quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Faz (muito) sentido.

Ser amado por alguém é perceber o quanto eles partilham das mesmas necessidades dependentes da resolução do que nos atraiu a eles em primeiro lugar. Não amaríamos se não houvesse carência dentro de nós, mas por paradoxo, somos ofendidos por uma carência semelhante no outro. Esperando encontrar a resposta, descobrimos apenas a duplicata de nosso próprio problema. Percebemos o quanto eles também necessitam descobrir um ídolo, vemos que o Amro não foge à nossa sensação indefesa, e somos, portanto, forçados a desistir da passividade infantil de nos escondermos por trás de uma admiração e veneração divinas para assumir a responsabilidade de carregar e ser carregado.

Albert Camus sugeriu que nos apaixonamos pelas pessoas porque, do lado de fora, elas parecem tão inteiras, inteiras tanto no físico quando coesas nas emoções, quando subjetivamente nos sentimos tão dispersos e confusos. Por falta de uma narrativa coerente, uma personalidade estável, uma direção fixa, uma unidade temática, alucinamos essas qualidades no outro. Não haveria algo disso em minha relação com Chloe, isto é, do lado de fora (antes do contato epidérmico) ela parecia maravilhosamente controlada, dona de um caráter distinto e contínuo, ao passo que após o coito eu a via como vulnerável, prestes a entrar em colapso, dispersada, necessitada? Não era um caso de um eu nietzschiano, a mera soma de suas ações, ligadas e sexualmente atraídas pela idéia do eu essencial do Bispo Butler? Daí o eco da famosa frase “don’t fall aparto on me (tonight)” (“não desabe sobre mim (esta noite)”) de Bob Dylan depois que as lágrimas rolaram.

Existe uma longa e sombria tradição do pensamento ocidental que afirma que o amor pode, em última instância, apenas ser considerado um exercício marxista irrecíproco e admirador, em que o desejo luta com a impossibilidade de ver algum dia seu amor ser retribuído. Segundo essa visão, o amor é só uma direção, não um lugar, e se consome com a obtenção de seu objetivo, a posse (na cama ou em outro local) do amado. O conjunto da poesia dos trovadores provençais do século XII era baseado na demora do coito, o poeta repetindo seus pedidos a uma mulher que repetidamente declinava a oferta do homem desesperado. Quatro séculos depois, Montaigne teve a mesma idéia do que fazia o amor crescer quando declarou: “no amor, não existe nada senão um desejo frenético de que foge de nós” – uma visão compartilhada pela máxima de Anatole France: “não é costume se amar o que se tem”. Stendhal acreditava que o amor podia ser provocado apenas na base do medo de perder o amado; Denis de Rougemount argumentava, “a obstrução mais séria é a preferida, afinal de contas, É a mais adequada para intensificar a paixão; e Roland Barthes limitava o desejo a uma vontade de se ter o que era, por definição, inalcançável.

(Ensaios de Amor, Alain de Botton)

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