosse assim, simplesmente não seria amor. E a dor nem sempre é voluntária: muitas vezes a gente machuca quem ama sem saber, achando que está protegendo, querendo o melhor. E mesmo assim machuca, fere e corta. Às vezes destrói justo porque quer tanto. Vai enteder... Mas não é para entender, porque amor quer o bem e quer o mal – ao mesmo tempo. Eu quero entender a mecânica de uma coisa que simplesmente não foi feita para ser entendida, justo porque, apesar de criada não tem o menor sentido: a vida – e, por extensão, o amor. Penso, penso, penso, suponho e não chego a lugar nenhum. Tautologia, andar em círculos. O mais irônico é que a dor que a gente provoca nos outros que a gente ama, mesmo que sem querer, acaba se voltando contra nós mesmos. Mais uma das traquinagens do amor. A flecha vai, acerta, e volta; quase um bumerangue. Só que essa dor que nos machuca, que nos angustia paradoxalmente é aquilo que a gente acaba procurando para se sentir vivo. Masoquismo? Isso mesmo. A gente reclama, mas não consegue viver sem a dor, sem a busca pelo vazio. Parece ilógico e a verdade é que tudo na vida de fato é ilógico. Pense numa vida livre de toda dor possível; melhor ainda: pense em quantas vezes você foge da dor apenas para sentir uma dor a que você já está acostumado – e para, ainda por cima, poder reclamar que está doendo. Sim, é loucura, mas acontece. E foi dentro desse contexto que você me disse que eu te machuquei. E maior do que a dor física é a dor simbólica. E foi justamente usando as palavras como porrete que acabei por te ferir – sem me dar conta. Advogado do diabo. E no fim das contas, apesar de tentar ser neutro, eu sei que acabo julgando, ainda que de maneira discreta, afinal, toda seleção aponta para um lugar. Acabo amando de uma forma tão intransigente quanto eu achava que não era. O amor é sempre parcial – mesmo quando se propõe altruísta. Não, não existe altruísmo – por mais que exista. Vai entender o que não foi feito para ser entendido...
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