10) Saudades das Minhas Lembranças, Nervoso
Eu jamais seria capaz de escolher [para entrar na décima posição deste ranking] um disco que tenha faixas tão chatas quanto Moça Mimada e Pra Terminar.
Uma mudança realmente inesperada ocorreu. Justo quando estava tentando argumentar sobre a opção que até então eu havia feito para ocupar este espaço, eis que ao escrever a frase acima me veio à mente imediatamente o contraponto ou seria?
Não apenas seria como fui: Saudades das Minhas Lembranças, disco de estréia do compositor carioca André Paixão, o Nervoso, ex-baterista do conjunto Acabou La Tequila, é exatamente o nome que faltava para esta lista. Não apenas pela genialidade de seu título e pelo primor da arte gráfica mas, sobretudo, pelo que de fato interessa: suas músicas.
O ‘fato’ que eu havia me esquecido é que se Saudades das Minhas Lembranças tem em seu repertório Moça Mimada e Pra Terminar, verdadeiras brincadeiras de mal gosto cuja musicalidade muito se aproxima dos clichês forçosos de grande parte das bandas insosso rock gaúcho, por outro lado, a coleção de pérolas que o disco possui é infindavelmente superior a ponto de compensar plenamente qualquer presepada que Nervoso tenha cometido no meio do caminho.
A capa do debut fornece a chave para entender a musicalidade proposta por Nervoso: o belíssimo coração explodindo e jorrando sangue aponta para visceralidade presente nas canções, que de tão sinceras não raramente atingem aquela pieguice quase constrangedora que torna este registro tão tocante, algo que talvez só encontre equivalente em E o Método Tufo de Experiências, ótimo disco dos cearenses do Cidadão Instigado, de 2005. No entanto assim como no disco de Fernando Catatau, há uma barreira que por vezes acaba afastando Saudades das Minhas Lembranças de um público mais amplo, qual seja, o sotaque totalmente carregado e, por vezes, galhofeiro de Nervoso que também não faz questão nenhuma de negar suas origens. O bacana é que transposto este obstáculo - em ambos os casos - o que era desvantagem se torna justamente trunfo: o chiado de Nervoso faz toda a diferença não apenas em sua performance, mas também na de seu séquito de fãs! O hit mais imediato do disco, o rock ‘jovemguardiano’ Já Deshmanchei Minha Relação jamais seria tão intenso e delicioso se no lugar de seu charmoso sh estivesse o tradicional s, para ficar em um exemplo mais imediato.
Sotaques à parte, o grande trunfo do disco é justamente sua a pluralidade musical. Nervoso faz uma verdadeira salada que transita entre o samba, a Jovem Guarda – talvez daí a sua enorme sinceridade -, o rock dos anos cinqüenta, o rock tradicional e experimentações malucóides sempre com a mesma competência. É justamente nesta última categoria que se encaixa O Bom Veneno, que embora tenha um arranjo estranho tem uma letra de primeira: Pois o começo é sempre ligado ao fim de algo bom ou de algo ruim. E o meu fim será o seu suplício Pra eu poder voltar ao início. O tom provocativo também se mantem na poderosa trinca roqueira Maus Limites (não vou suprir essa seu maldito desejo de impor maus limites) – que abre o disco e ironicamente tem seu ponto alto no arremedo do refrão de Fingi Na Hora Rir, dos conterrâneos do Los Hermanos; O Percurso (Respeito meu desejo/ Ignoro as aparências/ Se for pra outro lado vou dever para verdade/ E seguirei, prosseguirei); e na raivosa Não Quero Dar Explicação (O que eu quero dizer - e vê se me entenda dessa vez - é que são tantas perguntas que atropelam minha vontade de raciocinar. Não quero dar explicação!). A malemolencia dos sambinhas A Visita e, sobretudo, a espetacular Que Martírio! com seu refrão grudento refrão (Que martírio é ter você como um álibi e me acomodar com medo de partir) e seus contagiantes ‘pararás’. Mas talvez sejam nas baladas que Nervoso atinja seus ápices: Mais Justo, que conta com participação do ‘Hermano’ Rodrigo Amarante nos vocais, tem tom suplicante e confessional, terminando com os imagéticos versos eu tenho um sonho eterno com você/ estou acordado; já Despedida Sem Fim é uma típica canção do The Platters, trilha sonora ideal para os momentos de fossa total (Veja que chato é estar entregue a quem se foi e emagrecer sem consistência. Não penso em encontrar alguém que não seja você) que tem seu momento maior com o eu-lírico tomando consciência de uma triste constatação: lembro que só você me dava valor. A essa hora as lágrimas já se espalharam pelo mundo. Clube da Luta, a melhor música do disco, é uma síntese perfeita de Saudades das Minhas Lembranças com seu refrão antológico eu luto para não ficar pior. Calma, Nervoso!
Nada melhor do que um disco nostalgico, transbordando emoção, para uma década nostalgica.
Eu jamais seria capaz de escolher [para entrar na décima posição deste ranking] um disco que tenha faixas tão chatas quanto Moça Mimada e Pra Terminar.
Uma mudança realmente inesperada ocorreu. Justo quando estava tentando argumentar sobre a opção que até então eu havia feito para ocupar este espaço, eis que ao escrever a frase acima me veio à mente imediatamente o contraponto ou seria?
Não apenas seria como fui: Saudades das Minhas Lembranças, disco de estréia do compositor carioca André Paixão, o Nervoso, ex-baterista do conjunto Acabou La Tequila, é exatamente o nome que faltava para esta lista. Não apenas pela genialidade de seu título e pelo primor da arte gráfica mas, sobretudo, pelo que de fato interessa: suas músicas.
O ‘fato’ que eu havia me esquecido é que se Saudades das Minhas Lembranças tem em seu repertório Moça Mimada e Pra Terminar, verdadeiras brincadeiras de mal gosto cuja musicalidade muito se aproxima dos clichês forçosos de grande parte das bandas insosso rock gaúcho, por outro lado, a coleção de pérolas que o disco possui é infindavelmente superior a ponto de compensar plenamente qualquer presepada que Nervoso tenha cometido no meio do caminho.
A capa do debut fornece a chave para entender a musicalidade proposta por Nervoso: o belíssimo coração explodindo e jorrando sangue aponta para visceralidade presente nas canções, que de tão sinceras não raramente atingem aquela pieguice quase constrangedora que torna este registro tão tocante, algo que talvez só encontre equivalente em E o Método Tufo de Experiências, ótimo disco dos cearenses do Cidadão Instigado, de 2005. No entanto assim como no disco de Fernando Catatau, há uma barreira que por vezes acaba afastando Saudades das Minhas Lembranças de um público mais amplo, qual seja, o sotaque totalmente carregado e, por vezes, galhofeiro de Nervoso que também não faz questão nenhuma de negar suas origens. O bacana é que transposto este obstáculo - em ambos os casos - o que era desvantagem se torna justamente trunfo: o chiado de Nervoso faz toda a diferença não apenas em sua performance, mas também na de seu séquito de fãs! O hit mais imediato do disco, o rock ‘jovemguardiano’ Já Deshmanchei Minha Relação jamais seria tão intenso e delicioso se no lugar de seu charmoso sh estivesse o tradicional s, para ficar em um exemplo mais imediato.
Sotaques à parte, o grande trunfo do disco é justamente sua a pluralidade musical. Nervoso faz uma verdadeira salada que transita entre o samba, a Jovem Guarda – talvez daí a sua enorme sinceridade -, o rock dos anos cinqüenta, o rock tradicional e experimentações malucóides sempre com a mesma competência. É justamente nesta última categoria que se encaixa O Bom Veneno, que embora tenha um arranjo estranho tem uma letra de primeira: Pois o começo é sempre ligado ao fim de algo bom ou de algo ruim. E o meu fim será o seu suplício Pra eu poder voltar ao início. O tom provocativo também se mantem na poderosa trinca roqueira Maus Limites (não vou suprir essa seu maldito desejo de impor maus limites) – que abre o disco e ironicamente tem seu ponto alto no arremedo do refrão de Fingi Na Hora Rir, dos conterrâneos do Los Hermanos; O Percurso (Respeito meu desejo/ Ignoro as aparências/ Se for pra outro lado vou dever para verdade/ E seguirei, prosseguirei); e na raivosa Não Quero Dar Explicação (O que eu quero dizer - e vê se me entenda dessa vez - é que são tantas perguntas que atropelam minha vontade de raciocinar. Não quero dar explicação!). A malemolencia dos sambinhas A Visita e, sobretudo, a espetacular Que Martírio! com seu refrão grudento refrão (Que martírio é ter você como um álibi e me acomodar com medo de partir) e seus contagiantes ‘pararás’. Mas talvez sejam nas baladas que Nervoso atinja seus ápices: Mais Justo, que conta com participação do ‘Hermano’ Rodrigo Amarante nos vocais, tem tom suplicante e confessional, terminando com os imagéticos versos eu tenho um sonho eterno com você/ estou acordado; já Despedida Sem Fim é uma típica canção do The Platters, trilha sonora ideal para os momentos de fossa total (Veja que chato é estar entregue a quem se foi e emagrecer sem consistência. Não penso em encontrar alguém que não seja você) que tem seu momento maior com o eu-lírico tomando consciência de uma triste constatação: lembro que só você me dava valor. A essa hora as lágrimas já se espalharam pelo mundo. Clube da Luta, a melhor música do disco, é uma síntese perfeita de Saudades das Minhas Lembranças com seu refrão antológico eu luto para não ficar pior. Calma, Nervoso!
Nada melhor do que um disco nostalgico, transbordando emoção, para uma década nostalgica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário