Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(Poética, Manuel Bandeira)
terça-feira, 13 de outubro de 2009
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4 comentários:
--sabe qual o era o problema do homem de plástico?
--não. ele tinha problemas?
--todos os homens de plástico têm, eu acho. o desse era querer ser de carne e osso.
--era impossível?
--toda vez que ele tentava, vomitava.
--vomitava o quê? se ele era de plástico, não comia, portanto não podia vomitar.
-- não era bem um vômito. cuspia e arrotava palavrinhas.
"Bendito seja o homem que, não tendo nada para dizer, se abstém de o demonstrar através das suas palavras."
( George Eliot )
Uma sombra passou por aqui ...
salve Eliot!
pra ele uma salada de flores.
pra ti uma de baratas!
-- mira mamá, sin las manos!
...
-- mira mamá, sin los pies!
...
-- mira mamá... sin los dientes!
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