7) In Rainbows, Radiohead (2007)
Quando o Radiohead vai lançar um disco a altura de toda a sua badalação? Foi uma pergunta que me fiz durante muito tempo e que achei que jamais encontraria resposta positiva. Não que os discos até então lançados pela banda fossem ruins, mas nunca encontrei nada de definitivo em sua discografia. A começar pela imensa decepção que eu tive ao comprar, num de meus acessos, Ok Computer, o célebre álbum que fez o Radiohead cair de vez nas graças da crítica musical mundial. O disco soava cansativo, forçado, demasiado arrastado - mesmo para uma pessoa como eu que tende a preferir a melancolia à alegria nas músicas. Não por acaso, a única música que eu consegui engolir naquela época foi Electioneering, a faixa mais agitadinha do petardo, tida pelos fãs mais fervorosos como ‘dispensável’, ‘a pior do cd’ - se bobear, tais entusiastas ainda terão a pachorra de dizer que ela é pior até que Fitter Happier, um trecho recitado chaaaato, quer dizer, cabeça e que nem música é. Em compensação, Paranoid Android, clássico inconteste dos anos 90 na opinião de toda a crítica musical, me soava nada menos do que modorrenta. E ainda hoje me soa uma música superestimada. Audições posteriores do cd ao menos me ajudaram a encontrar algumas pérolas como Airbag, Karma Police, The Tourist e Lucky, faixa mais tocante da bolacha em minha opinião. A questão, posta de outra maneira, foi que ouvindo um disco do Radiohead de ponta a ponta eu jamais conseguia encontrar um conjunto de canções realmente perfeito: ao lado de músicas ótimas sempre apareciam canções presunçosas, quando não, preguiçosas. Mas, vocês sabem, quando se há legitimidade a preguiça se torna sinal mais evidente de vanguardismo, de genialidade. Portanto, independentemente do que eu viesse a pensar, In Rainbows seria – como de fato foi – recebido como mais uma obra-prima de Thom Yorke e companhia limitada. No entanto tal foi a minha surpresa poder constatar que dessa vez realmente era para valer: o Radiohead havia parido um disco sensacional. Recordo-me da reação que tive quando baixei o disco – não da belíssima estratégia de marketing do Radiohead, mas de um servidor Rapidshare, apenas para manter a tradição – e os primeiros movimentos de 15 Step ecoaram em meus ouvidos: um acesso de lágrimas. Pouquíssimas vezes um disco me deixou tão abalado logo na primeira audição. O que fica mais forte se considerar que, como eu já disse, o Radiohead nunca me causou lá grandes danos. Neste dia o computador ainda estava no meu quarto – tempos depois ele voltaria para a sala – e eu falava com a Thais via MSN. E a coisa foi tão intensa que tive que me despedir dela as pressas para cair na cama. Eu só conseguia dizer coisas banais como, mas é tão bonito, sobretudo ao colocar House Of Cards num repeat ad infinitum. Aquela música com um clima etéreo, robótico, me consumia plenamente. Não deixava qualquer vestígio de força coexistir dentro de mim. Os vocais de Thom Yorke, sempre tão elogiados, pela primeira vez na minha vida faziam realmente a diferença. Bem que ele disse que a infra estrutura iria entrar em colapso. Dito e feito. Mas o bacana é que o disco era muito mais do que House Of Cards. Nude perdeu o Big Ideas que carregava no nome original de quando originalmente composta – época do Ok Computer – e parece ter sido gravada especialmente para a trilha sonora de um filme. A música transmite uma ausência de gravidade (?!) ao mesmo tempo que a sua letra ferina expressa com crueza incomum uma realidade tão verdadeira que nos machuca ao decretar que iremos para o inferno por conta do que nossa cabeça suja pensa. Por isso o eu-lírico, de maneira desesperançosa, aconselha: não tenham grandes idéias porque elas simplesmente não vão acontecer. Não tem como não se apaixonar por uma música dessas, certamente uma de minhas preferidas no álbum. Há ainda o rock visceral de Bodysnatchers e seu primo direto Jigsaw Falling Into Places, ambas com estruturas parecidas, cujos ápices certamente são as partes mais chorosas de cada canção. Eis que então surge o clima soturno de All I Need e seu trip-hop decadente permeado por delicados xilofones que novamente levam o ouvinte a lona com a auto-flagelação do eu-lírico dizendo ser todos os dias que seu ser amado escolheu ignorar. A explosão dos pianos no final da canção cria um clima perfeito para a desilusão do eu lírico ao mostrar o paradoxo existente entre a sua situação estar totalmente certa e totalmente errada ao mesmo tempo. E como se essas faixas não bastassem, ainda há Reckoner. Sim, ainda há Reckoner e seus pandeirinhos precisos. O choque da entrada da música e seus dedilhados pontuais, por vezes beirando um ar desafinadado, que penetra perfurando a alma. E a voz do Thom Yorke... E a voz do Thom Yorke... Because we separate like ripples on a blank shore. Enfim.
Nenhuma faixa equivocada. Nenhum errinho sequer. Nem um. Ok Radiohead.
Nenhuma faixa equivocada. Nenhum errinho sequer. Nem um. Ok Radiohead.
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