sexta-feira, 11 de julho de 2008

Trilha sonora...

Cena final. Os primeiros acordes começam. O piano é conduzido enquanto uma guitarra levemente distorcida aumenta a tensão. O filme termina. A história começa. Xilofones...

Depois desse primeiro momento, olhar para trás, perceber o impacto do que acabou de terminar (ou de começar) é extremamente extenuante. Ainda sentado numa das poltronas daquele velho cinema do ‘dia-a-dia’, algumas cenas ainda insistem em ficar martelando dentro da cabeça. O exercício de organiza-las é sempre um vir a ser que não se conclui jamais por completo: parece que retiraram da edição final momentos preciosos que explicariam melhor a trama. Completar essas lacunas não é portanto tarefa das mais simples. Encontrar as trilhas sonoras mais improváveis, os caminhos obscuros, as locações ausentes, os atores mais imperfeitos, a iluminação inadequada, os silêncios imprecisos.

- Será que aqui se encaixaria melhor uma lágrima ou um sorriso? Porque o sorriso de hoje será a lágrima do amanhã e na condição de roteirista eu não saberia dizer o que é mais justo de se mostrar. Escolher é ocultar, cortar, percorrer apenas um caminho.

- Onde começa a história? Onde termina? De que maneira isso acontece? Será que ela realmente termina em algum momento? Como fazer com que isso não soe clichê? Ou talvez, como usar os clichês de maneira que tudo pareça autêntico? Porque as situações da vida são sempre passíveis de se encaixarem em algumas fôrmas.

E quando parece que finalmente você consegue alcançar o ponto, construir uma obra-prima, de repente, vem o presente e te desmente.

- Não foi bem assim...

E então eu me pergunto: Afinal de contas, onde eu vivo? Na ‘realidade ficcionalizada’ ou na ‘ficção da realidade’? Pena que dicotomias são sempre insuficientes para nos localizarmos... Mas isso realmente importa? Sim e não.

Enquanto isso as histórias se entrecruzam indefinidamente, com novos velhos personagens criando mais lacunas para explicar as antigas. Buracos tapando buracos. Ou seja: soluções. Provisórias, mas ainda soluções. E em cada segundo um novo final começa, enquanto um novo começo termina. Ensaio contínuo. Mais créditos e descréditos. Lágrimas de sorriso, sorrisos de lágrima embalados pela trilha sonora do momento.

2 comentários:

Anônimo disse...

zzzzzzzzzzzzzzzz....

Anônimo disse...

que bonito...
você adora essa palavra, dicotomia. na prática pelo visto também.

beijos :)