segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Coisa Mais Linda do Mundo.

Na ânsia de entender a magnitude da Thais em minha vida, acabei justamente por negligenciar uma dimensão extremamente importante: a própria Thais. Talvez vocês que acompanhem este blog desde seu post inicial possam, com alguma razão, argumentar: ‘Como assim? Você o tempo todo só fala dela’. Sim e não, eu responderia. Porque a grande verdade (dentre as grandes coisas a minha grande mania de falar grande) é que até hoje eu construí um perfil psicológico dela, mas em nenhum momento lhes ofereci uma dimensão concreta a despeito da ‘dita cuja’. Por mais que vez por outra tenha prometido ou ensaiado, nunca falei de como a Thais conseguiu me atrair tamanha atenção. Dito de forma direta, nunca falei da Beleza da Thais.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.


Essas estrofes pertencem ao poema Madrigal Melancólico do genial Manuel Bandeira e apontam as bases do que eu compreendo pela idéia de Beleza. Invariavelmente acabo me pegando pensando na beleza, seja de forma mais geral, seja de maneira pontual centrada na figura da Thais.

Beleza. Onde está a beleza? Onde começa e onde termina a beleza? Qual o impacto da beleza? Pensar na Thais, invariavelmente me faz levantar essas dentre muitas questões. Lembro perfeitamente da primeira vez que vi uma imagem da Thais. Uma foto totalmente ambígua. Não soube definir com precisão o que achei dela na hora. A única coisa que me passou pela cabeça foi a de que aquela fotografia em preto e branco com um rosto fechado e aberto ao mesmo tempo era forte. Isso mesmo: forte. Foi como se eu jogasse uma moeda para cima e ela caísse em pé: nem cara, nem coroa. Ou melhor: cara e coroa. Ou mais simples ainda: uma moeda. Só que nesse mesmo dia a beleza da Thais se manifestava: uma menina extremamente interessante. Seis de janeiro. Fui dormir com ela na cabeça tentando ligar a ‘rudeza singela’ da foto com as palavras que ela me dizia. Sim, havia uma rudeza que não era completa, que era singela. Havia ali o ponto crucial da beleza da Thais em formação: o paradoxo, a perplexidade. E beleza para mim não está diretamente ligado com o ‘mais belo’, com os padrões de beleza vigentes na sociedade, mas sim como mais estranho, com aquilo que me deixa absorto, fora de mim. Beleza é o que me choca e me destrói, o que me faz perder o chão e a respiração, o que me deixa instigado. A beleza é justamente o enigma, o singular e, para provocar, o exótico. Só que isso diz de algo que atravessa o estético. É como se fosse uma simbiose entre vários elementos em que um reforçasse o outro mutuamente. A beleza, na minha opinião, é um processo que ganha materialidade física enquanto manifestação estética, mas que é anterior a isso.

Não por acaso, um belo dia a Thais modifica a fotografia do perfil do Orkut dela. No instante que eu me dei por tal mudança, a beleza se manifestou em mim. Não me contive: bradei aos quatro cantos o quanto ela me fascinava. Só que o que eu enxergava não se limitava ao campo instaurado pela fotografia. Era produto de identificação com toda aquela contradição de residia dentro daquele corpo que, até aquele presente momento, eu sequer sabia que veria pessoalmente algum dia. Aquela menina inteligente, porém retraída, aos poucos se soltava, se mostrava, ficava mais bonita. A cada dia alguma nuance, algum contorno ficava mais claro. Despretensiosamente. Não havia nada calculado, nenhuma expectativa explícita. Ao passo que minha admiração não se continha mais. A cada nova fotografia, a intensidade aumentava porque aumentava o amor. Isso mesmo: um amor que eu nem senti, mas que era gostoso por ser imperceptível. A moeda havia caído: era linda. Ou talvez era a moeda ainda em pé: era singular.

Foi apenas em um terceiro momento que finalmente a conheci pessoalmente. Ali já havia expectativa, decerto. Fotos são fotos e muitas vezes elas nos traem. Foi quando ela cruzou a porta. A coisa mais linda do mundo. Não consegui parar de olhar; não consegui parar de prestar atenção. Só que fiquei contido, talvez mesmo por conta de ter ficado sem reação. Tudo nela exalava a beleza mais destrutiva, mais assimétrica – por mais simétrica que ela fosse. Primeiro, as palavras, a voz. Em segundo lugar, as unhas roídas revelando toda a insegurança de alguém que queria se mostrar segura. Ainda nessa leva, lembro da sobrancelha pintada. Muita gente não gosta, mas para mim era simplesmente perfeito aquele traço. As bochechas abriam caminho para o sorriso mais bonito que eu já vi na vida. Não se tratava de um sorriso qualquer: tinha como trunfo a avassaladora timidez de seu olhar (lembro ainda que num futuro reencontro a cena se repetiu e ao tecer um comentário sobre essa postura, a Thais disse ‘até agora eu não fiz isso de novo’ sem sequer se dar conta de que toda a expressão que fizera até aquele momento residia justamente naquele sorriso, desviando o olhar). O cabelo escarlate era um charme a parte – mesmo charme daquele queixo repartido. E até os óculos – acessório que eu geralmente não gosto - ficaram maravilhosos. A cara dela era larga. Mentira. Era laaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarga. Era rude, forte. Ao mesmo tempo havia uma meninice escondida. Havia a singeleza, a simplicidade. É difícil conceber a Thais fora de um paradoxo. E é justamente nessa imprecisão de delimitação que está a beleza dela. Porque ao mesmo tempo que é uma beleza intransigente, segura de si, por outro lado, é algo inseguro, incipiente. ‘Mas e a minha barriga?’, ela disse. E eu olhava aquela barriga. E olhava de novo. E dava vontade de brigar com ela: para de bobeira, Thais! Eu só olhava. Alias, não conseguia para de olhar. A imperfeição dela era a própria perfeição – o que talvez ela até então não tenha percebido ainda.

Só que não era apenas isso. Não era estético puramente. Não era tão palpável ou visível assim – ou talvez facilmente traduzível. O jeito. Sim, o jeito da Thais. O que me deixava bobo era o jeito da Thais. A maneira como ela se portava, como falava, como dava aquelas risadas tão gostosas, como falava sobre coisas sérias, como tangenciava assuntos que lhe eram importantes, como ficava em silêncio olhando para o nada, parada. A beleza estava nela, por fora e por dentro, e pairava sobre mim; estava também em mim. Porque a beleza contagia: nos faz sentir mais bonitos.

Ainda por esses dias voltamos a tocar no assunto da beleza. ‘Não entendo por que tu me acha a coisa mais linda do mundo’; ‘Eu não sou a coisa mais linda do mundo’; ‘Eu me acho normal, não linda’; ‘Eu sou mais bonita que a Mulher-Samambaia HAHAHAHAHA (reforçando o tom irônico). É justamente em frases como essas que o Bandeira revela sua sabedoria: a beleza é um conceito triste porque frágil e incerto. Eu olho para um foto qualquer dela. Menos do que isso: eu penso em algum fragmento fugidio dela. E vejo ali beleza em doses cavalares. E vejo diante de meus olhos A Coisa Mais Linda do Mundo, porque a coisa mais linda do mundo é a vida dela.

Um corpo que continha em si mais do que um corpo propriamente dito. Talvez seja por isso que ela tenha medo do espelho - porque ele é incapaz de mostrar à Thais quem de fato ela realmente 'está'. Pode parecer uma idéia absurda, mas que na verdade (não) é.

PS: Obrigado pelas palavras Wado.

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