9) Rubies, Destroyer (2006)
Cena 1
- Guilherme, mas que música chata! Tira isso daí!
Cena 2
- Ba rá rá rá rá, ba rá rá rá...
- Ué mãe, mas não foi você quem disse que achava essa música um porre?
Este pequeno mosaico sintetiza de maneira precisa o efeito que Rubies, sétimo disco de estúdio do Destroyer – projeto autoral de Dan Bejar, do New Pornographers – causa no ouvinte. E não foi apenas com minha mãe que isso aconteceu: eu também fui submetido exatamente a mesma sensação. Bem que o alerta já havia sido dado pelo César M., do blog Indienation: tente não ficar com os "larilás" na cabeça: é impossível. Realmente, é impossível, da mesma maneira que é igualmente impossível não ter certo estranhamento com o tipo de musicalidade presente neste disco. Primeiro porque em plena década 00, em vez de emular a verve oitentista tal como 11 em cada 10 bandas fizeram neste século, Dan Bejar em Rubies revela a sua predileção pelos anos 70 – leia-se David Bowie fase Ziggy Stardust, para ser o mais específico possível. Essa tara atinge o ápice de evidência com Looters’ Foolies, a primeira música que me chamou atenção no disco. E me chamou atenção simplesmente porque eu não conseguia conceber que aquela música não estava no célebre álbum de David Bowie. Tudo ali exala a essência de Ziggy Stardust: o jeito declamado de cantar, o ar épico, as vocalizações mais do que precisas, o final emocionante e descendente. Mas... inexplicavelmente parece ainda melhor do que Ziggy Stardust! Sim, e a culpa é justamente dos ‘larilás’ que não existem em Bowie e servem para enfatizar a carga dramática da canção. E embora Dan Bejar use e abuse desse recurso ao longo das dez canções que compõem o disco é incrível perceber que em cada circunstância melódica tal efeito assume contornos diferentes, específicos. European Oils, por exemplo, tal qual Looters’ Foolies, começa com um pianinho delicioso, mas nega o estatuto épico ao privilegiar um direcionamento mais pop. A escolha não poderia ser mais agradável: no final da canção após uma ‘pseudo-paradinha’ em que sobressaem os violões entremeados pelas vocalizações típicas de Bejar, surge a avalanche: não há como não deixar escapar um sorriso e um pouco esperança ao ‘larirar’. Painter In Your Pocket tem aquela ambigüidade típica das grandes faixas de Rock’n’Roll, não sabendo se cai para a melancolia ou para a esperança, além de possuir uma bateria marcante e um refrão contagiante, sendo a minha faixa predileta da bolachinha. Watercolours Into The Ocean mantém o delicioso clima nublado e atinge seu ápice num momento aparentemente banal quando o eu-lírico da canção diz oh life... is bigger. Se no fim de Painter In Your Pocket o sol se abre, Bejar faz o contraponto correto no desfecho de Watercolours Into The Ocean ao deixar cair aquela chuvinha fininha, leve, gostosa. A Dangerous Woman Up To A Point com seu belo arranjo de metais é outra homenagem explicita de Bejar a Bowie e tem resultado igualmente impecável. Rubies, faixa que abre e dá nome ao cd, com seus precisos 9:25 min é talvez a canção mais discrepante do disco, embora não menos charmosa. Sim, os larirás também estão presentes, mas há uma aparente crueza – talvez por ser uma das poucas faixas totalmente conduzidas ao violão – que a distancia do grande rebuscamento das demais músicas do CD. Se em sua primeira metade os violões concorrem com baterias esporádicas e guitarras, na segunda a simplicidade do voz e violão deixa tudo mais emocionante – inclusive para quem, como eu, não costuma gostar tanto deste formato. A pureza é tão grande que se pode ouvir tanto a singularidade das cordas quanto a imprecisão nas batidas de Bejar, o que oferece uma maior autenticidade e beleza ao registro. Cabe a Sick Priest Learns To Last Forever a tarefa de dar números finais ao petardo com sua empolgante pegada blueseira. Nesse emaranhado de canções excelentes apenas 3000 Flowers, sexta faixa do disco, soa dispensável por conta de sua excessiva presunção ao misturar várias camadas de instrumentos de maneira tanto desorganizada.
Pensar que por muito pouco este discão passar-me-ia despercebido – só fui baixá-lo, por um golpe do acaso, em 2008, ou seja, dois anos depois de seu lançamento – me deixou com uma enorme dívida de gratidão com Bejar, muito bem paga hoje com este nono lugar entre os discos mais bacanas desta década. Viva as surpresas da vida!
Cena 1
- Guilherme, mas que música chata! Tira isso daí!
Cena 2
- Ba rá rá rá rá, ba rá rá rá...
- Ué mãe, mas não foi você quem disse que achava essa música um porre?
Este pequeno mosaico sintetiza de maneira precisa o efeito que Rubies, sétimo disco de estúdio do Destroyer – projeto autoral de Dan Bejar, do New Pornographers – causa no ouvinte. E não foi apenas com minha mãe que isso aconteceu: eu também fui submetido exatamente a mesma sensação. Bem que o alerta já havia sido dado pelo César M., do blog Indienation: tente não ficar com os "larilás" na cabeça: é impossível. Realmente, é impossível, da mesma maneira que é igualmente impossível não ter certo estranhamento com o tipo de musicalidade presente neste disco. Primeiro porque em plena década 00, em vez de emular a verve oitentista tal como 11 em cada 10 bandas fizeram neste século, Dan Bejar em Rubies revela a sua predileção pelos anos 70 – leia-se David Bowie fase Ziggy Stardust, para ser o mais específico possível. Essa tara atinge o ápice de evidência com Looters’ Foolies, a primeira música que me chamou atenção no disco. E me chamou atenção simplesmente porque eu não conseguia conceber que aquela música não estava no célebre álbum de David Bowie. Tudo ali exala a essência de Ziggy Stardust: o jeito declamado de cantar, o ar épico, as vocalizações mais do que precisas, o final emocionante e descendente. Mas... inexplicavelmente parece ainda melhor do que Ziggy Stardust! Sim, e a culpa é justamente dos ‘larilás’ que não existem em Bowie e servem para enfatizar a carga dramática da canção. E embora Dan Bejar use e abuse desse recurso ao longo das dez canções que compõem o disco é incrível perceber que em cada circunstância melódica tal efeito assume contornos diferentes, específicos. European Oils, por exemplo, tal qual Looters’ Foolies, começa com um pianinho delicioso, mas nega o estatuto épico ao privilegiar um direcionamento mais pop. A escolha não poderia ser mais agradável: no final da canção após uma ‘pseudo-paradinha’ em que sobressaem os violões entremeados pelas vocalizações típicas de Bejar, surge a avalanche: não há como não deixar escapar um sorriso e um pouco esperança ao ‘larirar’. Painter In Your Pocket tem aquela ambigüidade típica das grandes faixas de Rock’n’Roll, não sabendo se cai para a melancolia ou para a esperança, além de possuir uma bateria marcante e um refrão contagiante, sendo a minha faixa predileta da bolachinha. Watercolours Into The Ocean mantém o delicioso clima nublado e atinge seu ápice num momento aparentemente banal quando o eu-lírico da canção diz oh life... is bigger. Se no fim de Painter In Your Pocket o sol se abre, Bejar faz o contraponto correto no desfecho de Watercolours Into The Ocean ao deixar cair aquela chuvinha fininha, leve, gostosa. A Dangerous Woman Up To A Point com seu belo arranjo de metais é outra homenagem explicita de Bejar a Bowie e tem resultado igualmente impecável. Rubies, faixa que abre e dá nome ao cd, com seus precisos 9:25 min é talvez a canção mais discrepante do disco, embora não menos charmosa. Sim, os larirás também estão presentes, mas há uma aparente crueza – talvez por ser uma das poucas faixas totalmente conduzidas ao violão – que a distancia do grande rebuscamento das demais músicas do CD. Se em sua primeira metade os violões concorrem com baterias esporádicas e guitarras, na segunda a simplicidade do voz e violão deixa tudo mais emocionante – inclusive para quem, como eu, não costuma gostar tanto deste formato. A pureza é tão grande que se pode ouvir tanto a singularidade das cordas quanto a imprecisão nas batidas de Bejar, o que oferece uma maior autenticidade e beleza ao registro. Cabe a Sick Priest Learns To Last Forever a tarefa de dar números finais ao petardo com sua empolgante pegada blueseira. Nesse emaranhado de canções excelentes apenas 3000 Flowers, sexta faixa do disco, soa dispensável por conta de sua excessiva presunção ao misturar várias camadas de instrumentos de maneira tanto desorganizada.
Pensar que por muito pouco este discão passar-me-ia despercebido – só fui baixá-lo, por um golpe do acaso, em 2008, ou seja, dois anos depois de seu lançamento – me deixou com uma enorme dívida de gratidão com Bejar, muito bem paga hoje com este nono lugar entre os discos mais bacanas desta década. Viva as surpresas da vida!
Nenhum comentário:
Postar um comentário