Basta dizer que sou Juan Pablo Castel, o pinto que matou María Iribarne; suponho que todos ainda se recordam do processo, o que dispensa maiores explicações sobre a minha pessoa. Embora nem o Diabo saiba o que e por que a gente deve recordar. Na realidade, sempre achei que não existe memória coletiva, o que talvez seja uma forma de defesa da espécie humana. A frase “Todo o tepo passado foi melhor” não indica que antes sucederam coisas menos ruins, mas apenas que – felizmente – as esquecemos. Logo, semelhante frasenão tem validade universal; eu, por exemplo, caracterizo-me por recordar preferentemente os acontecimentos nefastos, e assim quase poderia dizer que “todo o tempo passado foi pior”, apesar de que o presente me parece tão horrível quanto o passado; lembro-me de tantas calamidades, de tantos rostos cincos e cruéis, de tantas más ações, que a memória é para mim como uma temerosa luz que alumia um sórdido museu de vergonhas.
(O Túnel, Ernesto Sábato)
(O Túnel, Ernesto Sábato)
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