8) Let’s Bottle Bohemia, The Thrills (2004)
Sem sombra de dúvidas o disco mais subestimado dentre os dez que compõem esta lista. Mais do que isso: inexplicavelmente subestimado. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Primeiramente porque é quase uma unanimidade por parte da crítica – sempre a crítica! - eleger o segundo disco do Thrills como o PIOR dos três lançamentos da banda. Basta ver, por exemplo, as notas que sites ‘consagrados’ como o Allmusic e o Pitchfork dão para os CDs da banda:
Allmusic – Max: 5 Estrelas
So Much For The City – 4 Estrelas
Let’s Bottle Bohemia – 3,5 Estrelas
Teenager – 4,5 Estrelas
Pitchfork – Max: Nota 10
So Much For The City – 6,9
Let’s Bottle Bohemia – 6,0
Teenager – 6,9
Não que os outros álbuns sejam ruins – muito pelo contrário! -, mas o ponto é que Let’s Bottle Bohemia é simplesmente im-pe-cá-vel. Em segundo lugar, porque não dá pra entender como este disco não foi capaz de alçar a banda rumo ao estrelato e SEQUER conseguiu angariar um número considerável de novos fãs da banda. Trocando em miúdos, ainda hoje pouquíssimas pessoas sabem quem são esses irlandeses - o que é algo quase que imperdoável quando bandas como MGMT, Keane ou mesmo o Coldplay se tornam verdadeiros fenômenos mundiais. Mas, afinal de contas, qual o erro do Thrills? Por mais paradoxal que possa parecer, a resposta mais apropriada a esta questão é ter investido muito no pop perfeito. Não há outro rótulo que defina melhor a banda em geral e Let’s Bottle Bohemia em particular. Tirando a capinha que é medonha, o disco contém 11 músicas – sendo uma delas ‘escondida’, ou melhor dizendo, não declarada no encarte - irrepreensíveis. Sim, irrepreensíveis. Numa opção corajosa o Thrills – o que explica em grande parte o seu fracasso diante da crítica - abandonou a sua veia country/folk, gêneros que estavam na crista da onda quando So Much For The City aclamado em 2003, e investiu todas as suas fichas em um pop grandioso, repleto não raramente de orquestrações ousadas e arranjos mais elaborados. O que tinha tudo para dar certo jogou a banda para bem longe dos holofotes. Talvez porque em 2004 eles já não mais fizessem o tipo de música do momento – como se o critério musicalidade do momento fosse um termômetro suficientemente seguro para se julgar a qualidade de um disco. En-fim. Ao que parece o fracasso inexplicável de Let’s Bottle Bohemia deve ter incomodado tanto os integrantes do Thrills que Teenager em vez de ser um próximo passo na grandiosa trajetória da banda, acabou sendo um encontro com as origens – belo pleonasmo para retrocesso. Se em termos de popularização - pelo menos aqui no Brasil - a estratégia não funcionou, como vocês puderam notar pelo menos a crítica voltou a ser mais condescendente. Teenager remete tanto a So Much For The City, que, que até a estrutura da capa é similar: nome das faixas na parte da frente e uma fotografia – tudo bem: no caso de Teenager uma senhora fotografia que já coloca esta capa dentre as mais bonitas da década. Ou seja: até ousadia para fazer uma bela cagada eles perderam!
Sem mais delongas, vamos ao que interessa então. Conheci o Thrills assim que eles apareceram nos idos de 2003 através de duas músicas: Santa Cruz (You’re Not That Far) e Big Sur. Já ali estavam integrados todos os elementos do country-pop perfeito tão caros a banda. Mas algo me incomodava: uma aproximação muito grande com aqueles rapazes chatos – chatíssimos, para ser mais sincero - de Liverpool. Não dei muita bola – só depois da redescoberta do Thrills eu iria dar o devido valor à primeira bolacha da banda. Um belo dia – porque às vezes a vida também tem seus belos dias – eu estava zapeando e acabei parando em frente a MTV. Era uma madrugada qualquer em um programa que eu nunca tinha assistido, mas que se não estou muito enganado era feito a partir da escolha de clipes prediletos de cada DJ da casa. O que importa é que nesse programa cujo nome não me recordo nem a pau tava tocando um hino do pop. Para minha surpresa esse hino se chamava The Irish Keep Gate-Crashing do... Thrills?! Paixão à primeira audição – esse é o grande poder devastador que a música da banda causa e que quase nenhuma banda ao longo de uma sólida carreira consegue. Ok, Alan: você não se enquadra aqui, mesmo que em algum momento The Irish Keep Gate-Crashing tenha também te conquistado – mas não seus pais-criadores. Uma verdadeira pena. De qualquer modo eu ainda sou totalmente a favor da teoria de que não existe a menor possibilidade de não se encantar pela voz de marshmallow – como bem definiu a grande Mariana - do Conor Deasy, vocalista da banda. Detalhe: eu detesto vocais femininos em quase toda a sua totalidade, sendo que o do Conor talvez seja o único deles de que eu realmente gosto! Sim, Conor Deasy é um homem! Bem bonitão, bem que se diga! Mas à parte das considerações estéticas, voltemos ao que interessa de fato: a música. E Let’s Bottle Bohemia como eu já disse e reafirmo tem e de sobra! Depois da mãozinha da MTV – que às vezes tem lá o seu lado bonzinho também: foi num desses acasos que ouvi, a título de curiosidade, Beetlebum dos superestimados ingleses do Blur - baixei o álbum e não acreditei: como pode existir um disco desses? É delicioso! Dá vontade de morder. Muita! Comecemos pelo começo com a energia roqueirinha de Tell Me Something I Don’t Know, que abre o disco cheio de vocalizações maravilhosas e seu contagiante on and on and on... Sem falar no preciosismo dos pianinhos, pontualmente colocados para deixar o ouvinte maluco! Whatever Happened To Corey Haim?, música seguinte é um teste de fogo: será que você consegue não gemer os uhhhhhhhhhs que vem antes e depois do girl i said? Eu não consigo! Definitivamente. Isso sem falar dos violinos que conferem um ar grandioso à canção. Dá até pra voltar a acreditar no amor ao ouvir os anything for love da sensacional Faded Beauty Queens. Saturday Night, faixa 4, foi a última que me empolgou, mas quando fez sentido, me invadiu plenamente com sua melodia que mistura cinismo e nostalgia de maneira tão bacana. Eis que então surge ‘A’ balada do disco: Not For All The Love In The World. Redondinha, com açúcar na medida certa para comover e não enjoar. Imagina que perigo seria se algum produtor de novela da Globo ouvisse uma faixa como essa! Ok: eu acho que iria adorar de ouvir uma banda tão violenta quanto o Thrills aumentando o nível de qualidade musical das trilhas sonoras de novelas. De mais a mais, quem sabe assim eles não viriam finalmente ao Brasil? Prossigamos. Our Wasted Lives e o tom confessional de You Can't Fool Old Friends with Limousines com direito ao egoísmo assumido em I don’t love you, I just love myself de seu refrão, fazem bela passagem para a minha música predileta do petardo: Found My Rosebud. Ainda hoje depois de sucessivas audições a harpa que abre a canção me deixa perdidinho da Silva. Não só a harpa, mas os primeiros versos também: Now I don't mind if I hurt you/ And leave the guilt behind/ So here I go burning bridges/ Did i play my hand too soon? Como se essa franqueza libertadora já não bastasse, há ainda na canção um momento mágico expresso pela declaração há tanto escondida, agora jogada na cara – que coincide com uma fabulosa paradinha: It’s not like/ I said that I love you. The Curse of Comfort tem interpretação repleta de ternura, embora seja desesperançosa. Fica a cargo de The Irish Keep Gate-Crashing, talvez a obra prima da banda, ‘fechar’ o disco. E que ‘fecho’, viu? Não tem como não ficar sensibilizado com a ingenuidade do eu-lírico quando diz ao ser amado: se eu pudesse aprender a te amar, você também poderia aprender a me amar. E assim como na faixa que abre o cd, não há como resistir ao it goes on and on and on... derradeiro. City of Long Nights, faixa escondida que realmente fecha o disco em conjunto com uma versão instrumental de Irish Keep Gate-Crashing não acrescenta nem compromete o resultado final da bolachinha.
Embora esta lista seja de alguma maneira um convite implícito para audição destes maravilhosos discos, dessa vez faço questão de deixar um convite explicito para que vocês, meus leitores, procurem pelas músicas do Let’s Bottle Bohemia. E o falo tão diretamente assim pela razão única de que este talvez seja o único disco dentre todos desta seleção que vocês verdadeiramente irão gostar sem nenhuma restrição. Baixando o CD vocês estarão ajudando a desfazer essa enorme injustiça que é deixar o Thrills no terceiro escalão da música mundial!
Sem sombra de dúvidas o disco mais subestimado dentre os dez que compõem esta lista. Mais do que isso: inexplicavelmente subestimado. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Primeiramente porque é quase uma unanimidade por parte da crítica – sempre a crítica! - eleger o segundo disco do Thrills como o PIOR dos três lançamentos da banda. Basta ver, por exemplo, as notas que sites ‘consagrados’ como o Allmusic e o Pitchfork dão para os CDs da banda:
Allmusic – Max: 5 Estrelas
So Much For The City – 4 Estrelas
Let’s Bottle Bohemia – 3,5 Estrelas
Teenager – 4,5 Estrelas
Pitchfork – Max: Nota 10
So Much For The City – 6,9
Let’s Bottle Bohemia – 6,0
Teenager – 6,9
Não que os outros álbuns sejam ruins – muito pelo contrário! -, mas o ponto é que Let’s Bottle Bohemia é simplesmente im-pe-cá-vel. Em segundo lugar, porque não dá pra entender como este disco não foi capaz de alçar a banda rumo ao estrelato e SEQUER conseguiu angariar um número considerável de novos fãs da banda. Trocando em miúdos, ainda hoje pouquíssimas pessoas sabem quem são esses irlandeses - o que é algo quase que imperdoável quando bandas como MGMT, Keane ou mesmo o Coldplay se tornam verdadeiros fenômenos mundiais. Mas, afinal de contas, qual o erro do Thrills? Por mais paradoxal que possa parecer, a resposta mais apropriada a esta questão é ter investido muito no pop perfeito. Não há outro rótulo que defina melhor a banda em geral e Let’s Bottle Bohemia em particular. Tirando a capinha que é medonha, o disco contém 11 músicas – sendo uma delas ‘escondida’, ou melhor dizendo, não declarada no encarte - irrepreensíveis. Sim, irrepreensíveis. Numa opção corajosa o Thrills – o que explica em grande parte o seu fracasso diante da crítica - abandonou a sua veia country/folk, gêneros que estavam na crista da onda quando So Much For The City aclamado em 2003, e investiu todas as suas fichas em um pop grandioso, repleto não raramente de orquestrações ousadas e arranjos mais elaborados. O que tinha tudo para dar certo jogou a banda para bem longe dos holofotes. Talvez porque em 2004 eles já não mais fizessem o tipo de música do momento – como se o critério musicalidade do momento fosse um termômetro suficientemente seguro para se julgar a qualidade de um disco. En-fim. Ao que parece o fracasso inexplicável de Let’s Bottle Bohemia deve ter incomodado tanto os integrantes do Thrills que Teenager em vez de ser um próximo passo na grandiosa trajetória da banda, acabou sendo um encontro com as origens – belo pleonasmo para retrocesso. Se em termos de popularização - pelo menos aqui no Brasil - a estratégia não funcionou, como vocês puderam notar pelo menos a crítica voltou a ser mais condescendente. Teenager remete tanto a So Much For The City, que, que até a estrutura da capa é similar: nome das faixas na parte da frente e uma fotografia – tudo bem: no caso de Teenager uma senhora fotografia que já coloca esta capa dentre as mais bonitas da década. Ou seja: até ousadia para fazer uma bela cagada eles perderam!
Sem mais delongas, vamos ao que interessa então. Conheci o Thrills assim que eles apareceram nos idos de 2003 através de duas músicas: Santa Cruz (You’re Not That Far) e Big Sur. Já ali estavam integrados todos os elementos do country-pop perfeito tão caros a banda. Mas algo me incomodava: uma aproximação muito grande com aqueles rapazes chatos – chatíssimos, para ser mais sincero - de Liverpool. Não dei muita bola – só depois da redescoberta do Thrills eu iria dar o devido valor à primeira bolacha da banda. Um belo dia – porque às vezes a vida também tem seus belos dias – eu estava zapeando e acabei parando em frente a MTV. Era uma madrugada qualquer em um programa que eu nunca tinha assistido, mas que se não estou muito enganado era feito a partir da escolha de clipes prediletos de cada DJ da casa. O que importa é que nesse programa cujo nome não me recordo nem a pau tava tocando um hino do pop. Para minha surpresa esse hino se chamava The Irish Keep Gate-Crashing do... Thrills?! Paixão à primeira audição – esse é o grande poder devastador que a música da banda causa e que quase nenhuma banda ao longo de uma sólida carreira consegue. Ok, Alan: você não se enquadra aqui, mesmo que em algum momento The Irish Keep Gate-Crashing tenha também te conquistado – mas não seus pais-criadores. Uma verdadeira pena. De qualquer modo eu ainda sou totalmente a favor da teoria de que não existe a menor possibilidade de não se encantar pela voz de marshmallow – como bem definiu a grande Mariana - do Conor Deasy, vocalista da banda. Detalhe: eu detesto vocais femininos em quase toda a sua totalidade, sendo que o do Conor talvez seja o único deles de que eu realmente gosto! Sim, Conor Deasy é um homem! Bem bonitão, bem que se diga! Mas à parte das considerações estéticas, voltemos ao que interessa de fato: a música. E Let’s Bottle Bohemia como eu já disse e reafirmo tem e de sobra! Depois da mãozinha da MTV – que às vezes tem lá o seu lado bonzinho também: foi num desses acasos que ouvi, a título de curiosidade, Beetlebum dos superestimados ingleses do Blur - baixei o álbum e não acreditei: como pode existir um disco desses? É delicioso! Dá vontade de morder. Muita! Comecemos pelo começo com a energia roqueirinha de Tell Me Something I Don’t Know, que abre o disco cheio de vocalizações maravilhosas e seu contagiante on and on and on... Sem falar no preciosismo dos pianinhos, pontualmente colocados para deixar o ouvinte maluco! Whatever Happened To Corey Haim?, música seguinte é um teste de fogo: será que você consegue não gemer os uhhhhhhhhhs que vem antes e depois do girl i said? Eu não consigo! Definitivamente. Isso sem falar dos violinos que conferem um ar grandioso à canção. Dá até pra voltar a acreditar no amor ao ouvir os anything for love da sensacional Faded Beauty Queens. Saturday Night, faixa 4, foi a última que me empolgou, mas quando fez sentido, me invadiu plenamente com sua melodia que mistura cinismo e nostalgia de maneira tão bacana. Eis que então surge ‘A’ balada do disco: Not For All The Love In The World. Redondinha, com açúcar na medida certa para comover e não enjoar. Imagina que perigo seria se algum produtor de novela da Globo ouvisse uma faixa como essa! Ok: eu acho que iria adorar de ouvir uma banda tão violenta quanto o Thrills aumentando o nível de qualidade musical das trilhas sonoras de novelas. De mais a mais, quem sabe assim eles não viriam finalmente ao Brasil? Prossigamos. Our Wasted Lives e o tom confessional de You Can't Fool Old Friends with Limousines com direito ao egoísmo assumido em I don’t love you, I just love myself de seu refrão, fazem bela passagem para a minha música predileta do petardo: Found My Rosebud. Ainda hoje depois de sucessivas audições a harpa que abre a canção me deixa perdidinho da Silva. Não só a harpa, mas os primeiros versos também: Now I don't mind if I hurt you/ And leave the guilt behind/ So here I go burning bridges/ Did i play my hand too soon? Como se essa franqueza libertadora já não bastasse, há ainda na canção um momento mágico expresso pela declaração há tanto escondida, agora jogada na cara – que coincide com uma fabulosa paradinha: It’s not like/ I said that I love you. The Curse of Comfort tem interpretação repleta de ternura, embora seja desesperançosa. Fica a cargo de The Irish Keep Gate-Crashing, talvez a obra prima da banda, ‘fechar’ o disco. E que ‘fecho’, viu? Não tem como não ficar sensibilizado com a ingenuidade do eu-lírico quando diz ao ser amado: se eu pudesse aprender a te amar, você também poderia aprender a me amar. E assim como na faixa que abre o cd, não há como resistir ao it goes on and on and on... derradeiro. City of Long Nights, faixa escondida que realmente fecha o disco em conjunto com uma versão instrumental de Irish Keep Gate-Crashing não acrescenta nem compromete o resultado final da bolachinha.
Embora esta lista seja de alguma maneira um convite implícito para audição destes maravilhosos discos, dessa vez faço questão de deixar um convite explicito para que vocês, meus leitores, procurem pelas músicas do Let’s Bottle Bohemia. E o falo tão diretamente assim pela razão única de que este talvez seja o único disco dentre todos desta seleção que vocês verdadeiramente irão gostar sem nenhuma restrição. Baixando o CD vocês estarão ajudando a desfazer essa enorme injustiça que é deixar o Thrills no terceiro escalão da música mundial!
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