- O ouro existe... é preciso encontrá-lo, nada mais. Você devia alegrar-se de que tudo esteja se organizando para ir buscá-lo. Ou você acha que esses animais se moverão se não forem puxados pelas mentiras extraordinárias? Ah, o quanto tenho pensando! Nisto se estriba o importante da teoria do Astrólogo: os homens só são sacudidos pelas mentiras. Ele dá ao falso a consistência do verdadeiro; pessoas que jamais teriam caminhado para alcançar algo, gente desfeita por todas as desilusões, ressuscitam na virtude de suas mentiras. Você quer, por acaso, algo maior? Veja que, na realidade, ocorre o mesmo, e ninguém o condena. Sim, todas as coisas são aparências... dê-se conta... não há homem que não admita as pequenas e estúpidas mentiras que regem o funcionamento de nossa sociedade. Qual é o pecado do Astrólogo? Substituir uma mentira insignificante por uma mentira eloqüente, enorme, transcendental. O Astrólogo, com suas falsidades, não parece um homem extraordinário, e não o é... e o é; o é... porque não tira proveito pessoal de suas mentiras, e não é porque ele não faz outra coisa senão aplicar um velho princípio posto em prática por todos os vigaristas e reorganizadores da humanidade. Se algum dia for escrita a história desse homem, os que a lerem e tiverem um pouco de sangue frio dirão: era grande, porque para chegar a concretizar seus ideais utilizava os meios ao alcance de qualquer charlatão. E o que a nós parece novelesco, e inquietante, não é nada mais do que angústia dos espíritos débeis e medíocres, que só crêem no êxito quando os meios para alcançá-lo são complicados, misteriosos, e não simples. E, no entanto, você devia saber que os grandes atos são simples, como o prova o ovo de Colombo.
- A verdade da mentira?
- Isso mesmo. O que há é que nos falta a coragem para grandes empreendimentos, Imaginamos que a administração de um Estado é mais complicada que a de uma casa modesta, e pomos nos fatos um excesso de novelesco, de romanticismo idiota.
(Os Sete Loucos, Roberto Arlt)
- A verdade da mentira?
- Isso mesmo. O que há é que nos falta a coragem para grandes empreendimentos, Imaginamos que a administração de um Estado é mais complicada que a de uma casa modesta, e pomos nos fatos um excesso de novelesco, de romanticismo idiota.
(Os Sete Loucos, Roberto Arlt)