quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O aprendiz de foca.

A quem ama não é suficiente que o amem. Não é o amor a única coisa que quer. Quem ama é dragão ardente que gira em torno do amado. Precisa se manter no limite desse amor. Ficar sempre à espreita. Evitar que o amor que lhe entregam compita com o seu. O amado treme quando se olha nos olhos do amante e perceber a loucura. O amado é reflexo do amante. Quem ama tem o tempo como inimigo, o pensamento como carrasco, o sangue como rival. Quem ama não tem cúmplice. Tudo é obstáculo e intriga nele. Gostaria de comer o coração porque sabe que os corações mudam e ama o amor que sente. O amado dorme. Quem ama vigia. Não conhece o descanso. Odeia-se e quer morrer.

Kamel Nacif: Nunca peça o melhor de ninguém (não vá além da luz negra). O melhor de alguém pode ser o pior que existe nele.

Ela foi enviada para fazer-lhe companhia e agora sua solidão é maior. Ela devia ensiná-lo a caçar pássaros de fogo. Ela está mais só do que ele. Para jogar é preciso estabelecer regras, se essas regras são violadas não é possível jogar. Ela gosta de jogar. Ele inventa os jogos e não sabe jogá-los.

O sexo não tem pé nem cabeça. O amor só pés e cabeça. Entre a cabeça e os pés não há nada. O sexo é natural e o amor real. O sexo é a alma do corpo. Nos números naturais entre 1 e 2 não há nada. Nos reais entre 1 e 2 há um infinito. O natural é pouco denso, o real não pode ser atravessado.

Sou o homem invisível, meu pensamento não deslumbra os especialistas, não excita os amantes, não diverte as crianças. Minhas fantasias eróticas têm que ver com os caracóis. Desconheço as leis que regem o universo.

Sou o homem invisível, o boneco sem alma, o ineficaz. Não tenho dons, ninguém ouvirá minha escuta canção. Sou o espaço entre a cabeça e os pés. Meu pensamento é um pescoço quebrado.

(Técnicas de masturbação entre Batman e Robin, Efraim Medina Reyes)

Um comentário:

Jonathan disse...

vou reler esse livro.
tô começando a achar que é melhor que o ' era uma vez'..