domingo, 20 de dezembro de 2009

Ciorando (11).

Consideremos o amor: há expansão mais nobre, arrebatamento menos suspeito? Seus estremecimentos competem com a música, rivalizam com as lágrimas da solidão e do êxtase: é o sublime, mas um sublime inseparável das vias urinárias: transportes vizinhos à excreção, céu das glândulas, santidade súbita dos orifícios... Basta um momento de atenção para que essa embriaguez, abalada, nos lance nas imundícies da fisiologia ou um instante de fadiga para constatar que tanto ardor só produz uma variedade de ranho. O estado de vigília altera o sabor dos nossos arroubos e transforma quem os sofre em um visionário pisoteando pretextos inefáveis. Não se pode amar e conhecer ao mesmo tempo sem que o amor padeça e expire sob o olhar do espírito. Investigue suas admirações, perscrute os beneficiários de seu culto e os que se aproveitam de seus abandonos: sob seus pensamentos mais desinteressados descobrirá o amor-próprio, o aguilhão da glória, a sede de domínio e de poder. Todos os pensadores são fracassados da ação que se vingam de seu fracasso por meio de conceitos. Nascidos aquém dos atos, os exaltam ou os menosprezam conforme aspirem ao reconhecimento dos homens ou à outra forma de glória: seu ódio; elevam indevidamente suas próprias deficiências, suas próprias misérias à categoria de leis, sua futilidade ao nível de princípios.

O pensamento é uma mentira como o amor e a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões, odores; e no final das contas a escolha está entre o que mente e o que fede.

(Breviário de Decomposição, Emil Cioran)

***

Que ninguém tente viver sem haver feito sua aprendizagem de vítima.

(Silogismos da Amargura, Emil Cioran)

4 comentários:

Anônimo disse...

"Não sinto nada por você, nem raiva, nem amizade, nem tristeza, tampouco angústia, ternura, amor ou fraternidade. O único sentimento que sinto é um grande ódio por mim mesmo."


'Que ninguém tente viver sem haver feito sua aprendizagem de vítima.'

vc gosta de entulho no seu kintal?
acho que não. nem eu.

abração
Van der Lei

Where I'm Anymore disse...

Bem, Renata, eu estou meio cansado, sabe? Então vamos lá para última cartada. Você sempre enrolou quanto ao meu telefonema, etc. Finalmente estou em posse de um telefone celular. E vou deixar o número com você aqui, agora:

(31) 8597-1685.

É isso.

Um abraço.

Anônimo disse...

cartada?

nem cartada, nem cartas!
só a gentileza de deixar livre o meu quintal. não me dá prazer nenhum entrar no seu. mais nada. cansaço? caramba, bota cansaço aí!


abs

Where I'm Anymore disse...

Ok, Renata, então um prazer lhe conhecer e bye bye! Não te prendo a nada. Não estou escrevendo as coisas para você. Escrevo as coisas aqui exclusivamente para mim. Se não há prazer, se não há carinho, ok, tudo bem. Acontece. Coloquei o telefone aí por um motivo mui simples: porque eu simplesmente sabia que você ia dar para trás. Uma coisa é ficar com essa palhaçada toda que você ficava dizendo do "eu te ligo mas você não atende"; outra é eu falar: então tá bom, toma o número aí. Porque sempre quando há alguma coisa concreta as pessoas fogem. Inclusive a senhorita. E logo a senhorita que se diz tão corajosa, etc, etc, etc. Ok, Renata, foi um prazer. Fica no seu quintal, fica no seu quadrado. Já sei que você é.

Um abraço e um feliz ano novo para a senhorita. Até!