sábado, 28 de junho de 2008

Cá, Fancy Claps, Lá...

Foi ao som da Fancy Claps que tudo começou. Sim: lá e cá. Lá, no hoje longínquo que foi resgatado quando cá seus primeiros acordes ecoaram em meus ouvidos. O fluxo começou assim mesmo:

- Até que essa música não é tão ruim...

Não falei nada na hora. Naquela hora de mágica de lá, que fique bem claro. Mas se fosse hoje, agora, cá eu não hesitaria em dizer:

- Não é tão ruim? Onde você está com a cabeça? Essa música é excelente, oras!

E cá, quando penso em lá onde não mais posso tocar, onde no fim das contas hoje percebo que nunca pude realmente tocar, um monstro vertiginoso cresce. E nesse ônibus, de onde falo, de onde abrem-se os caminhos, dentro dele, dentro de mim, dentro do mundo, uma cratera me engole totalmente. Não se trata de nada próximo da tal dor do parto, esse sentimento que agora cá, Fancy Claps novamente, fisgou meu ventre. De modo algum, porque se assim fosse não seria uma sensação tão ambígua quanto esta que tento descrever. Se fosse algo como a dor do parto certamente na hora eu teria feito questão de falar, quer dizer, de gritar o que não disse a respeito daquele comentário. Mas não. Isso (sim, ‘isso’ a que não sei exatamente chamar) que aconteceu agora, que no meio dessa viagem resolveu se entranhar em meu ventre tem aquele gostinho agridoce de nostalgia. Isso, a que não ouso precisar, embora tateie, foi exatamente o que naquela hora me fez ficar mudo ao ouvir você cometer tamanha insanidade contra a Fancy Claps. Na verdade foi isso, exatamente isso que lá, naquele momento, me fez concordar com você. É... Quanta atrocidade... Foi isso que sem mais nem menos no intervalo de uma canção veio, me consumiu, e me deixou exatamente como ocorreu entre dois momentos de mim mesmo atravessados por um entrave que até hoje eu não consegui entender. Nem lá, nem cá.

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