6) Antics, Interpol (2004)
Invariavelmente um resenhista que se preze - pfffff... - em algum dos seus escritos certamente vai evocar o famoso teste do segundo disco. Trata-se de um tema tão batido quanto lembrar que as correntes musicais dominantes de uma década possuem uma relação direta com suas duas antecessoras: negando a mais próxima e afirmando a mais distante. Uma simples questão de saturação, evidentemente, assim como é também evidente que o teste do segundo disco tem relevância por ser o chamado álbum de afirmação. Explica-se: geralmente quando se vai gravar um primeiro cd, as músicas escolhidas tiveram um tempo de maturação muito maior ao serem executadas diversas vezes em shows, cuja recepção pelo público acaba sendo um interessante termômetro. Já no segundo cd, mesmo recuperando uma ou outra faixa mais garantida que ficou de fora do debut, tende-se a ser registrada uma nova gama de composições que surgiram em um contexto bem diferente das primeiras e tiveram menos tempo para testes e arranjos. Ou seja: o resultado é sempre uma incógnita. Ainda mais quando a banda em questão era o Interpol, que havia lançado um dos discos mais comentados e elogiados de 2002, o belíssimo Turn On The Bright Lights. Em tempos de internet, um erro poderia ser fatal: significaria o ostracismo. E foi – mas não merecia.
A primeira vez que ouvi Antics foi aquela decepção tremenda. Não parecia o Interpol puro sangue do primeiro disco – e no início é sempre tentador querermos nos apoiar no jogo que já está ganho. Não tinha nenhuma faixa do nível de uma Obstacle 1 e 2, de uma Stella Was A Diver And She Always Down ou de uma Say Hello To The Angels – não falo de Leif Erikson ou The New porque na época eu achava essa duas músicas os grandes erros do disco; errado estava eu. Pra não dizer que nada se salvava em Antics aquela audição apressada mostrava apenas duas boas faixas: a segunda, chamada Evil e Take You On A Cruise, a de número 4. O resto era resto. Nada que fosse realmente sensacional, vale dizer. Boas faixas apenas, como já disse. Tinha alguma coisa realmente estranha naquele novo do Interpol.
Pra variar, não havia absolutamente nada de errado com o disco em si, mas comigo: não estávamos equalizados na mesma freqüência, para citar a ‘grandessíssima’ Pitty. Obviamente entre aspas esse grandessíssima. E bota aspas nisso. Mas voltando ao que importa, só relembrei do Interpol em 2005 durante algumas conversas com o Alan. Ele, recordo-me bem, também havia manifestado similar desgosto pelo Antics ou ao menos certa indiferença diante de Turn On The Bright Lights. Foi quando então eu resolvi dar uma segunda chance para o CD. E percebi que além da Evil e da Take You On a Cruse havia também outra música muito boa – como vocês podem perceber, de boas as músicas já eram consideradas muito boas nesse momento e estavam já em vias de. – chamada NARC. Como eu não prestei atenção nisso? Oras, simples: da mesma maneira que não havia notado o vigor pop e apaixonado de C’mere e Slow Hands. Ok: a porta já estava arrombada. Da noite pro dia – na verdade, de algumas noites para alguns dias, Antics já era superior a Turn On The Bright Lights. Isso porque eles tinham dado um passo a mais em sua jornada: criaram singles sensacionais. Tirando a realmente equivocada Lenght Of Love – que para a minha imensa decepção eles escolheram para tocar justamente aqui em Belo Horizonte, sendo que tal música nunca havia feito parte de nenhum set list da turnê até então - qualquer das outras nove canções do CD poderia tranquilamente tocar na rádio e não faria feio. E isso inclui mesmo faixas mais arrastadas como a lindíssima Next Exit, que abre o CD – o Interpol ao contrário de 99% das bandas costuma iniciar seus petardos com canções lentas e minimalistas - ou a derradeira – e verdadeiramente joydivisioniana - A Time To Be Small.
A essa altura eu já sabia que o baixo da Evil era apenas e tão somente antológico, hiptnótico, sendo a mesma facilmente uma das músicas mais importantes da década. Eu sabia também que Take On a Cruise era uma das baladas definitivas do Interpol – assim como já sabia do estrago que canções como Leif Erikson e The New, do disco anterior, poderiam fazer. E já tinha descoberto também o grande segredo existente por trás das canções do Interpol: as paradinhas. Por mais que seja uma fórmula pronta, talvez nenhuma outra banda saiba usar desse artifício tão bem quanto os nova-iorquinos. Mas havia mais um trunfo, este não utilizado com a mesma freqüência do recurso anterior, mas que dá um imenso charme quando entra em ação: o vocal vociferado. Basta prestar atenção em faixas maravilhosas como na primeira parte de Not Even Jail, quando o eu-lírico diz em tom suplicante Oh, I'll say it now/ Cuz I want it now, antes do refrão explodir. Ou então na subestimada Public Pervert, quando o eu-lírico perde a voz ao falar de seu abandono. Em Public Pervert vale fazer uma menção para a virada de bateria abre seu refrão. Apenas ouça.
Se Antics não caiu nas graças da critica - que não soube reconhecer que nem toda música boa precisa necessariamente ser demasiadamente experimental e que o rock quando encontra o pop pode também resultar em uma mistura explosiva - pouco importa: errados estavam os críticos, não o Interpol.
Invariavelmente um resenhista que se preze - pfffff... - em algum dos seus escritos certamente vai evocar o famoso teste do segundo disco. Trata-se de um tema tão batido quanto lembrar que as correntes musicais dominantes de uma década possuem uma relação direta com suas duas antecessoras: negando a mais próxima e afirmando a mais distante. Uma simples questão de saturação, evidentemente, assim como é também evidente que o teste do segundo disco tem relevância por ser o chamado álbum de afirmação. Explica-se: geralmente quando se vai gravar um primeiro cd, as músicas escolhidas tiveram um tempo de maturação muito maior ao serem executadas diversas vezes em shows, cuja recepção pelo público acaba sendo um interessante termômetro. Já no segundo cd, mesmo recuperando uma ou outra faixa mais garantida que ficou de fora do debut, tende-se a ser registrada uma nova gama de composições que surgiram em um contexto bem diferente das primeiras e tiveram menos tempo para testes e arranjos. Ou seja: o resultado é sempre uma incógnita. Ainda mais quando a banda em questão era o Interpol, que havia lançado um dos discos mais comentados e elogiados de 2002, o belíssimo Turn On The Bright Lights. Em tempos de internet, um erro poderia ser fatal: significaria o ostracismo. E foi – mas não merecia.
A primeira vez que ouvi Antics foi aquela decepção tremenda. Não parecia o Interpol puro sangue do primeiro disco – e no início é sempre tentador querermos nos apoiar no jogo que já está ganho. Não tinha nenhuma faixa do nível de uma Obstacle 1 e 2, de uma Stella Was A Diver And She Always Down ou de uma Say Hello To The Angels – não falo de Leif Erikson ou The New porque na época eu achava essa duas músicas os grandes erros do disco; errado estava eu. Pra não dizer que nada se salvava em Antics aquela audição apressada mostrava apenas duas boas faixas: a segunda, chamada Evil e Take You On A Cruise, a de número 4. O resto era resto. Nada que fosse realmente sensacional, vale dizer. Boas faixas apenas, como já disse. Tinha alguma coisa realmente estranha naquele novo do Interpol.
Pra variar, não havia absolutamente nada de errado com o disco em si, mas comigo: não estávamos equalizados na mesma freqüência, para citar a ‘grandessíssima’ Pitty. Obviamente entre aspas esse grandessíssima. E bota aspas nisso. Mas voltando ao que importa, só relembrei do Interpol em 2005 durante algumas conversas com o Alan. Ele, recordo-me bem, também havia manifestado similar desgosto pelo Antics ou ao menos certa indiferença diante de Turn On The Bright Lights. Foi quando então eu resolvi dar uma segunda chance para o CD. E percebi que além da Evil e da Take You On a Cruse havia também outra música muito boa – como vocês podem perceber, de boas as músicas já eram consideradas muito boas nesse momento e estavam já em vias de. – chamada NARC. Como eu não prestei atenção nisso? Oras, simples: da mesma maneira que não havia notado o vigor pop e apaixonado de C’mere e Slow Hands. Ok: a porta já estava arrombada. Da noite pro dia – na verdade, de algumas noites para alguns dias, Antics já era superior a Turn On The Bright Lights. Isso porque eles tinham dado um passo a mais em sua jornada: criaram singles sensacionais. Tirando a realmente equivocada Lenght Of Love – que para a minha imensa decepção eles escolheram para tocar justamente aqui em Belo Horizonte, sendo que tal música nunca havia feito parte de nenhum set list da turnê até então - qualquer das outras nove canções do CD poderia tranquilamente tocar na rádio e não faria feio. E isso inclui mesmo faixas mais arrastadas como a lindíssima Next Exit, que abre o CD – o Interpol ao contrário de 99% das bandas costuma iniciar seus petardos com canções lentas e minimalistas - ou a derradeira – e verdadeiramente joydivisioniana - A Time To Be Small.
A essa altura eu já sabia que o baixo da Evil era apenas e tão somente antológico, hiptnótico, sendo a mesma facilmente uma das músicas mais importantes da década. Eu sabia também que Take On a Cruise era uma das baladas definitivas do Interpol – assim como já sabia do estrago que canções como Leif Erikson e The New, do disco anterior, poderiam fazer. E já tinha descoberto também o grande segredo existente por trás das canções do Interpol: as paradinhas. Por mais que seja uma fórmula pronta, talvez nenhuma outra banda saiba usar desse artifício tão bem quanto os nova-iorquinos. Mas havia mais um trunfo, este não utilizado com a mesma freqüência do recurso anterior, mas que dá um imenso charme quando entra em ação: o vocal vociferado. Basta prestar atenção em faixas maravilhosas como na primeira parte de Not Even Jail, quando o eu-lírico diz em tom suplicante Oh, I'll say it now/ Cuz I want it now, antes do refrão explodir. Ou então na subestimada Public Pervert, quando o eu-lírico perde a voz ao falar de seu abandono. Em Public Pervert vale fazer uma menção para a virada de bateria abre seu refrão. Apenas ouça.
Se Antics não caiu nas graças da critica - que não soube reconhecer que nem toda música boa precisa necessariamente ser demasiadamente experimental e que o rock quando encontra o pop pode também resultar em uma mistura explosiva - pouco importa: errados estavam os críticos, não o Interpol.
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