4) Yankee Hotel Foxtrot, Wilco (2001)
Ainda me lembro perfeitamente de como tudo aconteceu. Estava eu no primeiro período da faculdade de Comunicação Social, em 2005, quando conheci o Alan. Aquelas grandes coincidências da vida: nós dois havíamos escolhido usar no mesmo dia camisetas do Los Hermanos. Daí para encontrar algumas afinidades, coincidências – fazemos aniversário no mesmo dia! – e algumas picuinhas, foi um passo. Mas toda amizade num estado nascente começa necessariamente tímida, cuidadosa, em busca da idéia existnte por trás daquela palavrinha pequenininha e danadinha chamada confiança. Por isso, era melhor não arriscar ser franco demais: trocamos alguns CDs. Enquanto eu gravei A Farsa do Samba Nublado, do Wado, e o Hot Fuss, disco de estréia do Killers, o Alan havia me emprestado o Sonic Nurse, dos seus eternos queridões do Sonic Youth, e pouco tempo depois resolveu me presentear com a gravação de uma bolachinha chamada Yankee Hotel Foxtrot, dos americanos do Wilco. ‘Eu acho esse disco muito bonito!’. Fiquei com um pé atrás, pois durante o lançamento do disco eu havia lido críticas positivas, mas o disco em si mesmo a mim não havia provocado a menor comoção. De qualquer maneira, não custava escutar. Escutei e não gostei. Mas como dizer isso ao Alan? Optei por considerações vagas sobre o cd, assim como ele também o fez em relação ao Hot Fuss, na época. Já no segundo período, com a amizade mais bem delineada, pudemos dizer as verdades que temíamos fazer passar por ofensa naquela primeira ocasião: ‘o Killers é chato demais’; ‘não vejo absolutamente nada no YHF’; ‘a I Am Trying To Break Your Heart é um absurdo’; ‘Alan, a I Am Trying To Break Your Heart é a mais cansativa do disco, com toda aquela linearidade’. Mesmo assim, no segundo período, numa matéria chamada Oficina de Mídia Impressa, em um dos exercícios resolvemos produzir uma capa de disco do... Wilco?! O Alan me deu um dos foninhos de ouvido para usar justamente a I Am Trying To Break Your Heart como inspiração. E enquanto ele falava mil maravilhas sobre a música eu simplesmente não conseguia entender onde estava toda aquela grandiosidade. E a música tocou uma, duas, três vezes. Nada. Ok.
No ano seguinte, estava eu voltando da faculdade de ônibus, no mítico 5102 quando, de repente me deu um estalo: tem aquele disco que o Alan gravou para mim do Wilco. Cheguei em casa, peguei a caixinha azul com a lista de músicas cuidadosamente escrita a mão e coloquei o disco para tocar. Desabei. Foi tiro e queda. Uma a uma o disco foi mostrando aquela beleza escondida – exceto a I Am Trying To Break Your Heart, naturalmente. E eu continuava a provocar o Alan: ‘o disco é foda, mas aquela primeira faixa é muito sem sal’! Como ela podia ser a música símbolo do disco quando havia ao lado dela faixas tão superiores quanto Radio Cure, War on War, Jesus, Etc, I’m The Man Who Loves You e Pot Kettle Black, essa última sim a grande obra prima do cd? Naquele momento de descoberta eu não conseguia ouvir outra coisa que não o YHF. (Quase) Tudo naquele disco era sensacional em termos de melodia. Os barulhinhos que outrora eu achava um porre, de repente pareciam nada mais nada menos do que mágicos. Isso sem falar de versos inesquecíveis como every song is a comeback/ every moment is a little bit later, de Pot Kettle Black; you have to learn how to die if you want to be alive, de War On War; ou mesmo everyone is a burning sun, de Jesus, Etc.
Foi então que a ficha caiu. Depois de sucessivas tentativas, numa daquelas mais improváveis conjunções cósmicas do universo, coloquei a I Am Trying To Break Your Heart para tocar e o efeito foi devastador. Lona. Sim, Alan, é absurda a música e a toda a sinceridade que permeia aquela letra, sobretudo seu ápice suplicante – com aquela voz calejada inigualável do Jeff Tweedy - quando o eu-lírico da canção diz but still I’d be lying if I said it wasn’t easy, I am trying to break your heart. O Yankee Hotel Foxtrot só faz pleno sentido a partir do momento que esta canção revela toda a beleza que há em sua simplicidade rebuscada.
Embora Yankee Hotel Foxtrot não seja superior ao disco seguinte da banda, o sensacional A Ghost Is Born, há no primeiro algo que o distingue e, portanto, o coloca na quarta posição dessa lista: unidade. De maneira isolada, as faixas de A Ghost Is Born têm mais vigor que as de YHF. Haja visto At Least That’s What You Said, música definitiva do Wilco, Hummingbird, Hell Is Chrome, Theologians e o empolgante rockinho I’m Wheel, apenas para ficar em alguns exemplos. Mas a soma dessas pérolas não resultou na explosão que caracteriza a descoberta de Yankee Hotel Foxtrot, sobretudo por saber explorar tão bem a dificuldade que as pessoas encontram ao jamais saber se comunicarem nos relacionamentos cotidianos de maneira satisfatória com seus semelhantes. Daí, como Marcelo Costa bem observou, a insistênte presença de distorções e barulhos entre as faixas metaforizando com precisão a questão dos ruídos que existem entre os corações. Como disse ao Alan na época, ‘nunca foi tão bom poder reconhecer a tempo que eu estava totalmente errado’. Neste caso, a derrota foi, na verdade, uma grande vitória.
Ainda me lembro perfeitamente de como tudo aconteceu. Estava eu no primeiro período da faculdade de Comunicação Social, em 2005, quando conheci o Alan. Aquelas grandes coincidências da vida: nós dois havíamos escolhido usar no mesmo dia camisetas do Los Hermanos. Daí para encontrar algumas afinidades, coincidências – fazemos aniversário no mesmo dia! – e algumas picuinhas, foi um passo. Mas toda amizade num estado nascente começa necessariamente tímida, cuidadosa, em busca da idéia existnte por trás daquela palavrinha pequenininha e danadinha chamada confiança. Por isso, era melhor não arriscar ser franco demais: trocamos alguns CDs. Enquanto eu gravei A Farsa do Samba Nublado, do Wado, e o Hot Fuss, disco de estréia do Killers, o Alan havia me emprestado o Sonic Nurse, dos seus eternos queridões do Sonic Youth, e pouco tempo depois resolveu me presentear com a gravação de uma bolachinha chamada Yankee Hotel Foxtrot, dos americanos do Wilco. ‘Eu acho esse disco muito bonito!’. Fiquei com um pé atrás, pois durante o lançamento do disco eu havia lido críticas positivas, mas o disco em si mesmo a mim não havia provocado a menor comoção. De qualquer maneira, não custava escutar. Escutei e não gostei. Mas como dizer isso ao Alan? Optei por considerações vagas sobre o cd, assim como ele também o fez em relação ao Hot Fuss, na época. Já no segundo período, com a amizade mais bem delineada, pudemos dizer as verdades que temíamos fazer passar por ofensa naquela primeira ocasião: ‘o Killers é chato demais’; ‘não vejo absolutamente nada no YHF’; ‘a I Am Trying To Break Your Heart é um absurdo’; ‘Alan, a I Am Trying To Break Your Heart é a mais cansativa do disco, com toda aquela linearidade’. Mesmo assim, no segundo período, numa matéria chamada Oficina de Mídia Impressa, em um dos exercícios resolvemos produzir uma capa de disco do... Wilco?! O Alan me deu um dos foninhos de ouvido para usar justamente a I Am Trying To Break Your Heart como inspiração. E enquanto ele falava mil maravilhas sobre a música eu simplesmente não conseguia entender onde estava toda aquela grandiosidade. E a música tocou uma, duas, três vezes. Nada. Ok.
No ano seguinte, estava eu voltando da faculdade de ônibus, no mítico 5102 quando, de repente me deu um estalo: tem aquele disco que o Alan gravou para mim do Wilco. Cheguei em casa, peguei a caixinha azul com a lista de músicas cuidadosamente escrita a mão e coloquei o disco para tocar. Desabei. Foi tiro e queda. Uma a uma o disco foi mostrando aquela beleza escondida – exceto a I Am Trying To Break Your Heart, naturalmente. E eu continuava a provocar o Alan: ‘o disco é foda, mas aquela primeira faixa é muito sem sal’! Como ela podia ser a música símbolo do disco quando havia ao lado dela faixas tão superiores quanto Radio Cure, War on War, Jesus, Etc, I’m The Man Who Loves You e Pot Kettle Black, essa última sim a grande obra prima do cd? Naquele momento de descoberta eu não conseguia ouvir outra coisa que não o YHF. (Quase) Tudo naquele disco era sensacional em termos de melodia. Os barulhinhos que outrora eu achava um porre, de repente pareciam nada mais nada menos do que mágicos. Isso sem falar de versos inesquecíveis como every song is a comeback/ every moment is a little bit later, de Pot Kettle Black; you have to learn how to die if you want to be alive, de War On War; ou mesmo everyone is a burning sun, de Jesus, Etc.
Foi então que a ficha caiu. Depois de sucessivas tentativas, numa daquelas mais improváveis conjunções cósmicas do universo, coloquei a I Am Trying To Break Your Heart para tocar e o efeito foi devastador. Lona. Sim, Alan, é absurda a música e a toda a sinceridade que permeia aquela letra, sobretudo seu ápice suplicante – com aquela voz calejada inigualável do Jeff Tweedy - quando o eu-lírico da canção diz but still I’d be lying if I said it wasn’t easy, I am trying to break your heart. O Yankee Hotel Foxtrot só faz pleno sentido a partir do momento que esta canção revela toda a beleza que há em sua simplicidade rebuscada.
Embora Yankee Hotel Foxtrot não seja superior ao disco seguinte da banda, o sensacional A Ghost Is Born, há no primeiro algo que o distingue e, portanto, o coloca na quarta posição dessa lista: unidade. De maneira isolada, as faixas de A Ghost Is Born têm mais vigor que as de YHF. Haja visto At Least That’s What You Said, música definitiva do Wilco, Hummingbird, Hell Is Chrome, Theologians e o empolgante rockinho I’m Wheel, apenas para ficar em alguns exemplos. Mas a soma dessas pérolas não resultou na explosão que caracteriza a descoberta de Yankee Hotel Foxtrot, sobretudo por saber explorar tão bem a dificuldade que as pessoas encontram ao jamais saber se comunicarem nos relacionamentos cotidianos de maneira satisfatória com seus semelhantes. Daí, como Marcelo Costa bem observou, a insistênte presença de distorções e barulhos entre as faixas metaforizando com precisão a questão dos ruídos que existem entre os corações. Como disse ao Alan na época, ‘nunca foi tão bom poder reconhecer a tempo que eu estava totalmente errado’. Neste caso, a derrota foi, na verdade, uma grande vitória.
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