A linguagem interna era cada vez menos familiar a Chloe, ou melhor, ela fingia esquecê-la, para não admitir negação. Recusava a cumplicidade na linguagem, fazia o papel de estrangeira, começava a me ver contra a luz, e achava erros. Eu não conseguia entender por que as coisas que eu estava dizendo e que no passado haviam sido tão atraentes, eram agora subitamente tão irritantes. Eu não conseguia entender por que, eu não tendo mudando, deveria agora ser acusado de ser ofensivo de cem formas diferentes. Entrando em pânico, embarquei numa tentativa de retornar à época de ouro, perguntando a mim mesmo, “o que eu estava fazendo então que talvez não faça agora?”. Tornei-me um conformista desesperado com relação a um eu passado que havia sido o objeto de amor. O que eu não havia conseguido perceber era que o eu passado era o que agora se mostrava tão irritante, e que eu portanto não estava fazendo nada senão acelerando o processo de dissolução.
***
Eu me tornei irritante, alguém que transcendeu a preocupação pela reciprocidade. Em comprava livros pra ela, levava os casacos dela para lavar a seco, pagava os jantares, sugeria que fizéssemos uma viagem a Paris no natal para comemorarmos nosso aniversário. Mas a humilhação podia ser o único resultado de amar contra todas as evidências. Ela podia ficar de cara amarrada, gritar comigo, me ignorar, me irritar, me tapear, me bater, me chutar e eu, mesmo assim, não reagia – e por isso ficava mais irritante.
***
Ao final de uma refeição que eu havia passado duas horas preparando (em grande parte envolvido por uma discussão sobre a história dos Bálcãs), peguei as mãos de Chloe e disse a ela:
- Eu só queria dizer, e sei que parece sentimental, que por mais que briguemos e tudo o mais, eu ainda gosto de você de verdade, e quero que as coisas dêem certo entre nós. Você significa tudo para mim, você sabe disso.
Chloe (que sempre lera mais livros de psicanálise do que romances) olhou para mim com suspeitas e replicou:
- Escute, é gentil da sua parte dizer isso, mas isso me preocupa; você precisa parar de me transformar em seu ego ideal.
***
As coisas haviam se reduzido a um cenário tragicômico: de um lado, o homem identificando a mulher como um anjo, do outro, o anjo identificando o amor como algo quase patológico.
(Ensaios de Amor, Alain de Botton)
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Eu me tornei irritante, alguém que transcendeu a preocupação pela reciprocidade. Em comprava livros pra ela, levava os casacos dela para lavar a seco, pagava os jantares, sugeria que fizéssemos uma viagem a Paris no natal para comemorarmos nosso aniversário. Mas a humilhação podia ser o único resultado de amar contra todas as evidências. Ela podia ficar de cara amarrada, gritar comigo, me ignorar, me irritar, me tapear, me bater, me chutar e eu, mesmo assim, não reagia – e por isso ficava mais irritante.
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Ao final de uma refeição que eu havia passado duas horas preparando (em grande parte envolvido por uma discussão sobre a história dos Bálcãs), peguei as mãos de Chloe e disse a ela:
- Eu só queria dizer, e sei que parece sentimental, que por mais que briguemos e tudo o mais, eu ainda gosto de você de verdade, e quero que as coisas dêem certo entre nós. Você significa tudo para mim, você sabe disso.
Chloe (que sempre lera mais livros de psicanálise do que romances) olhou para mim com suspeitas e replicou:
- Escute, é gentil da sua parte dizer isso, mas isso me preocupa; você precisa parar de me transformar em seu ego ideal.
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As coisas haviam se reduzido a um cenário tragicômico: de um lado, o homem identificando a mulher como um anjo, do outro, o anjo identificando o amor como algo quase patológico.
(Ensaios de Amor, Alain de Botton)
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