Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
(Carlos Drummond de Andrade)
segunda-feira, 16 de março de 2009
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2 comentários:
quem sabe não sarou ontem?
sempre se pode ser otimista, hein?
bom retorno!
entrei aqui revendo
o post Tim Tim, um dos
muitos em que o diálogo acaba
qdo acaba a disposição de...
sinceridade?? pra quê, né? sem chance, vamos todos à farra,
à fúria, à festa, à feira!! ao fim de feira!
melhor a lâmina, o metal. Não seria? alguém que me é querido demais tb recorre ao expediente! 'afinal é um jeito de realmente SENTIR', me diz, às vezes, com um sorriso quase infantil, que eu retribuo caladinha, muito caladinha.
Melhor o riso! ah, o riso
plástico, riso de hiena triste
dessas paragens de vidro, que andam a me botar totalmente enjoada, enjoada mesmo! mas sem lamentações, que já vou aprendendo o caminho da saída...
até uma hora dessas, kid!!
sorte com o verbo.
Joana Holandesa
Olá Renata! Quanto tempo, não?
Pois bem, realmente voltei a reativar o blog porque se a vida não mudou exatamente, ao menos a vontade de escrever, a necessidade ou mesmo a presença de novas histórias retornou. Não tão novas, é verdade, mas que pelo menos tenham alguns elementos interessantes.
Quanto a sarar é sempre uma espera. Aquela velha coisa do 'a gente se acostuma, mas não devia'. E realmente se acostumar com a ausência de sentido total do universo é a tarefa por excelencia da vida. Se tem uma música que simboliza isso tudo com precisão milimétrica, essa é a Pedro Pedreiro, do Chico. A gente espera, espera, espera por algo que não sabe, que se quer grandioso, bonito, mágico e a espera nos ultrapassa, cansa, leva ao conformismo. Ok, normal.
Sobre o 'Tim Tim', realmente é um texto que eu, agora distanciado, acho muito bonito. Nem sei ao certo como eu o descobri. Mas na época havia uma circunstância pontual que dava sentido para isso. Aí quando se tem urgência, a coisa fica mais fácil de acontecer. Agora tenho apenas um marasmo, e um marasmo, inclusive, intencional. Tô querendo realmente aprender a viver num marasmo até mesmo por uma questão de comodidade.
Sinceridade é uma falácia. Ninguém quer mesmo. Não que seja errado não querer, mas o problema é a demagogia em torno que se cria a respeito. Aliás, esse pedido de sinceridade é mero ritual.
Sobre a questão da lâmina, ela apenas, de certa maneira, comprova que as pessoas preferem mais o gozo a partir de uma exacerbação do amor do que do prazer propriamente dito. Penso nisso também, nessa coisa do corte, mas muito mais como uma possibilidade que está ao alcance das minhas mãos do que propriamente como prática concreta. Algo equivalente ao suicídio. Ou como nos dizeres do Cioran: 'se eu não tivesse a idéia do suicídio já teria me suicidado há muito tempo'. Por aí. Um dia ainda tenho que escrever sobre esse tema por aqui.
O riso sempre é bonito, embora a melancolia seja profunda. E eu não sei ao certo o que é melhor: uma consciência hipertrofiada da condição humana, da nulidade da vida ou essa consciência de mingau do Dostoievski. Porque a consciência hipetrofiada, muitas vezes, atrofia os sentidos. Na verdade eu acho que ela sempre nasce de uma tentativa frustrada de se ter acesso aos sentidos. E que vai se atrofiando mais e mais a medida que vai se tentando - até porque as tentativas vão ficando mais e mais esparsas. Aquela coisa do 'mas onde é que há gente de verdade nesse mundo?' vai tomando conta. Ao passo que a consciência hipertrofiada, por outro lado, também se acha a forma menos pior de ser. Talvez se eu não tivesse a minha consciência desenvolvida nesse sentido e pudesse optar, eu optaria pelo caminho mais fácil hoje em dia. Pensar menos, agir mais. Construir teorias é sempre uma tentativa de tapar um buraco de não conseguir ser um homem da ação, como diz mais uma vez meu novo 'herói-guru-oficial' Emil Cioran. Aliás, esses dias me veio algo que talvez fosse legal tentar criar uma tese a respeito: relacionar o pensamento do Cioran ao Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. É incrivel como tem tudo a ver. Assim: o Cioran é um Alvaro de Campos que desejaria um Alberto Caeiro. E o mais legal: assim como o Alberto Caeiro ele faz uma filosfia contra a linguagem a partir da linguagem. Ele pensa para questionar o pensar. Interessante.
Por enquanto, acho que é isso, Joana Holandesa. Espero que a senhorita esteja bem! Um beijo e até mais!
PS: O verbo é sempre o princípio e o fim.
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