Às vezes não sei o que dizer. Sei apenas que algo deve ser dito e pronto. Nada além dessa necessidade tão premente que encobre um pântano qualquer. Na verdade, e sempre existem verdades presentes dentro de lugares como pântanos, eu queria algo capaz de explicar, ou quem sabe ao menos justificar de alguma forma mesmo que enganosa o motivo pelo qual os cabos de eletricidade que estavam presos a mim de repente se soltaram – embora esta mesma eletricidade ainda assim percorra cada parte dos meus mais simples impulsos. É difícil sempre apontar pontos de partida porque muitas vezes o que está no pântano quase nunca tem a ver como lodo, mas ao contrário disso, guarda um que de familiar. Tão familiar a ponto de querermos fazer com que isso nos passe despercebido. Mas uma hora o processo começa, assim mesmo, de maneira bem despretensiosa. A gente começar a drenar um pouco daquela lama e quando se dá conta percebe que nunca houve lama. Assim que eu me dei conta da eletricidade. Assim que eu senti os cabos. E foi exatamente dessa mesma forma, assim mesmo que eu senti o momento em que eles se soltaram de mim. Mas infelizmente não houve choque. E isso me intrigou: não houve nada como uma explosão ou faíscas. Uma dor indolor? Talvez. Se isso existir, pode ser que seja isso. Mas acho que não, a menos que a dor tenha me anestesiado, o que vive acontecendo por mais paradoxal que seja. De qualquer modo, ainda há energia circulando, como eu disse há pouco. E os fios ainda estão a meu alcance, embora hoje eu não tenha vontade de reconecta-los. Acho que já fizeram a sua parte. Porque quando se está preso a fios é sempre mais difícil de se locomover. E no fim das contas os fios são apenas uma maneira de se aprender a viver sem fios, a se preparar para o que vem depois, assim como aquelas rodinhas da bicicleta, ou as mãos dos nossos pais. Mesmo assim, viver sem fios, saber que se está apto a viver sem fios sempre nos deixa um pouco inseguros: será que agora é o momento certo de abdicar deles? É sempre a pergunta que vem à tona, porque nunca se sabe o que é certo, ou quando é o momento certo – e por isso a gente deixa passar a nossa frente os momentos certos. A gente percebe naquele instante de repente que a energia está além dos fios, que ela sempre esteve presente, e essa consciência por vezes nos deixa um pouco desconfortáveis. Enganados? Não, porque acostumar com a força da energia que nos envolve exige tempo e normalmente tendemos a querer queimar etapas. E quando queimamos etapas somos nós mesmos quem geralmente saímos queimados, por mais que demoremos a perceber isso. É difícil descrever isso tudo, assim como é difícil domar a energia, que começa na ilusão, cria a magia e termina na pele. Mas tem horas que dizer, mesmo que não se saiba o que dizer, ou que não se saiba onde isso tudo vai terminar, tem horas que dizer é tudo o que deve ser feito.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
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