Em pouco tempo tudo estará fadado a acabar até a próxima vez que tudo estiver prestes a começar. O que fazer entre o fim e o começo? O que fazer durante o hiato que se coloca entre o começo e o fim? Toda espera acaba por se converter em um momento que simplesmente acaba, foge, escapa rumo a uma nova espera. Entre duas esperas um sonho. Entre duas esperas é quase o mesmo que nada. Mas o quase é exatamente a pedra que sustenta, o que faz a fagulha insistir. Não se trata de nada em absoluto, pelo menos para mim. O quase é o nada que é tudo, o momento em que o mistério se justifica de alguma maneira, mesmo que tão sutilmente a ponto de parecer imperceptível. Mas não é. Apalpar o momento exige sempre uma paciência milenar que eu não trago dentro de mim. Sequer sei medir o que é certo, o que é errado. É, apenas. Não. Não é. Mas poderia ser. Poderia ser se talvez eu conseguisse fatiar a espera em esperas menores, que por sua vez eu fatiaria em esperas menores ainda até um ponto em que tudo não passasse exatamente de um ponto. Um ponto em que tudo se congelaria e o tempo ficasse em suspenso. Tempo de bailar em pleno ar ao som de um pouco de vermelho. Enquanto isso, enquanto entre entres, me contento com o seu azul até o começo do meu fim.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
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3 comentários:
Rotação
"...a esfera em torno de si mesma me ensina
a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera
a nova espera me ensina de novo
a esperança na esfera.."
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Seu texto é bonito
(cada vez mais bonito,
mas claro que nem sempre).
Esse me lembrou essa
outra esfera aí de cima.
Mas num desenho
iria além: a uma espiral.
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Sei que uma hora tudo acaba.
Vira fumaça.Ferrugem.Poeira.
Mas, de verdade?
Sinto falta de TI.
Muita.
Todo dia.
E não me pesa. Mas angustia.
Te alivia?
Um bj
Eu
Olá menina!
Sim, 'toda cura é sempre provisória'. Ficam apenas rastros de algo que um dia se foi. É difícil e angustiante ter a consciência disso, infelizmente. E no entanto momentos são exatamente tudo que temos. Começo e fim. E esperas entre começos e fins. Durar é um processo que eu particularmente penoso, ainda mais para pessoas que não se contentam com nada, como eu. E de repente, no melhor da festa a luz se apaga. Não tem como pegar no tempo, que sempre segue avante. E isso é tão difícil de se lidar. Tudo parece ultrapassar o limite que deveria ser estabelecido. Toda hora os limites são remarcados. E eu acho esse processo doloroso mesmo porque a lembrança sempre machuca. Mesmo as lembranças das coisas que a gente sequer vivenciou - talvez essas mais ainda.
Engraçado... Eu tava me lembrando aqui agora que na madrugada de anteontem para ontem eu sonhei com você. Estranho, mas foi isso. E a imagem que me veio foi de uma menina, uma criança bem novinha mesmo. Renata. Sonhos são sempre estranhos. De repente são vivos. De repente você acorda e não tem mais lembrança de nada. De repente eles brotam de novo. Freud diz que os sonhos possuem paralelo com a realidade. Ele está certo, mas eu iria além: acho que os sonhos extravasam os limites da realidade. Não por acaso cheguei até você, ou você até mim, dependendo de como se olha a questão.
Fato é que eu também espero ansiosamente por você. E tento aqui imaginar quem afinal é essa mulher por trás das palavras. E verdade seja dita, quando você some eu tenho saudade. Sim.
A montagem no post acima eu dedico a você, que outrora disse que sentia falta de alguns desenhos, ilustrações. O desenho obviamente não é meu.
Bem, acho que é isso. Espero que suas leituras estejam sendo agradáveis.
Um beijo e até mais.
de pleno acordo! gostei da coisa de não ter uma paciência milenar... :D
achei muito bom esse texto, sem dúvida um dos seus melhores momentos.
como diria caio f., "a vida é uma ponte entre dois nadas e tenho pressa".
a questão não é a vida, como se pensa... é a aflição de não saber o que fazer com ela - quando o próprio viver já é coisa suficiente.
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